“Federal” é o quarto filme policial brasileiro que chega às telas de cinema este ano. Era de se esperar que o sucesso do primeiro “Tropa de Elite” fosse lançar uma tendência. Porém, esses quatro filmes não poderiam ser mais diferentes um do outro – e nenhum, à exceção de "Tropa 2", conseguiu repetir na bilheteria o sucesso da batalha de Capitão Nascimento contra o “sistema”.
Veja, por exemplo, “Cabeça a Prêmio”, estreia na direção do ator Marco Ricca. Um filme acima da média, mas que ficou restrito a poucas salas, provavelmente por ter um estilo mais “cabeça”, digamos. Não é necessariamente um filme policial, mas um estudo de personagens. Outro que acabou passando batido foi “Segurança Nacional”, estrelado por Thiago Lacerda. Esse é a tentativa mais descarada e debochada de se fazer um filme policial americano no Brasil, com direito a ameaça terrorista com bomba atômica e tudo mais. “Tropa de Elite 2” dispensa apresentações e, sem dúvida nenhuma, é o único exemplar da safra que conseguiu manter o nível de qualidade e rentabilidade que ele mesmo gerou três anos atrás.
Finalmente, temos “Federal”, que é o elo perdido entre “Segurança Nacional” e “Tropa de Elite”. Existe claramente ali uma tentativa de girar a história em torno do drama que José Padilha, diretor de “Tropa de Elite”, criou para o Capitão Nascimento: o dilema do agente policial diante da profissão e da família – drama este que, na verdade, é uma convenção do gênero, e não está restrito a este ou aquele filme. No caso, o Capitão Nascimento de “Federal” é o personagem de Carlos Alberto Riccelli, que não é do BOPE, e, sim, da Polícia Federal, mas também está prestes a ser pai e tem que deixar a mulher em casa para perseguir traficantes. Enquanto isso, o personagem de Selton Mello se sai como o Mathias de “Tropa de Elite”: é o aprendiz que se vê no limiar da ética.
Mas o problema de “Federal” não está na repetição dos temas: está é na execução mesmo. Daí a aproximação com “Segurança Nacional”, pois o filme se leva mais a sério do que deveria e acaba gerando o riso involuntário. O diretor Erik de Castro parece não saber onde termina o realismo do universo em que ele situa o filme e onde começa a ficção própria do cinema comercial de ação. Faltou a ele achar o tom certo entre uma coisa e outra. Aí pode-se dizer que Castro é inexperiente, tendo como único filme no currículo, até então, o documentário “Senta a Pua”. Mas José Padilha também era inexperiente quando fez “Tropa de Elite”, e antes também só tinha feito um documentário, “Ônibus 174”. Será questão de talento, então?
Pode ser, mas “Federal” também sente falta de um roteirista como Bráulio Mantovani, também responsável por “Cidade de Deus”. O filme foi escrito por Castro, ao lado de Érico Beduschi e Heber Trigueiro. O material de imprensa destaca que o roteiro foi selecionado pelo famoso programa laboratório do instituto Sundance, mas isso não é selo de padrão de qualidade. Aí vale aquela máxima: não importa como você entra na faculdade, mas, sim, como você sai dela. Certamente havia potencial no texto de “Federal”, mas, pelo visto, ele não foi explorado quando mais foi necessário.
Entre mortos e feridos, existem algumas coisas que se salvam em “Federal”. Temos a curiosa presença do músico Eduardo Dussek no papel do vilão principal, ecoando a boa performance do titã Paulo Miklos em “O Invasor”. E há ainda o produto importado: o ator americano Michael Madsen, conhecido de filmes como “Cães de Aluguel”, “Kill Bill”, “Donnie Brasco” e dezenas de outros filmes policiais e de ação, muitos deles inéditos no Brasil. E provavelmente por estar tão habituado a lidar com esse tipo de cinema, Madsen, com todos os seus maneirismos, é o que parece estar mais à vontade e seguro diante da câmera, diferente da maior parte do elenco e da equipe do filme, para quem tudo era novidade. Esse desconforto acabou sendo transferido para o filme e, fatalmente, atingirá o espectador.
Federal (2010, Brasil)
direção: Erik de Castro; roteiro: Erik de Castro, Érico Beduschi, Heber Trigueiro; fotografia: Cezar Moraes; montagem: Heber Trigueiro; música: Eugênio Matos; produção: Christian de Castro, Erik de Castro; com: Carlos Alberto Riccelli, Selton Mello, Christovam Neto, Cesário Augusto, Eduardo Dussek, Adriano Siri, Similião Aurélio, Analú Silveira, Roberto Cano, Carolina Gómez, Solange DeBarros, Michael Madsen; estúdio: Grupo Trebol Comunicaciones, Limite Produções, RioFilme, Europa Filmes; distribuição: Europa Filmes. 92 min
2 comentários:
interessante pois gostei do filme principalmente do papel que o som e a musica tem na condução da ação e sobre o qual não houve comentário. pouco usual. a fotografia realista e com maior contraste também é ousada. recomendo assistir em cinemas de boa qualidade.
é sofrível!
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