De Repente, Califórnia

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 19 junho 2009



  • Num mundo perfeito, livre de preconceito, um filme como "De Repente, Califórnia" estaria em cartaz nos multiplexes. Mas como a realidade é outra, o longa é relegado ao circuito alternativo.

    É um "O Segredo de Brokeback Mountain" na praia. Um romance entre dois homens, mas, mais que isso, a história deste rapaz, Zach (Trevor Wright), que no auge da juventude sente a necessidade de deixar de se sufocar e liberar sentimentos reprimidos, além, claro, da sexualidade. É bem o que Ang Lee fala em seu filme. Só que, ao invés da direção sublimada de Lee, o estreante Jonah Markowitz adota a estética de seriado de TV.

    Não é a toa que "De Repente, Califórnia" tem sido comparado a programas como "The O.C." ou "Dawson's Creek". O visual é mesmo muito parecido, com o diretor não conseguindo evitar clichês como imagens de surf em câmera lenta, cenas de paisagem e pôr do sol, acompanhadas de trilha sonora de rock jovem de praia.

    Também como nessas séries, o roteiro (assinado pelo próprio Markowitz) é construído em cima de um grupo pequeno de personagens e se desdobra na relação entre eles: o protagonista é o rapaz que quer sair do interior, a irmã dele é mãe solteira e insatisfeita, a melhor amiga vira namorada, o melhor amigo dá o suporte e o romance vem de fora da cidade. A diferença é que, nesse caso, o romance é gay.

    Sem falar no elenco, vindo diretamente da telinha. Além de Wright (que fez participações em “Everwood”, “Scrubs”, “CSI: NY” e vários outros), estão lá os igualmente pouco conhecidos do público de cinema Brad Rowe (que já esteve em “CSI” e foi visto recentemente no segundo “A Lenda do Tesouro Perdido”), Tina Holmes (“A Sete Palmos”), Katie Walder (“Gilmore Girls”) e Ross Thomas (“Beyond the Break”). Todos rostos bonitos e, não fossem seus personagens homossexuais, os rapazes seriam um prato cheio para as leitoras da Capricho.

    Mas apesar de toda a maquiagem, "De Repente, Califórnia" se sobressai como um conto de amor de verão bem engendrado, principalmente na forma como retrata o relacionamento gay. Sem apelar e evitando a noção de que homossexualidade é pornografia (algo que recai em “Shortbus”), Markowitz é simples em sua investida no sentimento e na atração que os dois surfistas sentem um pelo outro, sem fugir das cenas de beijo romântico que veríamos se o casal fosse homem e mulher. Ele não está preocupado em estudar a natureza da relação homossexual, mas, sim, na implicância dela para Zach e para aqueles com quem ele convive. E nisso Markowitz consegue levantar um diálogo com o espectador, se eximindo de moralismos ou panfletos.

    "De Repente, Califórnia" não é pretensioso e faz companhia perfeita para “Amigas de Colégio”, do sueco Lukas Moodysson. São filmes que abordam a questão homossexual sem afetações, como deve ser.

    nota: 8/10 -- vale o ingresso

    De Repente, Califórnia (Shelter, 2008, EUA)
    direção: Jonah Markowitz; roteiro: Jonah Markowitz; fotografia: Joseph White; montagem: Michael Hofacre; música: J. Peter Robinson; produção: Paul Colichman, J.D. Disalvatore, Stephen P. Jarchow; com: Trevor Wright, Brad Rowe, Tina Holmes, Jackson Wurth, Katie Walder, Matt Bushell, Ross Thomas; estúdio: GP Pictures, here! Films; distribuição: Filmes do Mix. 90 min

    8 comentários:

    Fred Burle disse...

    Renato, concordo com o que você diz em relação à estética televisiva impressa no filme e que ele seria sim, um filme para multiplexes, não fosse o preconceito que impera, mesmo que disfarçadamente.
    Para mim, é melhor do que Brokeback Mountain, mesmo com a pompa de Ang Lee, que calculou cada cena do filme dele para não mostrar nada além do "aceitável" para a maior parte do público.
    Algo que Shortbus não tem medo de fazer, mostrando tudo com naturalidade, sem pudores e apenas com a pretensão de divertir (além do quê, não é um filme de homossexuais e seim, um filme sobre sexo), sem hipocrisia.
    Outro ponto que não gosto é quando leio o termo "homossexualismo". Esse "ismo" é sufixo de doença. O correto seria tratar como homossexualidade, ok?!
    Enfim, Shelter é um ótimo filme, sensível e muito agradável. Não deveria ser relegado ao circuito alternativo, mas que bom que pelo menos entrou em cartaz no Brasil, algo que eu não esperava.

    Abraço!

    RENATO SILVEIRA disse...

    Verdade sobre o "homossexualismo". Foi no automático. Já corrigi. Valeu!

    []s.

    Flávio disse...

    Não acredito que verei esse filme, mas um filme interessantissimo, na verdade um dos melhores que já vi dentro dessa temática "descoberta sexual", é o britânico Get Real. Aqui saiu com dois títulos: Na real ou Saindo do armário. Vale muito a pena ser visto.

    RENATO SILVEIRA disse...

    Não conhecia esse, Flávio. Valeu pela dica.

    []s.

    Kel Gomes disse...

    Lembrei de uma aula onde o meu professor não disse nem homossexualismo, nem homossexualidade. Ele preferiu "relação homoafetiva".

    Unknown disse...

    Concorodo com sua crítica Flávio. Poderia muito bem ir para o cineplex.
    Vi o filme mas achei bem "fofinho", rs... Previsível demais.
    Não indicaria a ninguém. Agora.. o filme Milk, brilhante!!!

    Diego Chimendes disse...

    O filme é uma obra de arte. Tem uma direção empecável, trilha sonora escolhida minunciosamente e fotografia muito bem trabalhada. Tudo isso faz com que o assunto, a homossexualidade, não seja tomada semepre de um ângulo piegas e cansativo e sim romântico e realista. Muito bom e lindo. Va a pena ver mais de uma vez.

    Anônimo disse...

    É sem dúvida nenhuma o melhor filme que já assisti.
    Indico para todos meus amigos, familiares e com certeza deveria estar em todas as salas de cinema.
    A sutileza como é abordado é incrível.
    Quem não assistiu, assista!

     
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