Velozes e Furiosos 4

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 01 abril 2009



  • Quando assumiu a direção da franquia "Velozes e Furiosos" no terceiro exemplar, lançado em 2006, o cineasta Justin Lin mostrou que o cinema comercial é também um lugar de reflexão e exercício de estilo, e não apenas reduto de um público que só está interessado em ver carros possantes batendo uns contra os outros enquanto garotas gostosas dançam ao som de hip hop na calçada. Agora, no quarto título da série, que volta a ter como protagonistas Vin Diesel e Paul Walker (astros do longa original, dirigido por Rob Cohen em 2001), Lin parece ter feito o filme definitivo de ação. Estamos diante de algo que não se via desde os primeiros "Duro de Matar" ou "True Lies".

    "Velozes e Furiosos 4" parte da premissa básica das tramas policiais: Dom Toretto (Diesel) está de volta à ativa nos EUA praticando roubos em alta velocidade nas rodovias interestaduais. Mas depois que sua namorada Letty (Michelle Rodiguez, em uma breve e sutil interpretação) é assassinada, seu objetivo passa a ser vingança. Acontece que os responsáveis pelo homicídio também estão sendo procurados pelo agente Brian O'Conner (Walker), que se vê novamente na posição de colaborar com Dom para capturar os bandidos.

    A confluência narrativa crua e objetiva exercitada por Lin e o roteirista Chris Morgan faz com que a dinâmica da relação entre Dom e O'Conner seja justa e baseada no princípio da amizade entre homens: a lealdade, acima de tudo, mesmo que para isso a lei tenha que ser burlada. Ao subverter essa noção de justiça, o filme questiona os valores daqueles que estão acima da lei: isto é, policiais e criminosos. É antagônica e antológica a fala do chefe de O'Conner: "A diferença entre um policial e um criminoso é só uma questão de tomar a decisão errada."

    O comentário social de "Velozes e Furiosos 4" também está na forma como Justin Lin utiliza sua câmera para retratar aquele submundo das corridas clandestinas. O rigor formal com que ele filma permite que o espectador absorva aquela ambiência diegética, onde a promiscuidade é a regra. Ao mesmo tempo, Lin ri do próprio gênero e de seus clichês, e cria um meta-filme: as tomadas que centralizam a figura quase antropomórfica do traseiro de uma mulher, ou aquelas que mostram garotas beijando e se esfregando em outras garotas (máxima do fetiche masculinizado que saltou do cinema pornográfico e se transformou em modinha nos clubes mais modestos das grandes cidades), são exemplos perfeitos da proposta do cineasta.

    É esse sincretismo bizarro - onde a ética e a amoralidade convivem a uma distância mínima, como se participassem de um dos excitantes rachas de carros filmados por Lin num ritmo sincopado, de silêncios sintomáticos entre cada corte - que faz de "Velozes e Furiosos 4" um clássico instantâneo. Correndo a toda velocidade no fio da navalha de um cinema hermético, que satiriza a era das explosões e dos stunts digitais ao prestar uma homenagem sem precedentes ao cinema do grão, o longa coloca esse jovem diretor rumo a um seleto grupo de artistas iconoclastas, que compreende nomes fortes como Terrence Malick, Michael Haneke, Philippe Garrel, Masahiro Kobayashi, Hong Sang-Soo. E por que não citar mestres como Bresson e Godard? O simulacro cinético que ele cria aqui é para poucos. E constatar que um filme como este será projetado em tantas salas de cinema e será visto por tantas pessoas só pode ser considerado um nobre triunfo da arte.

    nota: 10/10 -- veja no cinema e compre o DVD

    P.s.: O texto acima é uma brincadeira e não condiz com a verdadeira opinião deste crítico sobre o filme - que, na verdade, é bem meia boca (nota 4/10, e olhe lá). Tudo isso foi só um pretexto para desejar um feliz 1º de Abril para você! ;)

    17 comentários:

    Flávio disse...

    aff eu tava achando tudo muito estranho, mas caí direitinho!

    Anônimo disse...

    Eu caí. hahah

    Gustavo disse...

    Agora são três que caíram!

    Kel disse...

    Hahahah. É ótimo até quando mente! :*

    Erwin disse...

    Eu não caí, despenquei!
    Só comecei a desconfiar quando começou a comparar com os outros grandes cineastas... daí já era demais...
    Estava estranhando mesmo tantos elogios para o filme, mas vai saber? De qualquer forma, vou ver igual. Pior que Velozes e Furiosos 2 não pode ser. :)

    Marcelo Miranda disse...

    Renatão, eu quase tive uma síncope! E pior: não vi o aviso do dia da mentira e voltei e reli o texto! Puta merda, por pouco deixo de ser seu amigo!!

    Marcelo Miranda disse...

    Renatão, sobre a nota do filme do Scorsese, não é nada surpreendente que ele se chame "Paciente 67". É exatamente o nome que a Cia das Letras deu ao livro do Dennis Lehane no qual o filme é baseado (tenho ele aqui, aliás). A bizarrice no nome é da editora, e a distribuidora fez o óbvio (e, a meu ver, correto): manteve o título. Agora, se adianta de alguma coisa (e se não leu o livro): o título faz sentido.

    Otávio Pacheco disse...

    Sensacional, e muito bem escrito. Eu também achei esquisitíssimo, nunca vi o filme, mas algo com o Vin Diesel não pode ser coisa boa...

    Helker disse...

    filhadamãe

    Eu mesmo disse...

    huahauhauahuahauh

    Anônimo disse...

    hahaha
    eu também caí, até começar a comparar com grandes cineastas ... aí forçou!

    Renato Sousa

    JL disse...

    Cara,
    Eu tenho o hábito de ler suas críticas aos poucos pra tentar adivinhar a nota. Quando rolei a tela antes de ler o último parágrafo, vi o '10/10'.
    Bem, aí fiquei pensando: "Isso tem que ser 1º de abril! O Renato tá vendo poesia em filme comercial? Whaddafuck!?"
    Enfim, parabéns! A brincadeira ficou bem feita mesmo!
    Abs,
    João.

    RENATO SILVEIRA disse...

    hehehe Êeeee! Deu certo! :P Foi mal aí pessoal, mas não podia deixar passar.

    Marcelão, hehehe... Você foi o melhor. :) Agora, quanto ao título do Scorsese, comi mosca mesmo. Mas se faz sentido, menos mal.

    []s!

    Rod disse...

    Eu Tbm Caí

    Anônimo disse...

    Tava achando muito estranho : 10/10...
    Comecei a chingar quando vi o Post Scriptum.

    Amaury disse...

    Adorei a paródia Renato! Bem criativo usar um texto todo "intelectual" (sincretismo, sincopado, diegética!) para falar de Velozes e Furiosos. Ah e eu caí também rs... abraços

    Thiago Lucio disse...

    Eu caí também ... só deu pra sacar quando ele começou a comparar o diretor com outros nomes clássicos ... hehehehehe ... é uma piadinha velha e manjada, mas que ainda funcionou ... rsrsrs

     
    Copyright (c) 2010 Blogger templates by Bloggermint