Festival de Gramado e Kikito eu tenho a ver com isso?

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 05 agosto 2010



  • Começa nesta sexta-feira o 38º Festival de Gramado e, novamente, veremos surgir a questão: quando os filmes selecionados para esse tradicional evento serão lançados nos cinemas?

    Talvez demore entre seis meses e um ano - prazo habitual para a maioria dos filmes que são exibidos nos festivais brasileiros - talvez bem mais que isso. Talvez nunca sejam lançados nos cinemas. A crise da distribuição no Brasil não é nova, mas é sintomático que um festival como Gramado não consiga emplacar seus filmes no mercado. Aliás, premiações no Brasil são uma vergonha em termos de importância comercial. Todas. Não se salva nem o Festival do Rio, quanto mais o Prêmio Contigo. Tem filme que entra em cartaz mais valorizado pelo que conquistou no Festival do Zimbábue (com todo respeito que essa nação merece) do que em Gramado, Tiradentes, Brasília ou na Mostra de SP.

    A culpa muitas vezes nem é dos filmes. Não estou questionando a qualidade do que é produzido para os nossos festivais (aliás, uma mentalidade que tem tomado conta de vários realizadores, que parecem se contentar em fazer um cinema-umbigo, mas essa é outra discussão). A curadoria também não deve ser problematizada a princípio, pois tenho a firme convicção de que cada festival tem que ter sua autonomia e uma identidade bem definida, inclusive tendo a coragem de colocar na seleção filmes de diretores que ninguém nunca ouviu falar. A batata está assando nas mãos do júri, então?

    Não. A questão é que festival no Brasil não tem apelo comercial nenhum. Por que os cineastas brasileiros sempre correm atrás para divulgar seus filmes nos festivais estrangeiros? Porque querem respaldar seus trabalhos antes de vendê-los ao público. Mas o inverso nunca ocorre: qual cineasta estrangeiro fica louco para inscrever seu filme em um festival brasileiro? Nenhum, porque colocar "Vencedor do Festival de Gramado" no cartaz não significa nada. Infelizmente. O que falta talvez seja um marketing mais eficiente da própria organização dos festivais. E isso nem aquele que seria o "Oscar brasileiro" tem conseguido fazer.

    Só para recapitular: "Corumbiara", de Vincent Carelli, ganhou o Kikito de Melhor Filme e Melhor Direção no ano passado. Não tem previsão de estreia até hoje. Em 2008, quem ganhou foi "Nome Próprio", do Murilo Salles, que já estava em cartaz há cerca de um mês antes da realização do festival. Mas não me parece que vencer Gramado prolongou sua carreira nas salas. Em 2007, "Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais" venceu e levou um ano para chegar ao circuito, e mesmo assim passou em pouquíssimas salas. Se quem ganha o Kikito tem toda essa dificuldade, imagine quem não sai premiado?

    Qual desses teremos a chance de ver algum dia?

    Longas nacionais que concorrem no Festival de Gramado de 2010:

    "180º" – Eduardo Vaisman (Rio de Janeiro)
    "Diário de uma Busca" – Flavia Castro (Rio de Janeiro)
    "Enquanto a Noite Não Chega" – Beto Souza (Porto Alegre)
    "Não Se Pode Viver Sem Amor" – Jorge Durán (Rio de Janeiro)
    "O Último Romance de Balzac" – Geraldo Sarno (Rio de Janeiro)
    "Ponto Org" – Patricia Moran (São Paulo)
    "O Contestado – Restos Mortais" – Sylvio Back (Rio de Janeiro)

    Longas Estrangeiros

    "El Vuelco Del Cangrejo" – Oscar Ruiz Navia (Colômbia/França)
    "Historia De Un Dia" – Rosana Matecki (Venezuela)
    "La Vieja De Atras" – Pablo Jose Meza (Argentina/Brasil)
    "La Yuma" – Florence Jaugey (Nicarágua)
    "Mi Vida Con Carlos" – German Berger (Chile/Espanha/Alemanha)
    "Ojos Bien Abiertos: Un Viaje por la Sudámerica de Hoy" – Gonzalo Arijon (Uruguai/Argentina/França)

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