Não poderia ser diferente. O primeiro “Toy Story”, lançado em 1995, foi responsável por apresentar a Pixar ao mundo. De lá para cá, John Lasseter e seus companheiros consolidaram o trabalho do mais renomado estúdio de animação do mundo, posto antes ocupado pela Walt Disney Pictures que acabou tendo que comprar a Pixar para salvar a própria reputação. E foi justamente “Toy Story 3”, o pivô de uma negociação bilionária que foi boa para os dois lados. Ganhou a Disney, colocando Lasseter no comando criativo de seu departamento de animação, e ganhou a Pixar, que retomou o controle sobre suas mais estimadas propriedades: Woody, Buzz Lightyear, Rex, Sr. Cabeça de Batata, Slinky, Porquinho e toda a turma do quarto de Andy.
Numa comparação dentro da franquia, podemos dizer que, como o garoto-vândalo Sid do primeiro filme, a Disney ameaçou estragar a brincadeira da Pixar quando anunciou que iria produzir uma terceira aventura com os personagens, mesmo se a Pixar não topasse renovar o contrato que venceu com o lançamento de “Carros”. O estúdio, que detinha os direitos sobre a série, chegou até mesmo a divulgar uma sinopse: o terceiro filme giraria em torno de um recall de todos os modelos do Buzz Lightyear, e o patrulheiro espacial teria que ser devolvido à fábrica no Taiwan. Woody e os demais brinquedos partiriam, então, numa viagem para salvar o amigo.
Felizmente, ao retomar as rédeas de “Toy Story”, a Pixar colocou os pingos nos "is" e abandonou aquela ideia inicial. E fez o certo: concentrou-se em dar um desfecho para a história iniciada no longa original. Por mais que cada um dos episódios possua uma aventura diferente, podemos perceber que há uma trama principal que dá corpo à trilogia, que é a relação dos brinquedos com seu dono, Andy, ao longo dos 15 anos que separam as duas pontas da série.
É bacana perceber que para quem tinha a mesma idade de Andy em 1995, os três "Toy Story" formam praticamente uma narrativa em tempo real. No primeiro filme, o garoto está na melhor fase da infância, quando tudo é brincadeira. No segundo, lançado quatro anos mais tarde, em 1999, a relação dele com os brinquedos já não é mais tão inseparável e o tema do abandono é introduzido através da boneca Jessie. E agora, no terceiro filme - narrado desde o início em tom de despedida - Andy segue para a faculdade e a trupe de Woody precisa assegurar para si um futuro seguro: no sótão, vivendo por conta própria, ou numa creche, onde podem reencontrar aquilo que lhes dá um “sentido na vida”, novamente nas mãos de crianças.
Interessante notar aí como aquilo que seria inicialmente o equivalente a levar um idoso para um asilo se converte numa espécie de “fonte da juventude”. Os brinquedos já estão envelhecidos (e o cuidado com o detalhe, praxe da Pixar, pode ser notado no desgaste do tecido que cobre as orelhas do cão-mola Slinky, ou na cor desbotada do tiranossauro Rex), mas não são de forma alguma inválidos. Andy sabe disso, tal como qualquer um que até hoje guarda com carinho alguns dos bonecos, carrinhos etc. que lhe fizeram companhia na infância. E a Pixar, hoje um “jovem adulto” estúdio, se comporta aqui como Andy, pegando seus antigos brinquedos por uma última vez antes de seguir em frente e assumir novas responsabilidades.
Era exatamente esse tratamento que “Toy Story 3” merecia, ou melhor, precisava ganhar. Lasseter, agora, apenas assina o argumento, mas fez questão de chamar seus parceiros nos filmes anteriores para concluir a saga de Woody e Buzz: Andrew Stanton (diretor de “WALL•E” e que também escreveu os dois primeiros “Toy Story”) e Lee Unkrich (montador do primeiro filme e co-diretor do segundo). O novato no time é Michael Arndt, roteirista vencedor do Oscar por “Pequena Miss Sunshine” – filme que se relaciona com “Toy Story 3” já que, de alguma forma, ambos tratam de famílias disfuncionais.
Herdando de Lasseter o crédito-solo de direção, Unkrich mostra ser uma das melhores crias da Pixar, mais seguro do que Pete Docter que ano passado apresentou “Up – Altas Aventuras” (os dois inclusive trabalharam juntos em “Monstros S.A.”). Unkrich, aliás, tem até a capacidade de se tornar um diretor melhor do que Lasseter, que depois de “Carros” parece mais confortável em outras funções. Ainda que não seja habilidoso e preciso como Brad Bird (“Ratatouille”, “Os Incríveis”), ele toma decisões interessantes, como causar o estranhamento inicial da perspectiva de dentro do baú no quarto de Andy, local onde o olhar do público ainda não havia sido levado. E Unkrich tem calma e equilíbrio na construção da atmosfera melancólica que envolve o filme, guiando os personagens por uma última grande aventura que mescla tensão, sustos e ação em doses maiores, talvez até épicas, em relação aos dois longas anteriores. Claro, sem deixar de lado o humor que surge das peculiaridades de cada personagem: Buzz às voltas com seu chip de memória, o casal Cabeça de Batata com suas peças, Jessie e sua claustrofobia, sem falar nas novas caras, com destaque para o improvável Ken. (Notar ainda participação especial de Totoro, personagem clássico criado por Hayao Miyazaki, diretor de "A Viagem de Chihiro", a quem a Pixar sempre presta tributo, inclusive coordenando a dublagem americana de seus filmes.)
Ainda que apresente alguns probleminhas relativos à repetição de elementos – principalmente no que diz respeito ao vilão principal que se assemelha bastante ao do segundo filme – ou à simples omissão de informações (a desculpa para a ausência de Betty, a “namorada” de Woody, poderia ter sido melhor), “Toy Story 3” se equipara em qualidade aos dois primeiros episódios, com a vantagem de ser ainda mais bonito visualmente, graças ao refinamento da computação gráfica conquistado ao longo da última década – e o 3-D só contribui para isso. Se os fãs temiam por uma eventual falha, não se preocupem: a Pixar mostra que ninguém sabe brincar melhor com um brinquedo do que seu próprio dono.
Numa comparação dentro da franquia, podemos dizer que, como o garoto-vândalo Sid do primeiro filme, a Disney ameaçou estragar a brincadeira da Pixar quando anunciou que iria produzir uma terceira aventura com os personagens, mesmo se a Pixar não topasse renovar o contrato que venceu com o lançamento de “Carros”. O estúdio, que detinha os direitos sobre a série, chegou até mesmo a divulgar uma sinopse: o terceiro filme giraria em torno de um recall de todos os modelos do Buzz Lightyear, e o patrulheiro espacial teria que ser devolvido à fábrica no Taiwan. Woody e os demais brinquedos partiriam, então, numa viagem para salvar o amigo.
Felizmente, ao retomar as rédeas de “Toy Story”, a Pixar colocou os pingos nos "is" e abandonou aquela ideia inicial. E fez o certo: concentrou-se em dar um desfecho para a história iniciada no longa original. Por mais que cada um dos episódios possua uma aventura diferente, podemos perceber que há uma trama principal que dá corpo à trilogia, que é a relação dos brinquedos com seu dono, Andy, ao longo dos 15 anos que separam as duas pontas da série.
É bacana perceber que para quem tinha a mesma idade de Andy em 1995, os três "Toy Story" formam praticamente uma narrativa em tempo real. No primeiro filme, o garoto está na melhor fase da infância, quando tudo é brincadeira. No segundo, lançado quatro anos mais tarde, em 1999, a relação dele com os brinquedos já não é mais tão inseparável e o tema do abandono é introduzido através da boneca Jessie. E agora, no terceiro filme - narrado desde o início em tom de despedida - Andy segue para a faculdade e a trupe de Woody precisa assegurar para si um futuro seguro: no sótão, vivendo por conta própria, ou numa creche, onde podem reencontrar aquilo que lhes dá um “sentido na vida”, novamente nas mãos de crianças.
Interessante notar aí como aquilo que seria inicialmente o equivalente a levar um idoso para um asilo se converte numa espécie de “fonte da juventude”. Os brinquedos já estão envelhecidos (e o cuidado com o detalhe, praxe da Pixar, pode ser notado no desgaste do tecido que cobre as orelhas do cão-mola Slinky, ou na cor desbotada do tiranossauro Rex), mas não são de forma alguma inválidos. Andy sabe disso, tal como qualquer um que até hoje guarda com carinho alguns dos bonecos, carrinhos etc. que lhe fizeram companhia na infância. E a Pixar, hoje um “jovem adulto” estúdio, se comporta aqui como Andy, pegando seus antigos brinquedos por uma última vez antes de seguir em frente e assumir novas responsabilidades.
Era exatamente esse tratamento que “Toy Story 3” merecia, ou melhor, precisava ganhar. Lasseter, agora, apenas assina o argumento, mas fez questão de chamar seus parceiros nos filmes anteriores para concluir a saga de Woody e Buzz: Andrew Stanton (diretor de “WALL•E” e que também escreveu os dois primeiros “Toy Story”) e Lee Unkrich (montador do primeiro filme e co-diretor do segundo). O novato no time é Michael Arndt, roteirista vencedor do Oscar por “Pequena Miss Sunshine” – filme que se relaciona com “Toy Story 3” já que, de alguma forma, ambos tratam de famílias disfuncionais.
Herdando de Lasseter o crédito-solo de direção, Unkrich mostra ser uma das melhores crias da Pixar, mais seguro do que Pete Docter que ano passado apresentou “Up – Altas Aventuras” (os dois inclusive trabalharam juntos em “Monstros S.A.”). Unkrich, aliás, tem até a capacidade de se tornar um diretor melhor do que Lasseter, que depois de “Carros” parece mais confortável em outras funções. Ainda que não seja habilidoso e preciso como Brad Bird (“Ratatouille”, “Os Incríveis”), ele toma decisões interessantes, como causar o estranhamento inicial da perspectiva de dentro do baú no quarto de Andy, local onde o olhar do público ainda não havia sido levado. E Unkrich tem calma e equilíbrio na construção da atmosfera melancólica que envolve o filme, guiando os personagens por uma última grande aventura que mescla tensão, sustos e ação em doses maiores, talvez até épicas, em relação aos dois longas anteriores. Claro, sem deixar de lado o humor que surge das peculiaridades de cada personagem: Buzz às voltas com seu chip de memória, o casal Cabeça de Batata com suas peças, Jessie e sua claustrofobia, sem falar nas novas caras, com destaque para o improvável Ken. (Notar ainda participação especial de Totoro, personagem clássico criado por Hayao Miyazaki, diretor de "A Viagem de Chihiro", a quem a Pixar sempre presta tributo, inclusive coordenando a dublagem americana de seus filmes.)
Ainda que apresente alguns probleminhas relativos à repetição de elementos – principalmente no que diz respeito ao vilão principal que se assemelha bastante ao do segundo filme – ou à simples omissão de informações (a desculpa para a ausência de Betty, a “namorada” de Woody, poderia ter sido melhor), “Toy Story 3” se equipara em qualidade aos dois primeiros episódios, com a vantagem de ser ainda mais bonito visualmente, graças ao refinamento da computação gráfica conquistado ao longo da última década – e o 3-D só contribui para isso. Se os fãs temiam por uma eventual falha, não se preocupem: a Pixar mostra que ninguém sabe brincar melhor com um brinquedo do que seu próprio dono.
Toy Story 3 (2010, EUA)
direção: Lee Unkrich; roteiro: Michael Arndt; fotografia: Jeremy Lasky, Kim White; montagem: Ken Schretzmann; produção: Darla K. Anderson; com as vozes de: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Don Rickles, Michael Keaton, Wallace Shawn, John Ratzenberger, Estelle Harris, Blake Clark, R. Lee Ermey, Jeff Pidgeon, Bonnie Hunt, Whoopi Goldberg, Jeff Garlin, John Morris, Emily Hahn, Laurie Metcalf; estúdio: Pixar Animation Studios; distribuição: Walt Disney Pictures. 103 min
direção: Lee Unkrich; roteiro: Michael Arndt; fotografia: Jeremy Lasky, Kim White; montagem: Ken Schretzmann; produção: Darla K. Anderson; com as vozes de: Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Don Rickles, Michael Keaton, Wallace Shawn, John Ratzenberger, Estelle Harris, Blake Clark, R. Lee Ermey, Jeff Pidgeon, Bonnie Hunt, Whoopi Goldberg, Jeff Garlin, John Morris, Emily Hahn, Laurie Metcalf; estúdio: Pixar Animation Studios; distribuição: Walt Disney Pictures. 103 min
7 comentários:
Quero ver logo!
VOu nessa sexta...
depois comento aki
http://cinespaco.blogspot.com/
2010 tem sido um ano de despedidas para mim. Tive a despedida de Lost, a de 24 Horas e agora o tchau definitivo de Toy Story. Dessas três grandes despedidas, Toy Story foi a que mais me emocionou e me marcou.
Sou extremamente grato ao povo da Pixar que não deu o braço a torcer e fez questão de encerrar essa história da forma genial que deveria.
O momento em que os personagens dão as mãos uns aos outros foi o momento mais bonito que já vi no cinema, tanto a cena em si quanto a reação de dezenas de pessoas na sala emocionadas com o que era mostrado na telona. Momento único que encho o peito para falar "eu vi no cinema e chorei junto com mais trocentos marmanjões que cresceram acompanhando essa história".
Belíssimo filme, assim com a review.
E como você mesmo disse: "a Pixar mostra que ninguém sabe brincar melhor com um brinquedo do que seu próprio dono.
Poucos filmes me emocionaram como este esse ano...
Já considero um clássico.
http://cinespaco.blogspot.com/
xom certeza esse filme é e sempre vai ser meu filme preferido desde criança assisti 1 2 e vou ver o 3 tomare que me emocione pq gosto muito desse filme passa uma mensagem muito bonita melhor filme da minha vida
04/07 Anúncios do tamanho de prédios para promover "A Origem", novo filme do Christopher Nolan, nos EUA. Me lembro de ver pinturas parecidas em prédios aqui em Belo Horizonte no começo dos anos 90. Ainda é possível ver algumas no Centro.
Por que você não tira umas fotos dessas pinturas e posta no site pra comparar ? seria um post bacana.
Vou tentar, Caio. A ideia é boa. O problema é que agora moro longe do Centro e não costumo passar perto desses prédios quando vou para o trabalho. Mas se eu andar por lá esses dias eu vou tentar fotografar e coloco aqui.
[]s!
Buzz levou o Renato pro espaço? Que hiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaato!
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