A Duquesa

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 21 novembro 2008


  • Há algo de podre no reino... E essa podridão deixou de ser política e se tornou social. Ou eu deveria dizer comportamental? “A Duquesa” – mais um filme que traz Keira Knightley em um papel de época – deixa de lado os livros de História e se concentra nos jogos conjugais que se passam de palácio a palácio. A Revolução Francesa, por exemplo, é citada apenas quando um personagem quer puxar assunto em uma conversa casual. E a busca por esse lado mais íntimo das cortes têm se tornado uma tendência: “Maria Antonieta”, “Elizabeth – A Era de Ouro” e “A Outra” são outros recentes exemplos de filmes que preferem narrar eventos históricos pelo ponto de vista dos relacionamentos e dos sentimentos daqueles personagens.

    No caso, o cenário principal é Devonshire, região no sudoeste da Inglaterra. Georgiana (Knightley) é negociada (não há termo mais adequado) por sua mãe, Lady Spencer (vossa realeza, Charlotte Rampling), para um casamento com William Cavendish, o duque de Devonshire (Ralph Fiennes). A História diz que Georgiana foi uma celebridade em sua época, tendo sido uma figura influente no meio artístico e político. No filme, vemos Georgiana participar de campanhas e proferir discursos, mas nunca esses momentos são a razão de ser das cenas – servem apenas para estabelecer a situação, onde o que realmente importa são as conversas tidas à sombra das cortinas, nos cantos dos salões e corredores, ou mesmo à mesa durante uma refeição.

    Tais conversas giram em torno de um único assunto: a infeliz vida amorosa de Georgiana. Inicialmente feliz por ter se tornado uma duquesa, logo a jovem sente o desprezo machista de seu marido, que pensa e age com o pênis. O personagem de Fiennes lembra o de Eric Bana em “A Outra”: tanto o duque quanto o rei Henrique VIII se desfazem de suas companheiras porque elas não conseguem gerar um herdeiro do sexo masculino. Esse “desfazer”, porém, é relativo: o divórcio é um escândalo, então, a solução é conseguir uma(s) amante(s) e ser discreto – recomedação do próprio duque. Discrição esta que Georgiana não suporta, já que vê sua melhor amiga (Hayley Atwell) se tornar a segunda esposa não-oficial do duque e ainda tem que dividir a casa com ela. Vendo-se privada de também ter um amante, ela é obrigada a se contentar com o casamento de aparências (por esse lado, Maria Antonieta aproveitou mais a vida).

    É compreensível que o papel da feminilidade numa sociedade como aquela se torne um tema de preferência, uma vez que a mulher contemporânea é cada vez mais independente e quer se enxergar na tela (Sofia Coppola entendeu isso). Ou, como é o caso aqui, ela pode tomar as dores da protagonista e se indignar por ela. Saul Dibb, o diretor, que também assina o roteiro, segue essa linha, mas, como Justin Chadwick em “A Outra” e Shekhar Kapur em “Elizabeth – A Era de Ouro”, se rende aos padrões do que se entende por “filme de época” (cenários e figurinos deslumbrantes, tomadas contemplativas, trilha sonora pomposa) e o tom romanesco predomina. Acaba que esses filmes se vêem diante de uma contradição: falta-lhes atitude, justamente aquilo que seu público-alvo mais procura.

    nota: 5/10 -- veja sem pressa

    A Duquesa (The Duchess, 2008, Reino Unido/Itália/França)
    direção: Saul Dibb; com: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Charlotte Rampling, Dominic Cooper, Hayley Atwell, Simon McBurney, Aidan McArdle; roteiro: Jeffrey Hatcher, Anders Thomas Jensen, Saul Dibb (baseado no livro de Amanda Foreman); produção: Michael Kuhn, Gabrielle Tana; fotografia: Gyula Pados; montagem: Masahiro Hirakubo; música: Rachel Portman; estúdio: Paramount Vantage, Pathé, BBC Films; distribuição: Paramount Pictures. 110 min

    3 comentários:

    Anônimo disse...

    Keira Knightley, é a bela mais feia da atualidade. Ela sempre estrela filmes como a bela da trama, no entanto eu acho tão sem gracinha. Não é bonita, mas também não é feia (nesta foto está particularmente feia). Enfim, é comum. Embora tenha algo que me agrada sobremaneira; é magerrima. Adoro mulheres magras, secas, esqueléticas até. O que não quer dizer que expulsasse Kate Winslet ou Drew Barrymore de minha cama.

    Putz... kkkkkk... e o que minhas taras, tem haver com o filme em questão???? kkkk... desculpa aí Renato... acho que tó precisando de um banho frio... :>)

    xlucas
    http://womni.blogspot.com/

    Anônimo disse...

    Acho engraçado que Peter Grenaway diga que o cinema está superado/ultrapassado, mas que a Pintura esteja viva, seja interativa.
    Embora concorde com ele em alguns pontos, não consigo perceber muita interatividade no olhar para uma pintura. Pode se olhar de cima, de baixo, de lado, mas a pintura não reage :), sei-lá, não vejo muita interatividade nisso, não. Acho que o exemplo maior de arte interativa hoje em dia são os games para computadores.

    xlucas
    http://womni.blogspot.com

    Anônimo disse...

    Acho que a Keira Knightley é a reencarnação de alguma alma de época :p

     
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