Num mundo perfeito, livre de preconceito, um filme como "De Repente, Califórnia" estaria em cartaz nos multiplexes. Mas como a realidade é outra, o longa é relegado ao circuito alternativo.
É um "O Segredo de Brokeback Mountain" na praia. Um romance entre dois homens, mas, mais que isso, a história deste rapaz, Zach (Trevor Wright), que no auge da juventude sente a necessidade de deixar de se sufocar e liberar sentimentos reprimidos, além, claro, da sexualidade. É bem o que Ang Lee fala em seu filme. Só que, ao invés da direção sublimada de Lee, o estreante Jonah Markowitz adota a estética de seriado de TV.
Não é a toa que "De Repente, Califórnia" tem sido comparado a programas como "The O.C." ou "Dawson's Creek". O visual é mesmo muito parecido, com o diretor não conseguindo evitar clichês como imagens de surf em câmera lenta, cenas de paisagem e pôr do sol, acompanhadas de trilha sonora de rock jovem de praia.
Também como nessas séries, o roteiro (assinado pelo próprio Markowitz) é construído em cima de um grupo pequeno de personagens e se desdobra na relação entre eles: o protagonista é o rapaz que quer sair do interior, a irmã dele é mãe solteira e insatisfeita, a melhor amiga vira namorada, o melhor amigo dá o suporte e o romance vem de fora da cidade. A diferença é que, nesse caso, o romance é gay.
Sem falar no elenco, vindo diretamente da telinha. Além de Wright (que fez participações em “Everwood”, “Scrubs”, “CSI: NY” e vários outros), estão lá os igualmente pouco conhecidos do público de cinema Brad Rowe (que já esteve em “CSI” e foi visto recentemente no segundo “A Lenda do Tesouro Perdido”), Tina Holmes (“A Sete Palmos”), Katie Walder (“Gilmore Girls”) e Ross Thomas (“Beyond the Break”). Todos rostos bonitos e, não fossem seus personagens homossexuais, os rapazes seriam um prato cheio para as leitoras da Capricho.
Mas apesar de toda a maquiagem, "De Repente, Califórnia" se sobressai como um conto de amor de verão bem engendrado, principalmente na forma como retrata o relacionamento gay. Sem apelar e evitando a noção de que homossexualidade é pornografia (algo que recai em “Shortbus”), Markowitz é simples em sua investida no sentimento e na atração que os dois surfistas sentem um pelo outro, sem fugir das cenas de beijo romântico que veríamos se o casal fosse homem e mulher. Ele não está preocupado em estudar a natureza da relação homossexual, mas, sim, na implicância dela para Zach e para aqueles com quem ele convive. E nisso Markowitz consegue levantar um diálogo com o espectador, se eximindo de moralismos ou panfletos.
"De Repente, Califórnia" não é pretensioso e faz companhia perfeita para “Amigas de Colégio”, do sueco Lukas Moodysson. São filmes que abordam a questão homossexual sem afetações, como deve ser.
É um "O Segredo de Brokeback Mountain" na praia. Um romance entre dois homens, mas, mais que isso, a história deste rapaz, Zach (Trevor Wright), que no auge da juventude sente a necessidade de deixar de se sufocar e liberar sentimentos reprimidos, além, claro, da sexualidade. É bem o que Ang Lee fala em seu filme. Só que, ao invés da direção sublimada de Lee, o estreante Jonah Markowitz adota a estética de seriado de TV.
Não é a toa que "De Repente, Califórnia" tem sido comparado a programas como "The O.C." ou "Dawson's Creek". O visual é mesmo muito parecido, com o diretor não conseguindo evitar clichês como imagens de surf em câmera lenta, cenas de paisagem e pôr do sol, acompanhadas de trilha sonora de rock jovem de praia.
Também como nessas séries, o roteiro (assinado pelo próprio Markowitz) é construído em cima de um grupo pequeno de personagens e se desdobra na relação entre eles: o protagonista é o rapaz que quer sair do interior, a irmã dele é mãe solteira e insatisfeita, a melhor amiga vira namorada, o melhor amigo dá o suporte e o romance vem de fora da cidade. A diferença é que, nesse caso, o romance é gay.
Sem falar no elenco, vindo diretamente da telinha. Além de Wright (que fez participações em “Everwood”, “Scrubs”, “CSI: NY” e vários outros), estão lá os igualmente pouco conhecidos do público de cinema Brad Rowe (que já esteve em “CSI” e foi visto recentemente no segundo “A Lenda do Tesouro Perdido”), Tina Holmes (“A Sete Palmos”), Katie Walder (“Gilmore Girls”) e Ross Thomas (“Beyond the Break”). Todos rostos bonitos e, não fossem seus personagens homossexuais, os rapazes seriam um prato cheio para as leitoras da Capricho.
Mas apesar de toda a maquiagem, "De Repente, Califórnia" se sobressai como um conto de amor de verão bem engendrado, principalmente na forma como retrata o relacionamento gay. Sem apelar e evitando a noção de que homossexualidade é pornografia (algo que recai em “Shortbus”), Markowitz é simples em sua investida no sentimento e na atração que os dois surfistas sentem um pelo outro, sem fugir das cenas de beijo romântico que veríamos se o casal fosse homem e mulher. Ele não está preocupado em estudar a natureza da relação homossexual, mas, sim, na implicância dela para Zach e para aqueles com quem ele convive. E nisso Markowitz consegue levantar um diálogo com o espectador, se eximindo de moralismos ou panfletos.
"De Repente, Califórnia" não é pretensioso e faz companhia perfeita para “Amigas de Colégio”, do sueco Lukas Moodysson. São filmes que abordam a questão homossexual sem afetações, como deve ser.
nota: 8/10 -- vale o ingresso
De Repente, Califórnia (Shelter, 2008, EUA)
direção: Jonah Markowitz; roteiro: Jonah Markowitz; fotografia: Joseph White; montagem: Michael Hofacre; música: J. Peter Robinson; produção: Paul Colichman, J.D. Disalvatore, Stephen P. Jarchow; com: Trevor Wright, Brad Rowe, Tina Holmes, Jackson Wurth, Katie Walder, Matt Bushell, Ross Thomas; estúdio: GP Pictures, here! Films; distribuição: Filmes do Mix. 90 min
direção: Jonah Markowitz; roteiro: Jonah Markowitz; fotografia: Joseph White; montagem: Michael Hofacre; música: J. Peter Robinson; produção: Paul Colichman, J.D. Disalvatore, Stephen P. Jarchow; com: Trevor Wright, Brad Rowe, Tina Holmes, Jackson Wurth, Katie Walder, Matt Bushell, Ross Thomas; estúdio: GP Pictures, here! Films; distribuição: Filmes do Mix. 90 min
8 comentários:
Renato, concordo com o que você diz em relação à estética televisiva impressa no filme e que ele seria sim, um filme para multiplexes, não fosse o preconceito que impera, mesmo que disfarçadamente.
Para mim, é melhor do que Brokeback Mountain, mesmo com a pompa de Ang Lee, que calculou cada cena do filme dele para não mostrar nada além do "aceitável" para a maior parte do público.
Algo que Shortbus não tem medo de fazer, mostrando tudo com naturalidade, sem pudores e apenas com a pretensão de divertir (além do quê, não é um filme de homossexuais e seim, um filme sobre sexo), sem hipocrisia.
Outro ponto que não gosto é quando leio o termo "homossexualismo". Esse "ismo" é sufixo de doença. O correto seria tratar como homossexualidade, ok?!
Enfim, Shelter é um ótimo filme, sensível e muito agradável. Não deveria ser relegado ao circuito alternativo, mas que bom que pelo menos entrou em cartaz no Brasil, algo que eu não esperava.
Abraço!
Verdade sobre o "homossexualismo". Foi no automático. Já corrigi. Valeu!
[]s.
Não acredito que verei esse filme, mas um filme interessantissimo, na verdade um dos melhores que já vi dentro dessa temática "descoberta sexual", é o britânico Get Real. Aqui saiu com dois títulos: Na real ou Saindo do armário. Vale muito a pena ser visto.
Não conhecia esse, Flávio. Valeu pela dica.
[]s.
Lembrei de uma aula onde o meu professor não disse nem homossexualismo, nem homossexualidade. Ele preferiu "relação homoafetiva".
Concorodo com sua crítica Flávio. Poderia muito bem ir para o cineplex.
Vi o filme mas achei bem "fofinho", rs... Previsível demais.
Não indicaria a ninguém. Agora.. o filme Milk, brilhante!!!
O filme é uma obra de arte. Tem uma direção empecável, trilha sonora escolhida minunciosamente e fotografia muito bem trabalhada. Tudo isso faz com que o assunto, a homossexualidade, não seja tomada semepre de um ângulo piegas e cansativo e sim romântico e realista. Muito bom e lindo. Va a pena ver mais de uma vez.
É sem dúvida nenhuma o melhor filme que já assisti.
Indico para todos meus amigos, familiares e com certeza deveria estar em todas as salas de cinema.
A sutileza como é abordado é incrível.
Quem não assistiu, assista!
Postar um comentário