“Coco Antes de Chanel” é o que podemos chamar de um filme correto. A história mostra a vida de Gabrielle Chanel, moça pobre e órfã que trabalhava como cantora e costureira para se manter. Após se envolver com um milionário francês, Coco vai viver na casa dele, sem ter sido convidada. Com poucas roupas em seu armário e um senso crítico que repudiava os frufrus e babados dos modelos femininos usados no início do século 20, ela começa a transformar as peças de seu amante, Balsan (Benoît Poelvoorde), para compor seu figurino.
A diretora Anne Fontaine, também responsável pelo roteiro ao lado de Camille Fontaine, acerta a mão ao mostrar a criatividade e a ousadia da mulher que revolucionou a moda, criando coisas que ainda hoje – quase quarenta anos após sua morte – são símbolos de elegância e sobriedade. Para dar ênfase a isso, Fontaine realiza uma das mais belas cenas do filme. A moça trajando um vestido preto (sem corpete!) com decote aberto em “v” e caimento solto em meio a uma multidão de mulheres com vestidos brancos, com rendas, corpetes que prendem a respiração e saias rodadas e volumosas.
Grande parte desse crédito deve ser dado à figurinista Catherine Leterrier, que se inspira em modelos reais para criar seu trabalho. Na última cena, a réplica de uma roupa e acessórios usados por Chanel em uma das fotos que circulam pela internet é impecável.
Mas, certas falhas ofuscam um pouco o brilho da ótima história que Anne Fontaine tem em mãos. Algumas cenas poderiam explorar melhor a personalidade forte e a sensibilidade aguçada de Chanel. Ao invés disso, vemos Audrey Tautou (perfeita para o papel) vivendo momentos de genialidade retratados com uso de uma fórmula já pronta e gasta – a atriz compenetrada trabalhando em silêncio com destaque de uma música de “momento criativo”, compondo um sobe som.
Antes de ver o filme, li críticas que o taxavam de “previsível”. E aí está outro problema. Não acredito que previsibilidade seja a palavra certa para ser usada quando se trata de uma biografia. Todos sabem o que aquela mulher será quando a sessão chegar ao final. O problema está em não ousar criar fórmulas diferentes para aqueles momentos que não se sabe ao certo se existiram ou como aconteceram, momentos de “sacação”. No lugar disso, Anne mais uma vez esbarra nos clichês das receitas prontas. Um exemplo: mostrar Gabrielle relembrando seu falecido grande amor (momento flashback) ignorando o desfile de suas peças e os aplausos para suas criações.
Porém, uma escolha acertada deve ser ressaltada. Diante da possibilidade de usar a ausência de uma família e a juventude difícil para vender a vida Chanel como uma história de superação, Fontaine recua. Em alguns momentos, ela parece se sentir tentada a seguir por esse caminho, mas retrocede antes de cometer grandes danos a narrativa.
Com trilha sonora de Alexandre Desplat, que resgata os sucessos da França da primeira metade dos anos 1900, e belas locações, “Coco Antes de Chanel” consegue tampar um pouco das falhas deixadas por roteiro e direção. E nós, mulheres, saímos do cinema agradecidas pelo fim dos corpetes e pela divulgação da calça feminina. Viva a beleza aliada ao conforto!
A diretora Anne Fontaine, também responsável pelo roteiro ao lado de Camille Fontaine, acerta a mão ao mostrar a criatividade e a ousadia da mulher que revolucionou a moda, criando coisas que ainda hoje – quase quarenta anos após sua morte – são símbolos de elegância e sobriedade. Para dar ênfase a isso, Fontaine realiza uma das mais belas cenas do filme. A moça trajando um vestido preto (sem corpete!) com decote aberto em “v” e caimento solto em meio a uma multidão de mulheres com vestidos brancos, com rendas, corpetes que prendem a respiração e saias rodadas e volumosas.
Grande parte desse crédito deve ser dado à figurinista Catherine Leterrier, que se inspira em modelos reais para criar seu trabalho. Na última cena, a réplica de uma roupa e acessórios usados por Chanel em uma das fotos que circulam pela internet é impecável.
Mas, certas falhas ofuscam um pouco o brilho da ótima história que Anne Fontaine tem em mãos. Algumas cenas poderiam explorar melhor a personalidade forte e a sensibilidade aguçada de Chanel. Ao invés disso, vemos Audrey Tautou (perfeita para o papel) vivendo momentos de genialidade retratados com uso de uma fórmula já pronta e gasta – a atriz compenetrada trabalhando em silêncio com destaque de uma música de “momento criativo”, compondo um sobe som.
Antes de ver o filme, li críticas que o taxavam de “previsível”. E aí está outro problema. Não acredito que previsibilidade seja a palavra certa para ser usada quando se trata de uma biografia. Todos sabem o que aquela mulher será quando a sessão chegar ao final. O problema está em não ousar criar fórmulas diferentes para aqueles momentos que não se sabe ao certo se existiram ou como aconteceram, momentos de “sacação”. No lugar disso, Anne mais uma vez esbarra nos clichês das receitas prontas. Um exemplo: mostrar Gabrielle relembrando seu falecido grande amor (momento flashback) ignorando o desfile de suas peças e os aplausos para suas criações.
Porém, uma escolha acertada deve ser ressaltada. Diante da possibilidade de usar a ausência de uma família e a juventude difícil para vender a vida Chanel como uma história de superação, Fontaine recua. Em alguns momentos, ela parece se sentir tentada a seguir por esse caminho, mas retrocede antes de cometer grandes danos a narrativa.
Com trilha sonora de Alexandre Desplat, que resgata os sucessos da França da primeira metade dos anos 1900, e belas locações, “Coco Antes de Chanel” consegue tampar um pouco das falhas deixadas por roteiro e direção. E nós, mulheres, saímos do cinema agradecidas pelo fim dos corpetes e pela divulgação da calça feminina. Viva a beleza aliada ao conforto!
nota: 7/10 –- vale o ingresso
Coco Antes de Chanel (Coco Avant Chanel, 2009, França)
direção: Anne Fontaine; roteiro: Anne Fontaine, Camille Fontaine (baseado no livro de Edmonde Charles-Roux); fotografia: Christophe Beaucarne; montagem: Luc Barnier; música: Alexandre Desplat; produção: Simon Arnal, Caroline Benjo, Philippe Carcassonne, Carole Scotta; com: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde, Alessandro Nivola, Marie Gillain, Emmanuelle Devos, Régis Royer; estúdio: Warner Bros., Canal+, Scope Pictures; distribuição: Warner Bros. 105 min
direção: Anne Fontaine; roteiro: Anne Fontaine, Camille Fontaine (baseado no livro de Edmonde Charles-Roux); fotografia: Christophe Beaucarne; montagem: Luc Barnier; música: Alexandre Desplat; produção: Simon Arnal, Caroline Benjo, Philippe Carcassonne, Carole Scotta; com: Audrey Tautou, Benoît Poelvoorde, Alessandro Nivola, Marie Gillain, Emmanuelle Devos, Régis Royer; estúdio: Warner Bros., Canal+, Scope Pictures; distribuição: Warner Bros. 105 min
1 comentários:
Gostei muito do seu post. Eu sai do cinema esperando mais do filme, mas com certeza valeu o ingresso.
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