Uma das frases mais polêmicas de Alfred Hitchcock é aquela em que o mestre fala que atores devem ser tratados como gado num set de filmagem, ou seja, eles devem fazer o que o diretor mandar. Eu geralmente concordo com essas palavras de Hitchock, pois penso que o diretor é o verdadeiro autor de um filme. É ele quem fornece sua visão e assina o trabalho, por mais que não faça tudo sozinho. É claro que existem atores excelentes e, sem eles, muitos filmes de autor poderiam fracassar. E existem também aqueles atores-autores, que atuam na frente e atrás da câmera. É o caso de – para citar alguns notáveis – Woody Allen, Clint Eastwood, Charles Chaplin e John Cassavetes.
No último dia 11 de novembro, o primeiro filme dirigido por Cassavetes, “Sombras”, completou 50 anos de lançamento. Considerado o pai dos filmes independentes, o longa-metragem foi rodado com pouquíssimos recursos, equipamento modesto e atores desconhecidos do público que tiveram liberdade para levar a seus personagens características próprias que não estavam no roteiro. A história sobre amor e preconceito na Nova York da era beatnik é embalada por uma trilha sonora de jazz, também criada livremente para o filme. Era plantada ali a semente de uma das obras mais distintas do cinema americano, uma que se baseia num realismo e numa independência que Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Roberto Rossellini e Vittorio De Sica tanto defenderam na Itália, assim como fizeram François Truffaut, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer e os enfants terribles da Nouvelle Vague. Realismo que fica claro na atuação improvisada captada pela lente de Cassavetes, graças, justamente, à independência não só conquistada pelo diretor, mas dada a cada membro do elenco.
No último dia 11 de novembro, o primeiro filme dirigido por Cassavetes, “Sombras”, completou 50 anos de lançamento. Considerado o pai dos filmes independentes, o longa-metragem foi rodado com pouquíssimos recursos, equipamento modesto e atores desconhecidos do público que tiveram liberdade para levar a seus personagens características próprias que não estavam no roteiro. A história sobre amor e preconceito na Nova York da era beatnik é embalada por uma trilha sonora de jazz, também criada livremente para o filme. Era plantada ali a semente de uma das obras mais distintas do cinema americano, uma que se baseia num realismo e numa independência que Michelangelo Antonioni, Luchino Visconti, Roberto Rossellini e Vittorio De Sica tanto defenderam na Itália, assim como fizeram François Truffaut, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer e os enfants terribles da Nouvelle Vague. Realismo que fica claro na atuação improvisada captada pela lente de Cassavetes, graças, justamente, à independência não só conquistada pelo diretor, mas dada a cada membro do elenco.
Cassavetes é um ator-autor. E é em 1977, com “Noite de Estreia”, que ele explicita de uma vez por todas seu pensamento sobre a autonomia do elenco em um filme. Neste trabalho, a esposa de Cassavetes na vida real, a magnífica Gena Rowlands, vive uma atriz alcoólatra que enfrenta problemas para fazer um papel que se mistura com sua própria vida, numa peça de teatro sobre envelhecimento. A direção de Cassavetes atinge, aqui, talvez o seu momento mais maduro, naquilo em que ele torna cada ângulo apropriado a cada cena. Não temos em “Noite de Estreia” a câmera errática de “Sombras”, “Maridos” ou “Minnie e Moskowitz” (muito menos a câmera bem comportada dos filmes de estúdio de Cassavetes, como “Minha Esperança é Você” ou mesmo “Glória”). A direção parece mais consciente do espaço cênico, aposta tanto nos close-ups quanto nos planos abertos, aproxima-se dos personagens quando estritamente necessário. É encaixado até mesmo um aspecto de suspense nas cenas que envolvem a jovem que assombra a protagonista. No ato final, o próprio Cassavetes contracena com Rowlands em cima do palco, num momento em que os dois, interpretando marido e mulher em crise, decidem deixar de lado o texto ensaiado e improvisar todo o desfecho da peça. A câmera fica na platéia, sem intervir, enquanto o diretor da peça (Ben Gazarra, velho companheiro de Cassavetes) nada faz, além de assistir a tudo aquilo. O público adora. E o último plano é aquela saudação enigmática por trás da coxia pelo sucesso de estupenda apresentação única. É praticamente como se Cassavetes fizesse do filme um manifesto a favor do ator, uma contraprova ao pensamento rígido de Hitchcock.
O mais impressionante é que, se os filmes de Cassavetes passam a idéia de serem improvisações (ele mesmo faz tal afirmação no fim de “Sombras”), na verdade sabe-se que o cineasta sempre foi muito meticuloso quanto a seguir o roteiro. O que acontecia é que os atores ajudavam a construir o filme e se sentiam plenamente à vontade, interpretando papéis com os quais eles se identificavam de alguma forma. Em outras palavras, nos filmes de Cassavetes você vê pessoas sendo pessoas, e não meros joguetes de texto. A partir do momento em que somos apresentados àqueles personagens, temos a clara sensação de que eles tiveram uma vida até o início do filme e que vão continuar vivendo após a última cena. Vale ressaltar, no entanto, que o cinema de Cassavetes exige paciência do espectador – não como obrigação, mas como virtude. Afinal, se o que ele nos propõe é acompanhar não um longa-metragem, mas um trecho de vida devemos estar dispostos não a assistir, mas a conviver com seus filmes.
Tanto “Sombras” quanto “Noite de Estréia” foram lançados em DVD no Brasil recentemente pela distribuidora Cinemax, junto com “A Morte de um Bookmaker Chinês”, “Uma Mulher Sob Influência” e a obra-prima “Faces”.
O mais impressionante é que, se os filmes de Cassavetes passam a idéia de serem improvisações (ele mesmo faz tal afirmação no fim de “Sombras”), na verdade sabe-se que o cineasta sempre foi muito meticuloso quanto a seguir o roteiro. O que acontecia é que os atores ajudavam a construir o filme e se sentiam plenamente à vontade, interpretando papéis com os quais eles se identificavam de alguma forma. Em outras palavras, nos filmes de Cassavetes você vê pessoas sendo pessoas, e não meros joguetes de texto. A partir do momento em que somos apresentados àqueles personagens, temos a clara sensação de que eles tiveram uma vida até o início do filme e que vão continuar vivendo após a última cena. Vale ressaltar, no entanto, que o cinema de Cassavetes exige paciência do espectador – não como obrigação, mas como virtude. Afinal, se o que ele nos propõe é acompanhar não um longa-metragem, mas um trecho de vida devemos estar dispostos não a assistir, mas a conviver com seus filmes.
Tanto “Sombras” quanto “Noite de Estréia” foram lançados em DVD no Brasil recentemente pela distribuidora Cinemax, junto com “A Morte de um Bookmaker Chinês”, “Uma Mulher Sob Influência” e a obra-prima “Faces”.
3 comentários:
O único filme que assisti de Cassavetes foi Amantes numa sessão aqui em Curitiba, e me deixou babando.
Estou ansioso para conhecer o resto da obra dele.
Abraço!
"Amantes" é genial mesmo. A hora que a Gena Rowlands vai no abrigo de animais me dá uma angústia do diabo. Pobres bichos! hehehe E o adeus do Cassavetes é triste demais. Pena que o filme não entrou no pacote de DVDs lançado por aqui. Obrigatório para qualquer coleção.
[]s!
Pois é, já estou correndo atrás da coleção! Valeu o/
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