Tá Chovendo Hambúrguer

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 03 outubro 2009



  • A Sony Pictures Animation tem seguido o caminho certo na busca por tirar da Pixar o monopólio da qualidade nas animações produzidas pelo cinema americano. Ao contrário da DreamWorks, que insiste num modelo de paródia e referências gratuitas a outros filmes em todas as suas produções, temos em “Tá Chovendo Hambúrguer” um trabalho que leva a marca da autenticidade, ainda que ela seja erguida sobre arquétipos facilmente identificáveis da ficção-científica. É um filme-desastre, mas, no lugar do tornado de “Twister”, está uma bela macarronada; ao invés dos meteoritos de “Armageddon” e “Impacto Profundo”, são almôndegas que rasgam o céu; sai a nave-mãe de “Independence Day”, entra a máquina que transforma água em qualquer tipo de comida.

    A engenhoca é inventada pelo garoto-cientista louco Flint Lockwood, que só deseja um mínimo de reconhecimento – seja do pai, que queria tê-lo como sócio em sua loja de pesca, seja da população de sua pequena cidade costeira, que atravessa uma crise econômica (não, nem pense em comentário sócio-político!). Após trocar a infância e a adolescência por livros de física quântica, ciência nuclear, engenharia química, fisiologia do zero etc., logo Flint viverá uma história de amor nerd com a “garota do tempo” Sam Sparks, que anseia por subir na hierarquia telejornalística. E nesse casal mais do que provável e adorável, “Tá Chovendo Hambúrguer” faz graça com cientistas e jornalistas.

    Se Flint e Sam agradam, os personagens secundários já não são tão bem aproveitados. O “Bebê” Brent, por exemplo, ganha uma importância exagerada, quando a gag com o comercial de TV já é suficiente. No lugar dele, poderia ter mais destaque no ato final o policial saltitante que implica com Flint. O cameraman/médico imigrante cumpre a função de “deus ex-machina”, mas suas piadas não convencem. Já outros personagens tem papéis adequados: o pai de Flint, com suas metáforas de pescador; o prefeito megalomaníaco e egocêntrico; e, claro, o macaquinho que leva no pescoço um “tradutor de falas” – aparelho que lembra bastante a coleira vista em “Up – Altas Aventuras”.

    Um outro problema de “Tá Chovendo Hambúrguer” é encontrar soluções fáceis para certos desafios que o próprio roteiro impõe ao filme. Por exemplo, o fim que levam os restos de comida que caem do céu. Além disso, outras questões passam batidas, como a obesidade – consequência óbvia do fenômeno que Flint provoca na cidade, mas que fica resumida ao tamanho da barriga do prefeito.

    Esses pequenos problemas não interferem muito no fator diversão, que é o que de melhor o filme tem a oferecer. E ele entretém os cinéfilos na forma como desconstrói, brincando, convenções da ficção-científica e dos filmes B, como os gritos e caretas dos personagens (algo que vimos também em "Monstros vs. Alienígenas" este ano) e o modo como eles olham para cima espantados, um atrás do outro, em takes que se empilham.

    Junto a isso está o visual bem desenhado, ainda que em traços simples, e não simplistas (o design do pai de Flint, com sua "monocelha", é um dos mais criativos). Atenção também para mais uma boa utilização do 3-D, sem recorrer aos truques gratuitos de “jogar” coisas na cara do espectador. Quando acontecem, esses momentos estão inseridos à ação da sequência, o que contribui para “pegar” o público se surpresa.

    Um detalhe também vale ser citado: logo no início, vemos que o tradicional crédito “um filme de” não leva o nome dos diretores iniciantes Phil Lord e Chris Miller. No lugar, aparece escrito “um filme de um monte de pessoas”. Um toque de humildade e reconhecimento, que certamente indica que o esforço coletivo de toda a equipe foi fundamental para o bom resultado obtido.

    Observação: infelizmente, só há cópias dubladas no Brasil e os distribuidores ainda não se deram ao trabalho de legendar as versões 3-D (quem sabe em 2010, quando o número de salas aumentar?). Uma pena, pois o elenco de vozes original é dos mais interessantes, trazendo Bill Hader como Flint, Anna Faris como Sam, Bruce Campbell como o prefeito e Mr. T (ele mesmo, de "Esquadrão Classe A") como o policial Earl.

    nota: 7/10 -- vale o ingresso

    Tá Chovendo Hambúrguer (Cloudy with a Chance of Meatballs, 2009, EUA)
    direção: Phil Lord, Chris Miller; roteiro: Phil Lord, Chris Miller (baseado no livro de Judi Barrett e Ron Barrett); design de produção: Justin Thompson; música: Mark Mothersbaugh; produção: Pam Marsden; com as vozes de: Bill Hader, Anna Faris, James Caan, Andy Samberg, Bruce Campbell, Mr. T, Bobb'e J. Thompson, Benjamin Bratt, Neil Patrick Harris, Al Roker, Lauren Graham, Will Forte; estúdio: Sony Pictures Animation; distribuição: Columbia Pictures. 90 min

    2 comentários:

    Liesl disse...

    Nós vimos a versão normal pq o Thomas ficou com medo de ver o furacão em 3D. Gostamos, não é um filme espetacular como Pixar mas foi bem legal.

    Fred Burle disse...

    Não tinha reparado nesses créditos iniciais, Renato. Isso é muito legal mesmo.
    Quanto a versões legendadas em 3D, neste ano teremos pelo menos um lançamento assim, Avatar, do James Cameron. Essa semana vi o trailer 3D legendado do filme. Promete.
    E Tá Chovendo Hambúrguer, mesmo com algumas dublagens ruins (do guarda e do macaco), é muito divertido.

    Abraço!

     
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