Antes de “Lula, O Filho do Brasil” ser lançado, surgiu a polêmica sobre o filme ter um possível caráter eleitoreiro. Não creio que, mesmo se fosse um panfleto, o longa de Fábio Barreto teria poder para mudar algum resultado nas urnas. Primeiro, porque o filme não possui foco no lado partidário de Lula, mas, sim, no lado humano. É a história de um brasileiro como qualquer um de nós. E as melhores partes do filme estão aí, principalmente nos blocos que remontam sua infância, adolescência e parte da vida adulta – até ele perder a primeira esposa.
Em segundo lugar, vai servir como propaganda eleitoral para quem um filme que está sendo lançado no último ano do mandato de Lula – quando ele não pode se reeleger e, aparentemente, não possui um sucessor que carregue o mesmo carisma ou a mesma história de vida? Então, não sejamos ingênuos, pois a polêmica é, como dizem, “intriga da oposição”.
O que devemos discutir é a necessidade de este filme existir agora, neste momento. Ao que parece, o resultado é fruto da ansiedade (para não dizer “oportunismo”) da família Barreto. Temos na tela um produto inacabado, em que o recorte da vida de Lula é claramente uma tentativa de evitar pisar na seara da política.
O tom episódico e linear da narrativa quase transforma filme em minissérie, especialmente na fase adulta de Lula, já que a infância no nordeste é filmada por Barreto com uma delicadeza de certa forma surpreendente (uma provável homenagem ao trabalho do pai na antológica fotografia de “Vidas Secas”). A intenção é contar a história do Lula não-presidente e, aí, ao fazer um esforço descomunal para não criar as polêmicas que a oposição tanto queria, Barreto faz um filme tão imparcial que chegar a ser uma biografia puramente burocrática.
Apesar de ser interpretado com competência por Rui Ricardo Dias, o Lula do filme não se parece em nada com o Lula da “vida real”, fazendo aí uma comparação grosso modo. Não é que Barreto isente seu protagonista da ideologia que tornou tão popular o líder sindical hoje presidente da República, mas o corte entre o Lula-personagem e o Lula-verdade, já ao final do filme, é brusco demais para que possamos entender por completo esse fenômeno político. Tampouco o homem, já que Barreto não consegue concluir o efeito de redenção que busca ao associar os feitos de Lula à admiração dele pela mãe (algo que Breno Silveira alcança em "2 Filhos de Francisco", filme-modelo para Barreto aqui).
Lula sem política não é Lula – e sua história, gostem ou não, é boa demais para ser contada pela metade. Por isso a pergunta: precisávamos desse filme agora? Os documentários "Peões", de Eduardo Coutinho, e "Entreatos", de João Moreira Salles, já haviam dado conta do recado, mas não são filmes para passar em shopping e depois na TV. De qualquer forma, imagino se Coutinho e Salles não pensam em fechar uma trilogia no fim do ano...
Em segundo lugar, vai servir como propaganda eleitoral para quem um filme que está sendo lançado no último ano do mandato de Lula – quando ele não pode se reeleger e, aparentemente, não possui um sucessor que carregue o mesmo carisma ou a mesma história de vida? Então, não sejamos ingênuos, pois a polêmica é, como dizem, “intriga da oposição”.
O que devemos discutir é a necessidade de este filme existir agora, neste momento. Ao que parece, o resultado é fruto da ansiedade (para não dizer “oportunismo”) da família Barreto. Temos na tela um produto inacabado, em que o recorte da vida de Lula é claramente uma tentativa de evitar pisar na seara da política.
O tom episódico e linear da narrativa quase transforma filme em minissérie, especialmente na fase adulta de Lula, já que a infância no nordeste é filmada por Barreto com uma delicadeza de certa forma surpreendente (uma provável homenagem ao trabalho do pai na antológica fotografia de “Vidas Secas”). A intenção é contar a história do Lula não-presidente e, aí, ao fazer um esforço descomunal para não criar as polêmicas que a oposição tanto queria, Barreto faz um filme tão imparcial que chegar a ser uma biografia puramente burocrática.
Apesar de ser interpretado com competência por Rui Ricardo Dias, o Lula do filme não se parece em nada com o Lula da “vida real”, fazendo aí uma comparação grosso modo. Não é que Barreto isente seu protagonista da ideologia que tornou tão popular o líder sindical hoje presidente da República, mas o corte entre o Lula-personagem e o Lula-verdade, já ao final do filme, é brusco demais para que possamos entender por completo esse fenômeno político. Tampouco o homem, já que Barreto não consegue concluir o efeito de redenção que busca ao associar os feitos de Lula à admiração dele pela mãe (algo que Breno Silveira alcança em "2 Filhos de Francisco", filme-modelo para Barreto aqui).
Lula sem política não é Lula – e sua história, gostem ou não, é boa demais para ser contada pela metade. Por isso a pergunta: precisávamos desse filme agora? Os documentários "Peões", de Eduardo Coutinho, e "Entreatos", de João Moreira Salles, já haviam dado conta do recado, mas não são filmes para passar em shopping e depois na TV. De qualquer forma, imagino se Coutinho e Salles não pensam em fechar uma trilogia no fim do ano...
nota: 6/10 -- veja sem pressa
Lula, o Filho do Brasil (2010, Brasil)
direção: Fábio Barreto; roteiro: Daniel Tendler, Denise Paraná, Fernando Bonassi (baseado no livro de Denise Paraná); fotografia: Gustavo Hadba; montagem: Letícia Giffoni; música: Antônio Pinto, Jaques Morelenbaum; produção: Paula Barreto, Romulo Marinho Jr.; com: Rui Ricardo Diaz, Glória Pires, Cléo Pires, Juliana Baroni, Milhem Cortaz, Lucélia Santos, Antônio Pitanga, Celso Frateschi, Marcos Cesana, Sóstenes Vidal, Antonio Saboia; estúdio: LC Barreto, Filmes do Equador, Intervídeo Digital; distribuição: Dowtown Filmes. 128 min
direção: Fábio Barreto; roteiro: Daniel Tendler, Denise Paraná, Fernando Bonassi (baseado no livro de Denise Paraná); fotografia: Gustavo Hadba; montagem: Letícia Giffoni; música: Antônio Pinto, Jaques Morelenbaum; produção: Paula Barreto, Romulo Marinho Jr.; com: Rui Ricardo Diaz, Glória Pires, Cléo Pires, Juliana Baroni, Milhem Cortaz, Lucélia Santos, Antônio Pitanga, Celso Frateschi, Marcos Cesana, Sóstenes Vidal, Antonio Saboia; estúdio: LC Barreto, Filmes do Equador, Intervídeo Digital; distribuição: Dowtown Filmes. 128 min
3 comentários:
Tenho visto em alguns lugares (aqui inclusive), pessoas dizerem que esse filme do Lula não tem um carater eleitoreiro, que tenha o intuito de beneficiar o Lula na proxíma eleição, pelo fato simples (simples na opinião de quem afirma, que não é propaganda eleitoreira), de Lula não ser candidato.
Bem não vi o filme ainda, e nem vou ve-lo tão cedo, visto que não irei ao cinema ve-lo, somente o assistirei quando sair em DVD.
Mas o fato de Lula não ser candidato, não é impedimento para que o mesmo lucre com a boa (?) imagem que é mostrada sobre ele. E que não tenha sido feito com esse intuito.
Putz! O cara tem uma canditada, indicada por ele , e que o mesmo quer que ganhe a eleição, para que seu partido (com seus companheiros) se perpetue no poder, para que sua linha de trabalho, obra, etc, tenha continuidade.
Somente sendo muito ingenuo (ou coisa pior), ou achando que nós somos totalmente ingenuos (ou coisa pior), para não perceber o obvio.
Poxa se uma obra do alcance de um filme exibido no Brasil inteiro, com propaganda na maior emissora de TV do Brasil, pinta um retrato extremamente favorável do atual presidente (que, não esqueçamos, quer fazer seu sucessor), o que vc acha que pode deduzir o povão que vota (obrigatoriamente)???
Acho que não preciso nem explicar, mas tentarei assim mesmo, traçar uma linha de raciocinio possível.
_ Poxa! Um homem tão bom, assim, tão honesto, tão preocupado com nós...; não iria indicar alguem que não fosse no minimo tão esforçada e honesta quanto ele! Tái, vou votar na candidata dele.!
xlucas
http://womni.blogspot.com
Renato, desculpe se o tom desse post anterior, soou meio ofensivo, agressivo. Juro que não foi essa a intenção.
É que postei esse comentario no blog do Pablo, e simplesmente (por preguiça, cansaço :) ) o colei aqui; já que ambos levantaram a mesma tese (Lula não candidato).
E como o Pablo tem um estilo quase diametralmente oposto ao seu, meus comentarios lá costumam ser um pouco mais incisivos, provocativos...
Bem, se soei ofensivo, grosseiro... me desculpe.
xlucas
http://womni.blogspot.com
Esquenta, não, xlucas. Com relação ao filme, como você não viu, está falando o que supõe que o filme mostra. Acredite: ele não pinta o Lula como o salvador da pátria. Os exemplos de honestidade etc. que mostram no Lula do filme são os mesmos exemplos que qualquer pessoa de bem pode dar. Há um romantismo na biografia? Sim. Mas não é romantismo partidário. Sobre isso ser possivelmente favorável à Dilma, creio que será em uma parcela mínima. Quem não pensa em votar nela, não vai mudar de ideia porque viu este filme. Quem vai votar porque é a candidata do Lula, vai votar de qualquer jeito, mesmo se o filme não existisse.
[]s.
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