Zé Pequeno é um dos personagens mais assustadores e icônicos do recente cinema brasileiro. Agora, o traficante de “Cidade Deus” encontrou um “adversário” à altura em “Ódiquê?”: o pitboy Tito, interpretado por Cauã Reymond.
No filme, dirigido pelo estreante Felipe Joffily, vemos o rapaz e seus amigos Monet (Alexandre Moretzsohn) e Duda (Eduardo Azevedo) aprontando confusão atrás de confusão na noite carioca com o objetivo de conseguir dinheiro para passar o carnaval na Bahia. Dá para sentir mais medo desses jovens de classe média do que de qualquer grupo de assaltantes presente em filmes que se passam em favelas. Se uma arma na mão de Zé Pequeno é sinônimo de perigo, na mão de Tito ou um de seus “parceiros” é ainda pior. E o que os torna mais terríveis é o fato de não terem preocupação alguma com as pessoas ao seu redor. Eles são fúteis, egoístas, só pensam em badalar, e o que é pior: querem “curtir uma” de bandido.
Escrito pelo também novato Gustavo Moretzsohn (que se inspirou no francês “O Ódio”, de 1995), o longa faz um retrato válido e necessário de uma fração sórdida da classe média brasileira, já que os criminosos representados em nosso cinema nos últimos anos parecem ser oriundos apenas da classe baixa. Em “Ódiquê?”, não há uma cena sequer situada em favela, e os ditos “favelados”, como o flanelinha esculachado e ridicularizado por Tito, são vítimas dos personagens principais. Não é a toa que um deles usa o próprio “Cidade de Deus” como referência ao exclamar a famosa frase: “Meu nome é Zé Pequeno, porra!”.
Cauã Reymond é o grande destaque do elenco, sem dúvidas. Seu personagem é detestável, mas não da mesma forma que o Selton Mello de “O Cheiro do Ralo”. Tito faz rir com suas expressões, seu modo exagerado de falar e gesticular e sua imaginação tola. Mas por trás dessa imagem cômica está uma pessoa cruel, preconceituosa, explosiva e covarde. Tito não deverá ser lembrado daqui a alguns anos como o Zé Pequeno de Leandro Firmino, já que o filme está em cartaz há quase um mês e não teve a mesma exposição que “Cidade de Deus”. Ainda assim, a intensidade da atuação de Reymond e o carisma diabólico do personagem certamente são capazes de impressionar o público da mesma maneira.
Na direção, Felipe Joffily (primo do consagrado José Joffily) usa a câmera na mão em várias ocasiões, mas prefere o plano fixo, como pode ser observado nas cenas em que os rapazes falam pelos cotovelos e fumam maconha. O filme também conta com alguma estilização, o que não lhe faz necessariamente mal; funciona mais para dar ritmo, na verdade.
Apesar de a trama se perder um pouco em seu desfecho, “Ódiquê?” tem a grande virtude de não punir seus personagens, deixando o julgamento para o público. É uma pena que sua distribuição esteja sendo tão limitada, já que se trata de um dos melhores filmes nacionais do ano até agora, ao lado de “O Cheiro do Ralo” e “Batismo de Sangue”.
No filme, dirigido pelo estreante Felipe Joffily, vemos o rapaz e seus amigos Monet (Alexandre Moretzsohn) e Duda (Eduardo Azevedo) aprontando confusão atrás de confusão na noite carioca com o objetivo de conseguir dinheiro para passar o carnaval na Bahia. Dá para sentir mais medo desses jovens de classe média do que de qualquer grupo de assaltantes presente em filmes que se passam em favelas. Se uma arma na mão de Zé Pequeno é sinônimo de perigo, na mão de Tito ou um de seus “parceiros” é ainda pior. E o que os torna mais terríveis é o fato de não terem preocupação alguma com as pessoas ao seu redor. Eles são fúteis, egoístas, só pensam em badalar, e o que é pior: querem “curtir uma” de bandido.
Escrito pelo também novato Gustavo Moretzsohn (que se inspirou no francês “O Ódio”, de 1995), o longa faz um retrato válido e necessário de uma fração sórdida da classe média brasileira, já que os criminosos representados em nosso cinema nos últimos anos parecem ser oriundos apenas da classe baixa. Em “Ódiquê?”, não há uma cena sequer situada em favela, e os ditos “favelados”, como o flanelinha esculachado e ridicularizado por Tito, são vítimas dos personagens principais. Não é a toa que um deles usa o próprio “Cidade de Deus” como referência ao exclamar a famosa frase: “Meu nome é Zé Pequeno, porra!”.
Cauã Reymond é o grande destaque do elenco, sem dúvidas. Seu personagem é detestável, mas não da mesma forma que o Selton Mello de “O Cheiro do Ralo”. Tito faz rir com suas expressões, seu modo exagerado de falar e gesticular e sua imaginação tola. Mas por trás dessa imagem cômica está uma pessoa cruel, preconceituosa, explosiva e covarde. Tito não deverá ser lembrado daqui a alguns anos como o Zé Pequeno de Leandro Firmino, já que o filme está em cartaz há quase um mês e não teve a mesma exposição que “Cidade de Deus”. Ainda assim, a intensidade da atuação de Reymond e o carisma diabólico do personagem certamente são capazes de impressionar o público da mesma maneira.
Na direção, Felipe Joffily (primo do consagrado José Joffily) usa a câmera na mão em várias ocasiões, mas prefere o plano fixo, como pode ser observado nas cenas em que os rapazes falam pelos cotovelos e fumam maconha. O filme também conta com alguma estilização, o que não lhe faz necessariamente mal; funciona mais para dar ritmo, na verdade.
Apesar de a trama se perder um pouco em seu desfecho, “Ódiquê?” tem a grande virtude de não punir seus personagens, deixando o julgamento para o público. É uma pena que sua distribuição esteja sendo tão limitada, já que se trata de um dos melhores filmes nacionais do ano até agora, ao lado de “O Cheiro do Ralo” e “Batismo de Sangue”.
nota: 8/10 -- vale o ingresso
Ódiquê? (2007, Brasil), dir.: Felipe Joffily – em cartaz nos cinemas
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