Um tema recorrente na filmografia de Ang Lee é a repressão – seja ela da sexualidade, em “O Segredo de Brokeback Mountain”, de emoções básicas do ser humano, como a raiva, tratada em “Hulk”, ou do mero descontentamento com a vida familiar, como visto em “Tempestade de Gelo”. Em “Desejo e Perigo”, a repressão surge na política.
Não apenas por o filme ser situado durante a Segunda Guerra Mundial, na Xangai ocupada pelos japoneses, onde o Sr. Yee, oficial vivido por Tony Leung, age com autoritarismo, torturando e executando aqueles que se opõem ao regime instalado. Na verdade, a política está principalmente no jogo que se estabelece entre o militar e a jovem Mak (Tang Wei), representante de um grupo da resistência (o que cria um interessante paralelo com o ótimo "A Espiã", de Paul Verhoeven).
O que mais chama a atenção é a relação de poder entre eles: o oficial exerce a dominação pela violência, enquanto a moça utiliza a sedução para se impor. É admirável a maneira como Ang Lee propõe a inversão de forças, quando observamos, primeiro, o gosto que Mak toma pelo poder que descobre ser capaz de exercer e, segundo, o ciclo que se fecha do primeiro ao último contato íntimo do casal.
As cenas tórridas de sexo não são gratuitas, já que historicamente Lee é um cineasta que jamais é explícito sem motivo. Em “Desejo e Perigo”, não apenas o sexo é usado como elemento narrativo (notável como a câmera mostra a nudez de Tang Wei pela primeira vez, do teto do quarto, e mais adiante, quase colada ao corpo da atriz), mas também uma cena de extrema violência.
Até tal cena acontecer, o filme corre de maneira muito contida, sem excessos. Quando a sequência de assassinato surge, o efeito é dramático (num filme de Quentin Tarantino, o impacto não seria o mesmo). E ela também representa uma forma de libertação - dramatúrgica e narrativa. Já mais adiante no filme, quando mostrar a morte não é necessário, Lee opta com inteligência por desviar a lente da câmera para cima.
É nessa forma que “Desejo e Perigo” se desenvolve, prendendo a atenção e surpreendendo o espectador em uma história de espionagem que se converte em um thriller erótico elegante, onde a luxúria indubitavelmente leva ao risco, como o título do filme preconiza.
Não apenas por o filme ser situado durante a Segunda Guerra Mundial, na Xangai ocupada pelos japoneses, onde o Sr. Yee, oficial vivido por Tony Leung, age com autoritarismo, torturando e executando aqueles que se opõem ao regime instalado. Na verdade, a política está principalmente no jogo que se estabelece entre o militar e a jovem Mak (Tang Wei), representante de um grupo da resistência (o que cria um interessante paralelo com o ótimo "A Espiã", de Paul Verhoeven).
O que mais chama a atenção é a relação de poder entre eles: o oficial exerce a dominação pela violência, enquanto a moça utiliza a sedução para se impor. É admirável a maneira como Ang Lee propõe a inversão de forças, quando observamos, primeiro, o gosto que Mak toma pelo poder que descobre ser capaz de exercer e, segundo, o ciclo que se fecha do primeiro ao último contato íntimo do casal.
As cenas tórridas de sexo não são gratuitas, já que historicamente Lee é um cineasta que jamais é explícito sem motivo. Em “Desejo e Perigo”, não apenas o sexo é usado como elemento narrativo (notável como a câmera mostra a nudez de Tang Wei pela primeira vez, do teto do quarto, e mais adiante, quase colada ao corpo da atriz), mas também uma cena de extrema violência.
Até tal cena acontecer, o filme corre de maneira muito contida, sem excessos. Quando a sequência de assassinato surge, o efeito é dramático (num filme de Quentin Tarantino, o impacto não seria o mesmo). E ela também representa uma forma de libertação - dramatúrgica e narrativa. Já mais adiante no filme, quando mostrar a morte não é necessário, Lee opta com inteligência por desviar a lente da câmera para cima.
É nessa forma que “Desejo e Perigo” se desenvolve, prendendo a atenção e surpreendendo o espectador em uma história de espionagem que se converte em um thriller erótico elegante, onde a luxúria indubitavelmente leva ao risco, como o título do filme preconiza.
nota: 8/10 -- veja no cinema e compre o DVD
Desejo e Perigo (Se, jie ou Lust, Caution, 2007, Taiwan/China/Hong Kong/EUA)
direção: Ang Lee; roteiro: James Schamus, Hui-Ling Wang; fotografia: Rodrigo Prieto; montagem: Tim Squyres; música: Alexandre Desplat; produção: Ang Lee, William Kong; com: Tony Leung, Tang Wei, Joan Chen, Wang Lee-Hom, Tou Chung Hua, Chu Chih-ying, Kao Ying-hsien, Ko Yue-Lin, Yuen Johnson; estúdio: Haishang Films, Focus Features, River Road Entertainment; distribuição: Europa Filmes. 157 min
direção: Ang Lee; roteiro: James Schamus, Hui-Ling Wang; fotografia: Rodrigo Prieto; montagem: Tim Squyres; música: Alexandre Desplat; produção: Ang Lee, William Kong; com: Tony Leung, Tang Wei, Joan Chen, Wang Lee-Hom, Tou Chung Hua, Chu Chih-ying, Kao Ying-hsien, Ko Yue-Lin, Yuen Johnson; estúdio: Haishang Films, Focus Features, River Road Entertainment; distribuição: Europa Filmes. 157 min
3 comentários:
Eu adorei esse filme! A narrativa que leva seu tempo certo, a apreciação de cada momento, a sutileza, a contemplação. Coisas tão raras de se encontrar no cinema hoje em dia (assim como na vida).
Um filme belíssimo, um dos melhores que vi no cinema esse ano.
Tecnicamente, outro grande feito. Fotografia e trilha sonora belíssimos. A trilha, aliás, de Alexandre Desplat, tem na faixa Dinner Waltz (em duas versões) um dos grandes momentos da música para cinema, na minha opinião.
Belíssimo filme! É uma pena que tenha demorado tanto pra entrar em cartaz, mas a espera valeu a pena.
Concordo, belíssimo filme. A desopressão e ao mesmo tempo a fragilidade de um símbolo do poder político que se torna refém de seu próprio desejo sexual...Há com isso uma certa inversão de poder, quase inimaginável mas, que tem seus limites, assim como sexo e até amor. Mais uma vez Lee está por trás de um filme que ajuda a desfazer e refazer mistérios e tormentos da vida humana. O melhor Lee dos últimos anos, na minha opinião.
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