Do Começo ao Fim

por
  • VITOR DRUMOND em
  • 03 dezembro 2009



  • No início de "Do Começo ao Fim", antes de o título aparecer, há uma cena de apresentação da família. Uma casa branca, clara, arejada. Louise Cardoso feliz, Fábio Assunção, os dois irmãos felizes. Júlia Lemmertz, a mãe das crianças, acaba de chegar. Ela abre os braços e seus filhos, com um sorriso estampado em cada um dos rostos, dão um forte abraço na mãe. Sequência, aliás, filmada em câmera lenta. O longa de Aluizio Abranches já começa a incomodar aí. É inevitável esperar que a marca de uma margarina surja no canto da tela. Mas, como se trata apenas dos minutos iniciais do filme, é possível deixar a sequência um pouco de lado. Afinal, ela deve servir como um contraponto à tempestade que está por vir: o relacionamento homossexual entre irmãos.

    Mas não. A sensação comercial de margarina perdura por todo o filme. E não apenas pela estética. Nada acontece em "Do Começo ao Fim". Nada. Conflitos não existem. O relacionamento entre os irmãos não é visto com estranheza por quase ninguém. A mãe e o pai de um deles (as crianças são filhos de pais diferentes) esboça uma pequena preocupação, mas logo passa. Os temas "incesto" ou "amor homossexual" não são tratados de nenhuma forma.

    Até aí, vamos relevar por um instante. Apesar de não corresponder com as expectativas criadas pelo trailer, pode ser que Aluisio Abranches não queria ter que obrigatoriamente tratar sobre tais temas, apenas falar do amor. O amor puro e simples. Mas nem deste tópico o diretor dá conta. Simplesmente não dá para acreditar neste amor, mesmo porque os donos dele são pessoas unidimensionais e sem profundidade. Quem é Francisco (Lucas Cotrim/João Gabriel)? Quem é Tomás (Gabriel Kaufman/Rafael Cardoso). O que eles querem? O que eles pensam? Quais são as características deles? E só um amar o outro e o outro amar o um? Como acreditar em um amor se não acreditamos em quem ama? A história de Francisco e Tomás não passa por nenhum tipo de conflito, e nem falo apenas dos conflitos que seriam naturais entre um casal de irmãos e o mundo à volta deles. Mas conflitos entre os próprios. O único, a viagem de um deles para Rússia, um problema que poderia ter saído de um capítulo sem inspiração de uma novela de Manoel Carlos, é resolvido em três cenas. Os pequenos conflitos consequentes deste são difíceis de engolir para um casal que se apaixonou no momento em que o mais novo abriu os olhos pela primeira vez na vida, e todos são solucionados em questão de minutos.

    E como "Do Começo ao Fim" é um filme sem conflitos é de se concluir que Abranches abraçou o tema que vendeu no trailer apenas pela ideia de ser polêmico; que quis fazer uma produção sobre um relacionamento incestuoso e homossexual só pelo fato de ser incestuoso e homossexual. Explico: como este amor não passa por nenhum tipo de obstáculo, parece que Abranches considerou suficiente para o público ver dois irmãos tirando a roupa em câmera lenta e sem tirar o olho um do outro (uma das piores cenas do longa, aliás). Que só o fato de eles serem irmãos e se amarem seria possível para carregar o filme, mesmo que não sofram nenhum tipo de preconceito e mesmo que o amor dos dois não passe por nenhum tipo de prova. Abranches estava enganado e ele já deveria ter atinado para a questão no roteiro. Fico até me perguntando, aliás, qual é o objetivo de se fazer um filme assim. Para que contar uma história se ela não tem nada para ser contada?

    São 90 e poucos minutos de um marasmo total e o elenco não ajuda muito. Os atores principais, tanto os mirins quanto os adultos, não têm muito o que fazer com papéis tão planos a não ser ligar o piloto automático e expressar suas falas artificiais de forma artificial. Fábio Assunção parece não acreditar em seu personagem. Louise Cardoso é sempre uma atriz interessante, mas seu papel não tem razão nenhuma de existir. A única pessoa que dá um pouco de sinceridade em um personagem que Abranches parece ter tido o mínimo de carinho para criar é Júlia Lemmertz. Aliás, se o filme tivesse tomado outro ponto de vista, o da mãe em relação aos filhos, poderia ter saído melhor.

    nota: 2/10 -- pura perda de tempo

    Do Começo ao Fim (2009, Brasil)
    direção: Aluisio Abranches; roteiro: Aluisio Abranches; fotografia: Ueli Steiger; montagem: Fábio S. Limma; produção: Aluisio Abranches, Fernando Libonati, Iker Monfort, Marco Nanini; com: Gabriel Kaufmann, Rafael Cardoso, Lucas Cotrin, João Gabriel Vasconcellos, Júlia Lemmertz, Fábio Assunção, Louise Cardoso, Jean Pierre Noher; estúdio: Lama Filmes, Pequena Central de Produções; distribuição: Downtown Filmes/RioFilme. 100 min

    6 comentários:

    Caio. disse...

    03/12 A-ha! A religião do novo filme de P.T. Anderson é a cientologia. Por isso o estúdio ainda não aprovou o roteiro, certo?


    Renato ,depois de ler essa noticia me deu um frio na espinha e agora estou com medo que o Paul Thomas Anderson seja assasinado ! , a gente ouve falar cada história sinistra sobre a cientoligia que acabem matando o diretor de Sangue Negro.

    De uma coisa eu tenho certeza , Tom Cruise irá impedir com todas as forças que esse filme seja rodado... Run To Europe Tommy Anderson !

    Tiago Lipka disse...

    Putz... uma pena, afinal o trailer prometia um bom filme.

    Marcelo Dominato disse...

    O texto tá ótimo!
    Uma pena o filme ser ruim.
    Daria um bom filme se fosse feito querendo algo mais do q mostrar dois irmãos q se amam.

    Preta. disse...

    Putz, você falou tudo. Eu estava atrás de uma crítica positiva ou negativa para poder expressar a minha revolta contra esse filme. Mas você já disse oq eu queria dizer: fraco, monótono, sem nenhum conflito, irreal e superficial. Todos saíram chocados do cinema, n vi uma conversa entre amigos q n fosse de desaprovação. De fato, uma perda de tempo e uma chateação.

    Anônimo disse...

    realmente o mundo esta no fim porque e totalmente contrario aos principios morais, civis e eticos o que esse filme mostra e tenta mostrar que isso é algo normal entre dois irmaos que se amam sem comentarios.

    VITOR DRUMOND disse...

    Só deixar claro, paulobigode45.

    Não acho o filme ruim pelo tema.

    É tudo uma questão de dramaturgia

     
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