O que "Crepúsculo" trouxe de bom?

por
  • VITOR DRUMOND em
  • 24 maio 2010



  • Nunca li um livro da saga "Crepúsculo". Até tentei. Não consegui passar da trigésima página. Achei chato. Mas isso não me dá o direito de escrever minha opinião sobre o livro como uma obra completa. Da mesma forma, os filmes. O dirigido por Catherine Hardwicke não me interessou. Também tentei ver quando passou na televisão, mas estava achando tudo tão bobo que preferi assistir a um seriado qualquer. Mas, novamente, não tenho a menor pretensão de escrever bem ou mal sobre um filme que não vi inteiro.

    Minha postura, acho, é rara. Todo mundo fala mal de "Crepúsculo" e suas sequências sem sequer terem assistido ou lido as obras. Já sabem que o filme é ruim e não precisam comprovar. Talvez por todo oba-oba criado em torno dos livros de Stephanie Meyer ou pelo comportamento virtual de boa parte de seus fãs (não podem ouvir uma crítica negativa a Robert Pattinson e companhia que atacam os detratores como se suas vidas dependessem disto) ou até pelos vários comentários negativos feitos por gente que já leu ou viu o filme, criou-se uma antipatia geral em relação aos vampiros teens.

    Não posso tecer opiniões – já que não li ou assisti – mas também não posso ser hipócrita. Não acho que "Crepúsculo" deve ser um exemplo de boa literatura ou bom cinema. Posso ser surpreendido, apesar de achar difícil. Mas tenho equilíbrio o suficiente para perceber os benefícios que o fenômeno da franquia trouxe para o mercado de entretenimento para adolescentes.

    Estão sempre à procura de explicações dos fenômenos. Qualquer ingrediente de uma receita pode ser visto como essencial para seu sucesso. E, na indústria cultural, esse ingredientes serão explorados separadamente para ver se darão certo sozinhos. Alguns deles são duvidosos, mas, se procurar, pode existir alguma coisa bacana na mistura do fenômeno.

    Por isso, a família Brontë agradece a Stephanie Meyer. Não sei em que circunstância o clássico “O Morro dos Ventos Uivantes” é citado na saga "Crepúsculo". Sei que é. E isso foi o suficiente para a obra de Emily Brontë ser notada de novo. E, na onda, “Jane Eyre”, da Irmã Charlotte Brontë, também entrou na lista de prioridades cinematográficas, assim como uma cinebiografia das autoras. E, pelo menos, as adaptações dos dois romances serão contadas para os jovens. O que significa que talvez, pela primeira vez, uma turma de adolescentes terá contato com clássicos da literatura.

    Por um minuto, podem parecer projetos desinteressantes. Mas quando ficamos sabendo dos cineastas por trás deles, a situação muda um pouco de figura. A nova versão cinematográfica de “O Morro dos Ventos Uivantes” será dirigida por Andrea Arnold, cineasta revelada em Cannes e realizadora do ótimo “Marcas da Vida” e do elogiado “Fish Tank”. Já “Jane Eyre” é um projeto de Cary Fukunaga, diretor de “Sim Nombre”, um dos filmes mais elogiados do ano passado, ganhador de diversos prêmios de produção estrangeira, mas que, por algum motivo não chegou por aqui. São projetos que até podem ter sido pensados há mais tempo. Mas o fator “Crepúsculo” ajudou no sinal verde.

    Outro ingrediente da saga vampiresca é o romance. Com o fenômeno, produtores concluíram que os adolescentes de hoje estão à procura de bons romances. E este foi o ponto de partida para o início da produção de um "Romeu e Julieta" para jovens, para o público dos fãs dos vampiros. Pode parecer um projeto oportunista, mas quem está por trás dele é Julian Fellowes, roteirista de projetos interessantes como "Assassinato em Gosford Park" e "A Jovem Rainha Vitória".

    São filmes com potencial que, se não fosse pelo sucesso de “Crepúsculo”, talvez não saíriam do papel. Por isso, se você não suporta Bella Swan e companhia, pense nisso. Tudo sempre tem um lado bom.

    8 comentários:

    Bárbara disse...

    "O morro dos ventos uivantes" e "Jane Eyre" são ótimos livros. Gostei muito do seu post e concordo com vse. Crepúsculo deixou coisas boas! Quem assistiu o filme pode até se interessar por esses livros. Na livraria mudaram a capa deles, colocando que são os livros lidos por Bella em Crepúsculo. Jovens que nunca se interessaram por leitura e leram apenas "Crepúsculo" ( HAHA) podem sentir interesse só por causa da saga. Já é um começo, não ? :D

    Anônimo disse...

    Bom além de Eyre Crepúsculo cita Debussy, consequentemente milhões de moças "baixam" Debussy nos seus ipods. Elas nunca sequer vão ouvir outra música que não Claire de Lune, mas já é um começo rsrs. Aliás acho Debussy um músico fantástico e fico feliz da indústria cultural disseminou um pouco da música dele.

    Rodrigo disse...

    O Morro dos Ventos Uivantes é o livro favorito de Bella Swan (se não me falha a memória). Fui ver Crepúsculo obrigado e até que gostei. Tem belas paisagens. O segundo filme é bem pior. O segredo do sucesso? Jane Austen não morreu e toda a "Saga Crepúsculo" pode ser facilmente vista como o "Orgulho e Preconceito" do séc. XXI feito especificamente para as jovens de hoje.

    Flávio disse...

    Assisti aos dois filmes da "saga" e penso que ambos são sofríveis, igualmente ruins e de um péssimo gosto terrível. Não dá pra salvar praticamente nada. Crepúsculo visto como Jane Austen? Tenho pena das jovens de hoje.

    Não vi nada de interessante que tenha saido dos filmes. Nem mesmo as adaptações citadas podem ser consideradas frutos do fenômeno Crepúsculo. O morro dos ventos uivantes teve várias outras adaptações e uma nova pode ser vista como um evento cíclico da indústria do cinema, ainda mais em tempos de roteiristas que adoram greves. E adaptações de textos mais clássicos para o público jovem também não é nada novo.

    Bárbara disse...

    Crepúsculo não pode ser visto como o "Orgulho e Preconceito" do séc. XXI. Não tem nada a ver! É triste essa comparação .

    Unknown disse...

    Crepúsculo é ruim, porque sabe que o seu público esta a procura de pose e não conteúdo(querem fazer parte de uma modinha). As referências são apenas uma forma de dizer que o livro carrega algo, como as piores novelas da globo que chegam a citar frases de Shakespeare(como em Crepúsculo)mas continuam no lugar comum. Ex: As novelas onde há um jovem casal apaixonado que é separado pela morte de um dos pombinhos e de alguma forma milagrosa consegue voltar ao seu amor (geralmente exibidas após malhação).

    VITOR DRUMOND disse...

    Oi pessoal.

    Valeu pelos comentários.

    Só um complemento: Não quis dizer neste post que Crepúsculo é uma obra melhor porque cita Emily Brontë ou Shakespere.

    E, acredito que, no cinema como indústria não sei se dá tanto para falar em eventos cíclicos. Foi relançado um "O Morro dos Ventos Uivantes" com os seguintes dizeres na capa: "o livro preferido de Bella Swan", e acho que um dos produtores da produção cinematográfica confirmou que Crepúsculo foi essencial para o filme sair mais rápido.

    Lembrando, não estou aqui dizendo que por isso é um filme bom ou um livro bom. Mas é, inegavelmente, um fenômeno.

    Guilherme Henrique disse...

    Crepusculo ao meu ver não trás nada que se possa aproveitar, nem para reafirmar a beleza de filmes antigos.

    Relançar um filme de tamanha magnitude sem se preocupar com a qualidade do mesmo ao converte-lo para o que é vendido hoje como produto de sucesso aos jovens é desesperador e desrespeitoso. Espero que tenham cuidado, embora já o condene por saber que farão para o público que aclama por um filme como este "crepusculo".

     
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