“Para Roma, Com Amor” é como um esboço de ideias que Woody Allen pode ter tido para novos longas-metragens, mas que ele não conseguiu desenvolver ou achou que não conseguiria realizar. Pode, então, ter resolvido transformar esses rascunhos de filmes numa antologia de pequenas histórias que se passam na capital italiana, novo ponto de parada de sua turnê europeia iniciada em 2005 com "Match Point".
Apesar de ocorrerem ao mesmo tempo e algumas delas serem congruentes, as histórias de "Para Roma, Com Amor" não se cruzam com num filme de Alejandro González Iñárritu ("21 Gramas", "Babel"). Algumas delas flertam com o realismo fantástico com que Allen já brincou em filmes como "A Rosa Púrpura do Cairo" e "Meia-Noite em Paris". Outras lidam com as desventuras amorosas vistas em filmes "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" ou "Vicky Cristina Barcelona", sem, entretanto, trazerem a mesma profundidade e charme que esses filmes carregam. Há, ainda, a história protagonizada pelo próprio Allen e que é a que menos se encaixa dentro do que já vimos do cineasta, embora sua persona garanta a assinatura.
O cinema bem humorado de Woody Allen que todos gostam está ali, ainda que meio pulverizado. Como escritores que fizeram livros de contos, Allen faz aqui um filme de contos – alguns não tão bons, outros que, com um pouco mais de cozimento, poderiam se transformar em longas, embora a suspeita é que seriam desses longas menores da carreira de Allen, como "Scoop - O Grande Furo" ou "Igual a Tudo na Vida".
A suposta falta de inspiração do cineasta tem sido a crítica comum em relação a "Para Roma, Com Amor", mas há de se concordar que, ainda assim, é um filme coerente com temas presentes em sua obra: as neuroses do amor, os dilemas que surgem das escolhas que fazemos e a busca pelo êxito social ou profissional. Nos filmes de Allen, uma coisa sempre pode levar à outra.
São esses temas que pautam as decisões tomadas por todos os personagens de "Para Roma, Com Amor". Temos lá o cidadão comum (Roberto Benigni) que se vê cansado da rotina diária e é transformado em celebridade pela imprensa da noite para o dia, no que talvez seja um curta simpático ali dentro. Temos o arquiteto que renegou aos seus sonhos profissionais (Alec Baldwin) e se encontra com um alter-ego bem mais jovem (Jesse Eisenberg), que se vê num dilema amoroso - provavelmente a história (ou histórias) com mais potencial para ter vida própria. Temos o rapaz do interior (Flavio Parenti) com futuro promissor na cidade grande, mas que tem a esposa trocada temporariamente (a mais tola das tramas do filme). E, claro, temos o empresário musical aposentado, vivido pelo próprio Allen, que descobre acidentalmente uma nova chance de voltar a trabalhar e se redimir de seus fracassos - outra ideia que consigo vislumbrar, ainda que com um pouco mais de esforço, como uma comédia solo.
De toda forma, Woody tem crédito com seus fãs, que aguardam ver no próximo ano mais uma ou várias de suas histórias, sempre com o mesmo ânimo que ele tem para contá-las. E por mais que "Para Roma, Com Amor" seja irregular, há sempre duas ou três coisas interessantes e perspicazes que encontramos nos filmes desse diretor singular.
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