Acima de tudo, o olhar

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 15 setembro 2008


  • O olhar é tema de quatro dos principais filmes de 2008 até aqui. “O Escafandro e a Borboleta”, “WALL•E”, “Linha de Passe” e “Ensaio Sobre a Cegueira” tratam, cada um a seu modo, de formas de olhar o mundo e o outro.

    O filme de Julian Schnabel, sobre um editor de revista que se vê condenado à prisão do próprio corpo após sofrer um derrame, tem na câmera subjetiva sua porta para retratar a vida daquele personagem, a partir do momento em que a visão passa a ser o sentido mais importante de todos.

    Na ficção-científica de Andrew Stanton, os diálogos cedem lugar às expressões, e, não por acaso, as principais estão nos olhares de dois robôs, cujo grande feito, mais do que salvarem o planeta, é demonstrarem possuir um senso puro e real de humanidade correndo em seus circuitos.

    Walter Salles e Daniela Thomas também buscam nos entreatos do drama de uma típica família brasileira de classe baixa os olhares de um microcosmo. São pessoas que vivem da luta diária pela sobrevivência e que muitas vezes parecem perder seus olhares no céu, na chuva, no chão, num espelho. Mas na verdade elas estão tentando se enxergar, e serem vistas também.

    O que ecoa na nova produção internacional de Fernando Meirelles, radicalmente diferente na forma do filme de Walter e Daniela, mas espantosamente ressonante no propósito de discorrer sobre a maneira com que o indivíduo vê e deixa de ver o outro. Não só isso, mas é também um exercício, assim como “O Escafandro e a Borboleta”, que procura representar um tipo diferente de olhar utilizando as possibilidades que a linguagem oferece.

    Seja qual for a forma, da mais natural à mais estilizada, esses quatro filmes se encontram num único clamor: eles parecem exigir dos olhos do público atenção exclusiva. São filmes que, mais do que falar com o espectador, buscam fazer dele um observador. Diante deles, nós somos convidados a apreciar a sétima arte em sua essência: a imagem, repleta de sentidos.

    É tendo em vista este breve panorama que o cinematório inicia sua nova fase e afirma: quem diz que o Cinema morreu precisa tirar os óculos escuros.

    Sejam bem-vindos de volta.

    2 comentários:

    Anônimo disse...

    Arrepiei. Cinematório Omnia Vincit! :) E será cada vez melhor a partir de agora! :*

    Anônimo disse...

    Rena, A-M-E-I!!
    Eu sou fanzoca do site, fanzoca do autor a aposto no mais absoluto sucesso nessa nova fase!!
    Cinematório arrasando a aldeia iluminada em chamas!! É assim mesmo que tem que ser!
    Beijo grande e boa sorte!

     
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