Não sei de onde saem os cineastas argentinos, mas de onde quer que seja é inegável que recebem uma excelente formação sobre a estrutura narrativa de um filme. Pois impressiona como nossos vizinhos conseguem contar bem uma história. E é mais impressionante ainda como eles conseguem pegar uma storyline que tem tudo para virar um novelão e a transformam em um roteiro profundo e em imagens pertinentes. Isto é, transformam em cinema.
É o caso de "Dois Irmãos", de Daniel Burman. São dois protagonistas, os dois irmãos. Ela, Suzana, é egoísta, dominante, nunca está satisfeita com nada. Ele, Marcos, é apagado, nada confiante, alvo de críticas constantes da irmã. Mas, acima de tudo, são dois solitários. Que precisam um do outro. Ela precisa dele. E ele sabe da necessidade dela, e está sempre a postos.
Não existe nenhuma ousadia em "Dois Irmãos". Nada de original ou mesmo nada provocativo. Mas precisa? Burman parece realmente preocupado em desenvolver uma narrativa, o que faz com primor. Além disso, ele tem uma percepção de enquadramentos e sabe que uma história pode ser contada em imagens. "Dois Irmãos" está longe de ser um filme apenas visual, mas essa percepção faz a diferença. Em um dado momento do longa, a mãe de Suzana e Marcos morre. Suzana nunca se preocupou muito, era Marcos quem cuidava dela. No funeral, onde estão apenas os dois, Suzana questiona o porquê de não haver ninguém na cerimônia. Marcos não se importa. Está triste pela mãe, não quer saber de convenções sociais. A escolha de Burman de enquadrar apenas o rosto de Marcos, que sofre, enquanto Suzana reclama, faz toda a diferença.
Apesar do tema ser outro, “Dois Irmãos”, com sua sensibilidade e discrição, ainda consegue criticar a classe média de forma mais pertinente do que Todd Solondz, atirando para todos os lados em seu “A Vida Durante a Guerra”.
Mas, no fim das contas, Burman, com ajuda de seus ótimos atores, faz um filme sobre a busca da identidade. E, se não reinventou a roda, fez o dever de casa muitíssimo bem feito.
Dois Irmãos (Dos Hermanos, 2010, Argentina/Uruguai/Espanha)
direção: Daniel Burman; roteiro: Daniel Burman, Diego Dubcovsky; fotografia: Hugo Colace; montagem: Pablo Barbieri Carrera; música: Nico Cota; com: Antonio Gasalla, Graciela Borges, Elena Lucena, Rita Cortese. 105 min
É o caso de "Dois Irmãos", de Daniel Burman. São dois protagonistas, os dois irmãos. Ela, Suzana, é egoísta, dominante, nunca está satisfeita com nada. Ele, Marcos, é apagado, nada confiante, alvo de críticas constantes da irmã. Mas, acima de tudo, são dois solitários. Que precisam um do outro. Ela precisa dele. E ele sabe da necessidade dela, e está sempre a postos.
Não existe nenhuma ousadia em "Dois Irmãos". Nada de original ou mesmo nada provocativo. Mas precisa? Burman parece realmente preocupado em desenvolver uma narrativa, o que faz com primor. Além disso, ele tem uma percepção de enquadramentos e sabe que uma história pode ser contada em imagens. "Dois Irmãos" está longe de ser um filme apenas visual, mas essa percepção faz a diferença. Em um dado momento do longa, a mãe de Suzana e Marcos morre. Suzana nunca se preocupou muito, era Marcos quem cuidava dela. No funeral, onde estão apenas os dois, Suzana questiona o porquê de não haver ninguém na cerimônia. Marcos não se importa. Está triste pela mãe, não quer saber de convenções sociais. A escolha de Burman de enquadrar apenas o rosto de Marcos, que sofre, enquanto Suzana reclama, faz toda a diferença.
Apesar do tema ser outro, “Dois Irmãos”, com sua sensibilidade e discrição, ainda consegue criticar a classe média de forma mais pertinente do que Todd Solondz, atirando para todos os lados em seu “A Vida Durante a Guerra”.
Mas, no fim das contas, Burman, com ajuda de seus ótimos atores, faz um filme sobre a busca da identidade. E, se não reinventou a roda, fez o dever de casa muitíssimo bem feito.
Dois Irmãos (Dos Hermanos, 2010, Argentina/Uruguai/Espanha)
direção: Daniel Burman; roteiro: Daniel Burman, Diego Dubcovsky; fotografia: Hugo Colace; montagem: Pablo Barbieri Carrera; música: Nico Cota; com: Antonio Gasalla, Graciela Borges, Elena Lucena, Rita Cortese. 105 min
0 comentários:
Postar um comentário