As coisas mudaram

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 27 abril 2010


  • Caros leitores,

    Eu não poderia começar este texto de outra forma a não ser com um pedido de desculpas e um agradecimento. As desculpas são, claro, pela ausência por mais de 40 dias. E o meu “muito obrigado” se deve à compreensão em relação à minha falta.

    Como eu já havia comunicado no Twitter, nos comentários e na Parabólica, nesse período estive envolvido com meu casamento e com mudança de apartamento, portanto, não tive como me dedicar ao cinematório. Aproveitei e também tirei uns dias apenas para descansar. Afinal, ninguém é de ferro.

    Mas agora estou de volta. E o segundo motivo deste post é anunciar mudanças. Oh! Posso ouvir os gritos desesperados e a música de suspense retumbando pela sala! Então, vamos por partes, certo?

    Já faz um tempo que tenho me sentido insatisfeito com os rumos que o cinematório tem tomado. Criei o blog em 2003, como válvula de escape, para que eu pudesse escrever com mais liberdade sobre cinema, sem a obrigação jornalística da faculdade ou do trabalho. De lá para cá, passei a me dedicar mais ao exercício da crítica de cinema, amadureci meu texto, chamei amigos para participar do blog ao meu lado, incrementamos várias coisas, criamos outras, ao ponto em que eu passei a considerar seriamente a transformação do blog em site, já que o número de acessos acompanhou (ou talvez tenha até superado) a evolução do cinematório ao longo desses sete anos.

    Mas é isso mesmo que devo/quero fazer? Transformar o que inicialmente seria um projeto experimental em trabalho? A resposta veio bem clara para mim nos últimos dois meses, durante os quais refleti bastante sobre a responsabilidade que essa transformação traria – tanto em relação a estabelecer uma nova rotina e uma nova dinâmica de trabalho quanto a ser honesto e transparente com vocês, nossos leitores.

    Pois, bem: o cinematório não vai virar um site. O cinematório não vai virar trabalho. Se o passo que eu decidisse dar fosse no sentido oposto, acreditem: isso aqui não iria durar mais seis meses.

    Pode parecer que estamos optando pelo comodismo de sermos um blog sem periodicidade fixa. E talvez, em parte, seja isso mesmo o melhor neste momento. Falo por mim - que obviamente tenho novas responsabilidades em minha vida pessoal, além do trabalho diário na Rádio Inconfidência - mas também falo pelo Guilherme, pela Mariana e pelo Vitor, que são pessoas pelas quais tenho muita estima e que, assim como eu, possuem responsabilidades maiores que o cinematório em suas vidas pessoais. Então, vamos ser sinceros e assumir nossas limitações. E, ao fazermos isso, o site ganha, porque poderemos respirar melhor e escrever com mais liberdade.

    Liberdade no sentido de não termos que ser um veículo em que uma pauta precisa ser cumprida. Pauta esta que, muitas vezes, nem somos nós que criamos, mas, sim, os distribuidores com seus calendários malucos de lançamentos e os estúdios com seus press-releases que são replicados em todos os cantos da web quase que automaticamente. Isso não quer dizer que vamos parar de escrever sobre filmes em cartaz nos cinemas. Na verdade, o que não queremos mais é a obrigação de cobrir todas as estreias – tarefa que, cada vez mais, sinto que reduz o saudável e necessário exercício da reflexão e relega o crítico ao serviço de pau-mandado de distribuidor (as cabines de imprensa, no fim das contas, servem só para isso, já que o que importa para o distribuidor é o texto publicado no dia da estreia - e, de preferência, até as 11 da manhã!).

    Quando digo que “as coisas mudaram”, ouvindo Bob Dylan cantar, é porque deixei de acreditar numa certa forma de encarar o “escrever sobre cinema”. Forma erroneamente pré-concebida de que ser crítico é ser o primeiro a ver e escrever sobre lançamentos, dar nota de 1 a 10, recomendar ou não recomendar tal filme baseado unicamente na minha opinião, usar um vocabulário distinto e rebuscado – bonito, sim, mas quantas vezes pedante... Esse conjunto forma aquela figurinha que é facilmente encontrada no nosso meio: o crítico que gosta de ser visto como autoridade e não percebe que se tornou autoritário, que não admite a própria arrogância quando alguém discorda dele, que passa a olhar de cima para baixo e esquece que, antes de crítico, ele é um espectador. E esquecer como é ser um espectador é terrível.

    Eu sinto que estou me transformando nisso. E se ser crítico é isso, não quero mais. Prefiro estudar e me reeducar a ver filmes. E se ser editor é fazer um veículo engessado, rotineiro, metódico, também prefiro jogar a toalha. Como editor do cinematório, minha obrigação é pautar nossa linha editorial e manter o equilíbrio da equipe. E nós estamos de acordo de que não precisamos ter a pretensão de ser uma empresa ou um veículo sério demais, intelectualizado demais, tampouco mais um site de críticas-notícias-calendário. Porque é nisso que o cinematório vinha se transformando. Parece que nos esquecemos de como é bom ser um blog. E de que "escrever sobre cinema" é algo muito, mas muito mais amplo do que aquilo que vinhamos nos propondo a fazer até agora.

    Acho que o tom da escrita pode estar assustando o nosso público mais fiel, mas peço calma. As mudanças virão a partir deste editorial, mas não será nada drástico ou repentino. A Parabólica vai continuar. O Telescópio vai continuar. O Sammie vai continuar. Talvez a única mudança mais acentuada e imediata seja o fim das notas e recomendações ao fim das críticas.

    Nosso sistema de avaliação surgiu em função da demanda dos leitores, e a atendemos de imediato. Mas sentimos que não está mais funcionando, por duas razões principais: 1) notamos que a maioria dos leitores tem sido motivada a deixar comentários com base na nota, e não no texto; e 2) não gostamos mesmo de dar notas. Então, sinto muito por quem curte cotações, mas elas não existirão mais por aqui. Acreditamos que o texto é suficiente. Penso em aproveitar o sistema de recomendação (“Não se culpe por não ver”, “Veja no cinema e compre o DVD” etc.) de outra forma, mas sem notas e não mais no fim dos textos.

    Quanto às demais mudanças, não vou anunciá-las, até porque não há o que enumerar. Digo apenas que, ao nos desamarrarmos, faremos com que o cinematório siga em frente mais livre e menos pretensioso. De ambição, nos basta continuar a assistir a todo tipo de filme, escrever com motivação e, com sorte, fazer assim um cinematório do qual vocês também gostem. E eu realmente espero que gostem.

    Um grande abraço,
    Renato.

    13 comentários:

    Flávio disse...

    A married man with a married mind...

    Felicidades nessa nova etapa de sua vida pessoal e mais ainda nos novos rumos do Cinematório!

    Pena que as notas acabaram kkkkkk sou viciado nelas! Mesmo preferindo eu mesmo atribuir uma nota ao filme e nunca desprezando o texto da crítica, mas a nota é um charme adicional!

    Bem, que bom que o temos de volta!

    Fred Burle disse...

    Renato, senti muita sinceridade nas suas palavras e concordo com boa parte delas, especialmente a esta loucura que é cumprir os prazos malucos que os distribuidores e seus calendários impõem.
    Sempre me monitoro muito para não chegar a este ponto e não me rendo a ver filmes pelos quais eu não teria interesse como espectador.
    Entendo a posição de vocês quanto às cotações. Eu continuo a fazê-las, não porque o público pede, mas porque eu me divirto com este exercício.
    Desejo muito sucesso na nova fase do Cinematório e muitas felicidades no casamento!

    Grande abraço!

    Luís Fontes disse...

    Um leitor pelo menos você não perdeu com essas mudanças, que elas venham para deixar esse blog tão prazeroso para quem o escreve como para quem o lê. Boa sorte na nova fase da sua vida e do blog, abraços!

    Caio disse...

    Me frequento esse site já faz um ano, uma das coisas que sempre gostei foram as noticias da Parabolica, que de vez em quando vinham com um comentáriozinho ao lado, deixando tudo mais divertido, o mais legal era que eu não achava essas noticias nos sites que acesso como Judão, Omelete e o Blog do Rubinho, pode até que existam outros sites brasileiros que divulguem o que é postado aqui, mas me apeguei ao cinematório, achava um blog charmoso, algo influênciado até mesmo pela cor de vinho que predomina no layout.

    Pelo que entendi as criticas não serão restritas à lançamentos, tudo bem, gostei da idéia, mas ficarei em profunda agonia se caso não houver critica de certos lançamentos que virão por aí, aliás nunca é tarde para se fazer uma sobre o Zona Verde do Greengrass, e o Chico Xavier ? queria muito ver um critica tua e do Guilherme, o Pablo Villaça deu 4 estrelas !

    Darei uma sugestão, posts de humor e pequenas reflexões poderiam ganhar espaço na pagina principal.

    Se mudarem o layout, por favor mantenham esse cor de vinho !

    É só isso Renato, sucesso aí nessa nova fase do Cinematório. Agora além do meu nome, usarei meu sobrenome nos comentários, é Cardoso.

    palilo disse...

    Isso ai Renato, eu comecei a acessar esse site a pouco tempo e gostei bastante, e com essa seu post parece que vou gostar ainda mais...

    Ninguém precisa de mais um site de notícias de filmes, agora um site com textos de qualidades falando sobre filmes bons e não só blockbuster é muito bem vindo.

    Sucesso!

    tatiana disse...

    Renato, adoro cinema desde a adolescência quando ficava enfurnada nos festivais do estação botafogo aqui no rio, não os grandões mas uns pequenos e ótimos sobre um autor e assim descobri truffaut, luis malle, bergmam, theo angelopoulus, satyajit ray, ozu, murnau e por ai vai... bem não sou jornalista sou médica mas já li alguns livros sobre cinema e abominava a critica impressa feita atualmente que me parece mais produto de "assessoria de imprensa" dos filmes que outra coisa. Conhecer seu blog foi um alivio, pois ppte as suas observações são muitas vezes pertinentes. nunca comento mas hoje acho que vc merece. parabéns pela decisão, e pela nova vida menos é mais! continue escrevendo com prazer quando houver algo a ser escrito. grande abraço

    Unknown disse...

    Foi chata essa ausência nessas últimas semanas mas foi completamente compreensível. Alias, parabenizo pela nova vida!
    Certamente o Cinematório está muito diferente do que ele era há uns 3 anos. Sinto falta de posts mais pessoais, como aquele de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças que tenho vontade de reler mas foi perdido no arquivo (você ainda tem?). Confesso que não me incomoda esse Cinematório atual, que tentava seguir um deadline semanal para cobrir as estréias de sexta-feira, porém, não me chatearia se essa deadline fosse deixada de lado, afinal, esse é um blog e não um portal.
    Mudanças são bem vindas e, se for para deixar o blog mais parecido com suas raízes, melhor ainda.
    Welcome back!

    Vinicius Colares disse...

    Que bom que o cinematorio voltou, agora deixe pelo menos as recomendações, "não se preocupe por não ver" etc.!
    Boa Sorte!

    Anônimo disse...

    Oi Renato,
    que bom que vc está de volta... Seus comentários tb fizeram muito falta no Plugue, da Inconfidencia. rs... A gente só abusando de vc, né?
    Adorei esse seu texto, muito bacana suas colocações e super compreensíveis, está mais do que certo, basta dessas milhares de pressões na vida... e que Deus abençoe a nova fase pessoal.
    bjim
    Flávia Moreira

    RENATO SILVEIRA disse...

    Caríssimos, fico absurdamente feliz e aliviado pela compreensão que tem sido manifestada aqui e no Twitter.

    Só algumas considerações a mais: as críticas não vão acabar, podem ficar tranquilos, inclusive as de lançamentos. Só seremos mais seletivos. "Zona Verde" é um filme obrigatório, por exemplo. Já até tenho a base do texto pronta, pois gravei um comentário a respeito dele lá para a Inconfidência. "Chico Xavier", "Como Treinar Seu Dragão" são filmes que eu também queria ter visto. "Chico" eu talvez até assista ainda, mas "Dragão" eu queria ter visto em 3D e já saiu daqui de BH.

    Quanto à cor vinho do layout, ela será mantida sempre!

    O texto de "Brilho Eterno": sim, eu ainda tenho! Vou republicar, sim.

    As recomendações serão aproveitadas, mas não nas críticas. Mais em breve (eu espero).

    Flavinha, eu também estava com saudades de colaborar com o Plugue hehehe.

    []s!

    Unknown disse...

    Bem... depois de tantos anos lendo o blog, resolvo comentar. Olha, eu gosto das notas, mas cada um com seu cada um. E fico feliz, sério, que vcs voltem a postar por aqui. E vou começar a comentar os filmes tb. Falow...

    Cecilia disse...

    Eu gosto do clima despretencioso do Cinematório - inclusive ao divulgar as notícias ao lado. Nunca vi esse lugar como "críticas de filmes" - que sempre me pareceu algo "via única", ou seja, escreveu, acabou -, mas sim como "textos sobre filmes que dão abertura à discussão" (apesar de ser uma das que pouco comentam, até porque sempre me acho meio idiota em comentários, mas isso é problema meu hahahaha).

    Tenho um blog de cinema, assim como mil outros tantos, porém, é o prazer de escrever sobre este que me agrada, assim como me dá gosto ler textos alheios sobre o mesmo tópico, com a mesma distinção. Então fico feliz de ver o Cinematório de volta à velha forma!

    Boa sorte! E parabéns pelo casório :)

    Publicador disse...

    Fala mew !

    Bom retorno, sucesso em sua nova empreitada e muita felicidade em sua vida pessoal !

    Abc
    Edson

     
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