Invictus

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 09 fevereiro 2010



  • Em “Invictus”, Clint Eastwood levanta novamente a bandeira da tolerância, tema recorrente em vários de seus mais recentes filmes, como “Gran Torino” e “Menina de Ouro”. E mais uma vez ele fala através da figura de um homem experiente. O escopo é que se torna mais amplo aqui: o que ele faz numa vizinhança habitada por imigrantes ou numa academia de boxe, agora ele expande para um país inteiro.

    Esse país é a África do Sul no momento seguinte ao que Nelson Mandela é libertado da prisão para ser eleito presidente. O contexto histórico, aliás, é espertamente filmado por Eastwood com uma textura de imagem de arquivo, própria dos noticiários televisivos. Só que tudo é encenado com Morgan Freeman já no papel de Mandela, o que torna mais orgânica a bela transição da imagem de vídeo para os 35mm escopados que Eastwood compõe tão bem.

    Daí em diante, temos não um filme óbvio sobre racismo, mas um conto de superação e redenção construído na forma de um típico filme de esporte. “Típico” no sentido de “tradicional”, aspecto inerente a filmografia e persona de Eastwood. Ele usa aquele recorte da história da África de “Mandiba” (apelido pelo qual Mandela era conhecido entre seus companheiros e simpatizantes partidários) para falar mais uma vez de princípios, civilidade e compaixão.

    Em nenhum momento, Eastwood titubeia para correr o risco de soar moralista. Ver seus filmes se tornou algo próximo de ouvir conselhos numa boa conversa com nossos pais ou avós. E beneficiado pela história de superação do time de rugby da África do Sul, que era considerado o azarão do campeonato mundial de 1995, Eastwood nos emociona.

    Aliás, prova da eficiência do cineasta (como se precisasse de alguma) é fazer alguém que não dá a mínima para um esporte como o rugby torcer e gostar do jogo - em outras palavras, faz você se importar com o que vê. E não é necessário entender as regras do rugby para acompanhar o filme, já que Eastwood, dono de um poder de síntese sem igual, preocupa-se em resumir os principais aspectos do esporte em poucas cenas, sem com isso ser didático.

    Difícil encontrar defeitos em "Invictus". Aquele que seria mais fácil de apontar é o desfecho, todo filmado em câmera lenta, o que pode parecer grosseiro ou falta de acabamento. Mas toda a sequência capta muito bem a essência de um momento como aquele, em que cada segundo, cada movimento tem uma importância que parece ser capaz de fazer o tempo durar mais. A escolha do diretor é precisa e sintetiza perfeitamente a sensação que se tem de que a vibração emotiva que o filme carrega é bem mais acentuada e plana do que em qualquer outro trabalho de Eastwood. E é algo que pode incomodar tanto quanto pode envolver o espectador.

    Geralmente, não escrevo sobre atuações, mas vale destacar, por fim, as duas ótimas interpretações de Morgan Freeman e Matt Damon. São dois atores que possuem a habilidade de desaparecer dentro de seus personagens, afastando qualquer ligação com suas personalidades extra campo ou com outros papéis que já viveram. Você acredita que eles são quem interpretam. E Eastwood não comete nunca o erro de colocar rostos muito conhecidos em papéis secundários, já que isso quase sempre afasta o espectador do filme, pois não há tempo para desassociarmos o ator do personagem.

    nota: 8/10 -- veja no cinema e compre o DVD

    Invictus (2009, EUA)
    direção: Clint Eastwood; roteiro: Anthony Peckham (baseado no livro de John Carlin); fotografia: Tom Stern; montagem: Joel Cox, Gary Roach; música: Kyle Eastwood, Michael Stevens; produção: Clint Eastwood, Robert Lorenz, Lori McCreary, Mace Neufeld; com: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge, Patrick Mofokeng, Matt Stern, Julian Lewis Jones, Adjoa Andoh, Marguerite Wheatley, Leleti Khumalo, Patrick Lyster, Penny Downie, Sibongile Nojila, Bonnie Henna; estúdio: Warner Bros., Spyglass Entertainment, Revelations Entertainment, Mace Neufeld Productions, Malpaso Productions; distribuição: Warner Bros. 133 min

    3 comentários:

    Flávio disse...

    Um belo filme "feel good". Acho que desde Amelie Poulain eu não saía do cinema com o espírito tão em paz e feliz. Não deixa de simplificar um pouco a questão racial, mas o poder da mensagem edificante é tão maior que as falhas não incomodam, ainda mais ajudado pela forma envolvente como o filme é contado. Morgan Freeman finalmente deixou de ser Morgan Freeman, algo que vinha repetindo em vários de seus últimos filmes, e entrega uma belíssima construção de personagem, além da repetição de gestos, ele é uma alma de Mandela!

    Anônimo disse...

    Lendo a sua crítica e a do Pablo Villaça, é que comprovo mais uma vez como a arte (não importa qual) é subjetiva :). Vc achou um ótimo filme, já o Pablo achou bem fraco, abaixo da média.

    A diferença entre a obra-prima e a porcaria, reside no "olho" (ou quaisquer outros sentidos) de quem vê.
    : :) :)

    xlucas
    http://womni.blogspot.com

    Unknown disse...

    sem dúvidas, um filme fanstástico. o que esse filme nao me fez pensar eu realmente nao sei se refleti durante a semana. diretor e elenco estao de parabens.

     
    Copyright (c) 2010 Blogger templates by Bloggermint