A Mulher Invísivel

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 05 junho 2009



  • Na natureza, quando ocorre um terremoto muito forte, outros tremores menores vêm em seguida. “A Mulher Invisível” é reflexo de um efeito parecido que ocorre na indústria cinematográfica: quando um filme faz muito sucesso, surgem outros que seguem o mesmo estilo ou usam os mesmos temas. É a regra do mercado. Aqui no Brasil, depois do estrondoso recorde de público de “Se Eu Fosse Você 2” este ano, provavelmente veremos aparecer outras comédias leves, de apelo popular e que usam um elemento sobrenatural no enredo. “A Mulher Invisível”, portanto, pode ser a primeira de uma série.

    O filme tem um conceito que poderia render uma boa história: o personagem de Selton Mello idealiza a mulher perfeita (Luana Piovanni) e não percebe que aquela que pode proporcionar um bom relacionamento é o tipo comum (Maria Manoella), que está ao seu alcance, logo na porta ao lado de seu apartamento.

    Claudio Torres, comandando seu terceiro longa, desenvolve o tema de forma satisfatória até certo ponto, chegando a escancarar a metáfora da “mulher invisível” – o que era desnecessário, mas se é um filme mais comercial, isso não é lá um grande problema. O que complica mesmo é que o filme se desdobra em um outro episódio quando tudo já parece estar resolvido. E aí começa uma embromação que parece servir apenas para criar novas situações engraçadas.

    O problema é que essas situações se esgotam rápido e nem mesmo o carisma de Selton Mello é capaz de segurá-las. Sim, o filme tem seus momentos e você certamente vai dar risadas. Mas é só isso? Não deveria haver uma preocupação maior em narrar uma boa história?

    A impressão que se tem aqui é que os três principais nomes do filme estão brincando de tiro ao alvo. Claudio Torres tenta fazer uma comédia romântica típica de Billy Wilder, com uma veia irmãos Farrelly, mas erra (e desta vez nem dá para botar a culpa no roteirista, porque foi o próprio Torres quem escreveu). Selton Mello tenta ser um Steve Martin em roupagem de Seth Rogen, mas erra (em vários momentos, ele parece pensar que para ser engraçado precisa gritar, mas só está sendo irritante). Só Luana Piovanni é quem acerta ao tentar fazer um tipo Marilyn Monroe: sedutora e engraçada, sem excessos.

    O melhor do filme é mesmo o elenco feminino. Além de Luana, temos Maria Manoella, que também é sedutora ao seu modo, e Fernanda Torres, que cumpre bem o papel da irmã preocupada, utilizando em favor da personagem seus tiques da época de Vani de "Os Normais".

    Eu sempre insisto nesta tecla: é de boas histórias que o cinema brasileiro precisa, se queremos que ele se torne comercialmente viável. Temos ótimos diretores, mas onde estão os ótimos roteiristas? Não adianta ficar esperando por novos “Se Eu Fosse Você 2”. Os filmes populares vão continuar surgindo, claro. Mas não precisamos ficar relegados ao convencionalismo da piada curta, do esquete televisivo que se encerra nele mesmo. “A Mulher Invisível” é cinema pipoca, mas, infelizmente, sem muito sabor.

    nota: 4/10 -- veja sem pressa

    A Mulher Invisível (2009, Brasil)
    direção: Claudio Torres; roteiro: Claudio Torres; fotografia: Ralph Strelow; montagem: Sergio Mekler; música: Luca Raele, Mauricio Tagliari; produção: Claudio Torres; com: Selton Mello, Luana Piovanni, Vladimir Brichta, Maria Manoella, Fernanda Torres, Maria Luísa Mendonça, Paulo Betti, Marcelo Adnet, Lúcio Mauro; estúdio: Conspiração Filmes, Globo Filmes, Lereby, Warner Bros., YB Music; distribuição: Warner Bros. 106 min

    12 comentários:

    Ânderson Luiz disse...

    Não vejo relação entre o lançamento de A Mulher Invisível e o sucesso de Se Eu Fosse Você 2, já que, como sabemos, o tempo de produção para um filme desse porte é consideravelmente maior do que o intervalo entre os lançamentos dos dois. A relação talvez pudesse ser feita entre o primeiro filme da série. Talvez seja preciosismo da minha parte, mas como você fez alusão ao recorde do segundo filme achei que deveria levantar a questão. Abraço!

    Anderson disse...

    Achei o filme divertido, mas concordo com vc q tem uma hora q estica umas situações que poderia resolver em minutos.Piovani realmente se destaca. E apesar do Selton Mello estar irritante no início, depois ele se encontra. Me surpreendeu o uso dos coadjuvantes não como bengala para o protagonista, mas como personagens desenvolvidos de forma eficiente tbm. Abs!

    Caio. disse...

    caralho Renato , eu li no estadão que o David Carradine não se suicidou , disque na verdade ele morreu durante um "ato sexual" !!! , agora estou chocado e constrangido.

    Fred Burle disse...

    Discordo quando você faz relaciona o lançamento de A Mulher Invisível como consequência do sucesso de "Se Eu Fosse Você 2". O filme está há mais tempo em produção do que o filme do Daniel Filho. Apenas ocorreu essa coincidência.
    Todo cinema é feito de filmes de qualidade e outros de menor qualidade, mas que têm apelo popular e que sustentam a indústria. Pode ser esse o caso, fazer o quê? Hollywood é o maior exemplo disso. Vai ver a proporção de filmes ruins que aquela indústria produz.
    Agora, num ponto concordo com você: o Brasil precisa de (mais) bons roteiristas. A pouca produção de antigamente impedia isso, afinal, o ofício de escrever só se aperfeiçoa com a prática constante. Com uma crescente produção de filmes no Brasil, pode ser que essa habilidade melhore e que estimule outros a escreverem também.

    RENATO SILVEIRA disse...

    Na verdade, "A Mulher Invisível" seria lançado ANTES de "Se Eu Fosseo Você 2". Lembro bem de ter visto o filme no calendário do ano passado e ser trocado pelo outro que foi dirigido também pelo Cláudio Torres. O que eu quis dizer é que, coincidência ou não, o filme do Torres acabou sendo reflexo do filme do Daniel Filho. Lembrem-se que ele é um dos produtores. E "Se Eu Fosse Você", o primeiro, já despontou como fenômeno, que foi replicado pela continuação - em escala muito maior, é verdade. Vocês têm dúvidas de que, se "A Mulher Invisível" fizer seus dois milhões de público, outros da mesma linha vão aparecer? Por isso eu disse que pode ser o "primeiro de uma série", porque é agora (com os 6 milhões de "Se Eu Fosse Você 2") que poderemos ver isso se propagar de fato.

    Mas eu não estou achando ruim, não. Isso alimenta a indústria, que é o que o cinema brasileiro vem tentando fazer desde o início da retomada. O que eu acho que tem que ser feito são justamente filmes comerciais bons, melhores que "A Mulher Invisível" e "Se Eu Fosse Você". Dá para fazer cinemão pipoca com boas histórias. O que nos falta é isso.

    []s!

    Caio. disse...

    vai ter critica de O Exterminador do Futuro 4 ???

    Caio. disse...

    lindo demais aquele video do John Hughes , aliás eu adoro videos-tributo , futuramente quero aprender a mexer em edição e postar os meus no youtube , dá uma olhada nesses videos que esse carinha fez , são bons demais:

    http://www.youtube.com/watch?v=CpxIi4j5C-k

    http://www.youtube.com/watch?v=iNVPyWaSKVQ

    http://www.youtube.com/watch?v=fzRTDhGZGM0

    o terceiro video é o meu favorito. Tem mais videos-tributo dele no blog http://bennettmedia.blogspot.com/

    e então é só clicar na categoria "tribute (41)"

    RENATO SILVEIRA disse...

    Críticas de "Terminator" e "Duplicidade" a caminho, na segunda-feira.

    []s!

    Marcelo Miranda disse...

    "Divã" também é parte dessa estratégia das comédias brasileiras.

    Flávio disse...

    Vi o filme essa semana e gostei. Consegue ser divertido e não ofende a inteligência como A casa da mãe Joana, por exemplo. O elenco como um todo funciona muito bem.

    Anônimo disse...

    Eu assisti o filme da estréia, e gostei muito. Não somente eu , mas todos que estavam comigo. Os atores são ótimos e muito engraçados....
    Posso dizer que consegui rir mais nesse filme do que em " se eu fosse você 2"

    Quem ainda não assistiu assitam!

    Anônimo disse...

    Divã não é nada bom!
    Incentivo a traição ... to fora!

     
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