“Cabeça a Prêmio” é um filme policial bucólico. O interesse não está na violência, nem nos mistérios que envolvem o enredo ou mesmo na sua possível conclusão. O filme está muito mais inclinado a se aproximar dos sentimentos evocados nos personagens pelas situações propostas. É aí que reside a verdadeira investigação.
Bucólico - que quer dizer “campestre”, já que a história é situada no interior do Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia - também implica em simplicidade, marca desta imponente estreia do ator Marco Ricca na direção. Provavelmente inspirado por suas colaborações com Beto Brant em “Crime Delicado” e “O Invasor”, Ricca se junta ao time dos cineastas que acreditam que quanto menos mexer a câmera, melhor. Seus planos são precisos, não tão rigorosos, mas feitos com calma, dando tempo para a cena acontecer. São efetivamente planos. De certa forma, remete ao cinema dos irmãos Coen, por mais que não haja uma estética grandiloqüente na direção de Ricca. Ele é mais contido, digamos, mas consegue, como os Coen, adaptar a narrativa ao meio ambiente. O filme passa a fazer parte daquele lugar.
Da mesma forma, Ricca leva seus atores a terem intimidade com seus papéis. Os rostos ali são conhecidos de qualquer um: Alice Braga, Eduardo Moscovis, Cássio Gabus Mendes, Fúlvio Stefanini, Otávio Muller. Mas a qualidade da atuação está um nível acima do que vemos esses atores fazerem na TV (exceto Alice Braga, que ainda não cedeu às novelas). É atuação de cinema. Tem aquela coisa mais natural de encarar o set como a sala de casa, mesmo nos papéis mais expansivos – caso de Gabus Mendes, que serve como alívio cômico em mais de duas ou três ocasiões, e Stefanini, nos picos de raiva. O uruguaio Daniel Hendler (“Whisky”, “Abraço Partido”, “As Leis de Família”) se sente em casa, por já estar acostumado com esse tipo de direção - onde podemos perceber novamente a influência de Beto Brant.
Ricca assina o roteiro com Felipe Braga, estreante, e Marçal Aquino, outro colaborador frequente de Brant e autor do livro homônimo. E o trio é habilidoso ao trabalhar as subtramas sem fazer com que elas apenas se cruzem, mas convirjam para um mesmo clímax. E o que de melhor se tira disso é a experiência de compreender o drama individual de cada uma daquelas pessoas - a aflição, o tesão, o constrangimento, a decepção, a revolta que elas vivenciam - sem que para isso seja preciso dizer qual é exatamente o negócio ilícito praticado pelos dois irmãos. Da mesma forma, não interessa (ao filme e nem deveria interessar ao espectador) saber se determinado personagem apertou ou não apertou o gatilho: o que realmente importa é que aquela situação existe. Se a gota de água vai ou não cair, é consequência.
Cabeça a Prêmio (2009, Brasil)
direção: Marco Ricca; roteiro: Marco Ricca, Felipe Braga, Marçal Aquino (baseado no livro de Marçal Aquino); fotografia: José Roberto Eliezer; montagem: Manga Campion; música: Eduardo Queiroz; produção: Paulo Roberto Schmidt, Marco Ricca; com: Alice Braga, Daniel Hendler, Fúlvio Stefanini, Otávio Muller, Eduardo Moscovis, Cássio Gabus Mendes; estúdio: Academia de Filmes, Ricca Produções; distribuição: Europa Filmes. 104 min
Bucólico - que quer dizer “campestre”, já que a história é situada no interior do Mato Grosso do Sul, fronteira com a Bolívia - também implica em simplicidade, marca desta imponente estreia do ator Marco Ricca na direção. Provavelmente inspirado por suas colaborações com Beto Brant em “Crime Delicado” e “O Invasor”, Ricca se junta ao time dos cineastas que acreditam que quanto menos mexer a câmera, melhor. Seus planos são precisos, não tão rigorosos, mas feitos com calma, dando tempo para a cena acontecer. São efetivamente planos. De certa forma, remete ao cinema dos irmãos Coen, por mais que não haja uma estética grandiloqüente na direção de Ricca. Ele é mais contido, digamos, mas consegue, como os Coen, adaptar a narrativa ao meio ambiente. O filme passa a fazer parte daquele lugar.
Da mesma forma, Ricca leva seus atores a terem intimidade com seus papéis. Os rostos ali são conhecidos de qualquer um: Alice Braga, Eduardo Moscovis, Cássio Gabus Mendes, Fúlvio Stefanini, Otávio Muller. Mas a qualidade da atuação está um nível acima do que vemos esses atores fazerem na TV (exceto Alice Braga, que ainda não cedeu às novelas). É atuação de cinema. Tem aquela coisa mais natural de encarar o set como a sala de casa, mesmo nos papéis mais expansivos – caso de Gabus Mendes, que serve como alívio cômico em mais de duas ou três ocasiões, e Stefanini, nos picos de raiva. O uruguaio Daniel Hendler (“Whisky”, “Abraço Partido”, “As Leis de Família”) se sente em casa, por já estar acostumado com esse tipo de direção - onde podemos perceber novamente a influência de Beto Brant.
Ricca assina o roteiro com Felipe Braga, estreante, e Marçal Aquino, outro colaborador frequente de Brant e autor do livro homônimo. E o trio é habilidoso ao trabalhar as subtramas sem fazer com que elas apenas se cruzem, mas convirjam para um mesmo clímax. E o que de melhor se tira disso é a experiência de compreender o drama individual de cada uma daquelas pessoas - a aflição, o tesão, o constrangimento, a decepção, a revolta que elas vivenciam - sem que para isso seja preciso dizer qual é exatamente o negócio ilícito praticado pelos dois irmãos. Da mesma forma, não interessa (ao filme e nem deveria interessar ao espectador) saber se determinado personagem apertou ou não apertou o gatilho: o que realmente importa é que aquela situação existe. Se a gota de água vai ou não cair, é consequência.
Cabeça a Prêmio (2009, Brasil)
direção: Marco Ricca; roteiro: Marco Ricca, Felipe Braga, Marçal Aquino (baseado no livro de Marçal Aquino); fotografia: José Roberto Eliezer; montagem: Manga Campion; música: Eduardo Queiroz; produção: Paulo Roberto Schmidt, Marco Ricca; com: Alice Braga, Daniel Hendler, Fúlvio Stefanini, Otávio Muller, Eduardo Moscovis, Cássio Gabus Mendes; estúdio: Academia de Filmes, Ricca Produções; distribuição: Europa Filmes. 104 min
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