E vamos de "Lula" para o Oscar

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 23 setembro 2010



  • O Ministério da Cultura soltou um press-release sobre a escolha de "Lula, o Filho do Brasil" como representante do Brasil na disputa pelo Oscar 2011 de Melhor Filme Estrangeiro. Antes do texto completo, algumas considerações:

    1. Me parece tão descabido pensar que a escolha tem a ver com questões políticas quanto é pensar que o filme foi feito com intenções eleitoreiras.

    2. Descabidas são as declarações do presidente da Academia Brasileira de Cinema e integrante do comitê do MinC, Roberto Farias, que deixam implícita a noção de que a escolha pelo filme de Fábio Barreto se deu por causa do status internacional de Lula. Desde quando isso vai influenciar os membros da Academia que votam nesta categoria?

    3. Acima de tudo, o que deveria se levar em conta é a qualidade cinematográfica do filme escolhido, independente se vai ser indicado ou não, se vai ganhar ou não. É uma questão de princípios, ainda mais por se tratar de uma comissão que tem em seu corpo nomes como Jean Claude Bernardet, Leon Cakoff, Tata Amaral, Cássio Starling Carlos e o próprio Roberto Farias, que ainda me vem com a pérola: "Votamos no filme que nos pareceu mais bem feito, que honra a cinematografia brasileira". E a decisão foi unânime.

    4. Outra pérola de Farias: "Glória Pires se torna uma excelente candidata ao prêmio de Melhor Atriz". Uma indicação dessa seria uma mais do que agradável surpresa, mas nunca foi nem será uma aposta. Glória é a melhor coisa do filme, sim, mas daí a projetá-la como candidata a Oscar é excesso de confiança.

    5. Felizmente, ninguém falou nada sobre honrar Fábio Barreto ou coisa assim. Primeiro, que o fato de ter dirigido "O Quatrilho", que foi indicado ao Oscar, não significa que ele será de novo. E segundo, que o fato de ele ter se acidentado não faz dele um cineasta melhor. Ou pior. Ele continua o mesmo.

    6. Enfim, não guardo muitas expectativas quanto à indicação. Acho que ficará para o próximo ano mais uma vez. Eu apostava em pelo menos outros cinco filmes: "A Suprema Felicidade", do Arnaldo Jabor (não vi ainda, mas tem peso); "As Melhores Coisas do Mundo", da Laís Bodanzky; "Cabeça a Prêmio", do Marco Ricca; "Hotel Atlântico", de Suzana Amaral; e "Bróder", de Jeferson De (não vi ainda, mas já ganhou Gramado e foi bem em Paulínia, tem peso também). Até "Chico Xavier" eu achava que seria uma escolha mais sensata (ou esperada) que "Lula" por tudo que já foi dito sobre o filme de Daniel Filho e pelo momento que nosso mercado atravessa.

    Segue o press-release do MinC:

    “Lula, o Filho do Brasil” é escolhido por unanimidade para concorrer à indicação ao Oscar 2011

    Pela primeira vez, Comissão de Seleção é ampliada para incluir representantes indicados pela sociedade civil

    Brasília, 23 de setembro de 2010 – O presidente da Academia Brasileira de Cinema, Roberto Farias, anunciou que, por opinião unânime da Comissão de Seleção, o longa-metragem “Lula, o Filho do Brasil” (dir. Fábio Barreto; Brasil, 2009) vai concorrer a uma indicação à categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira na 83ª Premiação Anual promovida pela Academy of Motion Picture Arts and Sciences - Oscar 2011. A decisão foi divulgada no final da manhã desta quinta-feira (23), na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

    “Votamos no filme que nos pareceu mais bem feito, que honra a cinematografia brasileira e tem como atriz Glória Pires, que se torna uma excelente candidata ao prêmio de Melhor Atriz”, explicou Roberto Farias. “Nossa posição não tem nenhuma ligação política. Lula é uma estrela aqui e fora daqui, internacionalmente conhecida”, completou.

    Agora, o filme concorrerá com produções de mais de 95 países à indicação final. Os cinco longas selecionados para concorrer ao Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira serão anunciados em 25 de janeiro do próximo ano. A cerimônia de premiação será realizada no dia 27 de fevereiro de 2011.

    Ao todo, 23 filmes brasileiros disputaram a chance para tentar uma vaga em um dos prêmios mais cobiçados da sétima arte foram: “A Suprema Felicidade”, “Antes que o Mundo Acabe”, “As Melhores Coisas do Mundo”, “Bróder”, “Carregadoras de Sonhos”, “Cabeça a Prêmio”, “Cinco Vezes Favela - Agora Por Nós Mesmos”, “Chico Xavier”, “É Proibido Fumar”, “Em Teu Nome”, “Hotel Atlântico”, “Lula, o Filho do Brasil”, “Nosso Lar”, “O Bem Amado”, “O Grão”, “Olhos Azuis”, “Os Inquilinos”, “Os Famosos e os Duendes da Morte”, “Ouro Negro”, “Quincas Berro D’água”, “Reflexões de um Liquidificador”, “Sonhos Roubados” e “Utopia e Barbárie”.

    Comissão de Seleção

    Este ano, pela primeira vez, a Comissão de Seleção foi ampliada e o Ministério da Cultura não foi a única instituição a indicar os membros dessa comissão que escolheu o concorrente brasileiro. O grupo é composto por nove representantes, indicados pela Academia Brasileira de Cinema (ABC), Agência Nacional de Cinema (Ancine) e pelo Ministério da Cultura (MinC). Veja a lista:

    Nome / Perfil / Indicado (a) por

    Roberto Farias / Cineasta, presidente da Academia Brasileira de Cinema / ABC

    Clélia Bessa / Produtora de cinema e professora da PUC-RJ / ABC

    Elisa Tolomelli / Produtora, diretora e roteirista de cinema / ABC

    Mariza Leão Salles de Rezende / Produtora de cinema e presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual do Rio de Janeiro (SICAV) / ABC

    Leon Cakoff / Crítico de cinema, criador e diretor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo / Ancine

    Márcia Lellis de Souza Amaral (Tata Amaral) / Cineasta / Ancine

    Cássio Henrique Starling Carlos / Jornalista e crítico de cinema / MinC

    Frederico Hermann Barbosa Maia / Assessor do Ministério da Cultura / MinC

    Jean Claude Bernardet / Cineasta, crítico cinematográfico, escritor, teórico e professor da UnB e da USP / MinC

    5 comentários:

    Anônimo disse...

    ABSURDO DOIS MAIORES QUE JÁ OUVI.

    BURRICE.

    Eles viram metade dos filmes???

    Thiago Melo disse...

    Isso é assombroso!!! Estamos vivendo em um estado de insanidade! O que está acontecendo com esse país????? Um filme RUIM, sofrível e demagógico como esse, que já é uma afronta ter sido feito com dinheiro público por suas notórias intenções eleitoreiras, a insanidade de ter sido o filme mais caro da história do país( sem utilizar o "nunca antes na história desse país")e agora isso???? A Arte o nosso último refúgio já era!

    Flávio disse...

    Começo a acreditar que realmente nossa democracia se foi...

    RENATO SILVEIRA disse...

    Devo fazer um adendo ao meu comentário: acredito que há politicagem na escolha, sim, mas não relacionada à eleição ou questões partidárias e eleitoreiras. Não consigo ver sentido nisso. A política que pode existir na seleção é de outro tipo e tem a ver com lobby feito pelos Barreto.

    Em tempo, como escrevi em minha crítica, não considero o filme de todo ruim. É apenas um filme raso e burocrático. O Fábio Barreto já fez pior.

    []s!

    Unknown disse...

    É realmente absurdo pensar em questões eleitoreiras na escolha do filme como representante... Quem pensa assim é quem tá por aqui com o PT e desconta até no filme sua frustração.

    Com certeza não foi a melhor escolha, 5x Favela, Bróder e Chico Xavier seriam opções mais interessantes... "A Suprema Felicidade" tá sendo massacrado pela crítica em geral, aparentemente o filme é ruim mesmo, portanto acho que não seria uma boa escolha mesmo.

     
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