Amor Sem Escalas

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 26 janeiro 2010


  • Jason Reitman fez o impensável em seu terceiro longa-metragem, “Amor Sem Escalas”: contar uma história de amor, típica de uma comédia romântica, e ao mesmo tempo promover uma reflexão sobre a crise econômica internacional.

    Como o sistema capitalista, e aquilo que o personagem de George Clooney acaba por representar, o filme funciona em um ciclo. “Amor Sem Escalas” trata de um executivo especializado em demitir funcionários para empresas que estão promovendo cortes em suas folhas de pagamento. E conhecemos este sujeito justamente durante a onda de demissões que atingiu em cheio os Estados Unidos nos dois últimos anos.

    Assim como o protagonista, Reitman tenta enxergar a crise como um novo ponto de partida, uma chance de renascer – mas, no fim, o retorno à situação anterior surge como inevitável. Você vive num sistema e está condenado a seguir o fluxo. A reinvenção, na verdade, não passa de uma ilusão.

    Olhando assim, parece que “Amor Sem Escalas” carrega uma mensagem bastante pessimista e cética, mas talvez seja isto mesmo que é necessário dizer neste momento em que há uma tentativa de se reerguer da lama. Ao contrário de um embuste como "Quem Quer Ser um Milionário?", abraçado sem restrições no calor da moda "Yes, We Can", o filme de Reitman diz que altos e baixos virão e irão continuamente. Ele não ilude a platéia com a aparência de que os bons momentos irão durar para sempre como num conto de fadas conhecido como "Sonho Americano".

    O bom de “Amor Sem Escalas”, além dessa maneira de lidar com a crise econômica e contar a história de um homem individualista por vocação, é que Reitman se despe dos maneirismos de seus dois filmes anteriores, nos quais tentou criar uma textura pouco sutil de filme indie (um mal que assola grande parte da produção americana, na verdade). Apesar de ainda voltar um pouco a esse estilo - principalmente na tentativa de fazer montagens engraçadinhas com tomadas curtas, quando um plano fixo resolveria o problema - agora, o cineasta assume uma estética mais clássica, de cinemão comercial feito para Oscar. O problema maior que continua é a falta de inventividade na composição dos planos, ainda que o filme possua uma apresentação que de forma alguma fira os olhos. É apenas correta. E careta.

    A relação mais próxima de "Amor Sem Escalas" é com "Obrigado Por Fumar", que também trata de personagens que habitam o mundo corporativo. Reitman volta a trabalhar em cima das peculiaridades desse universo, como na cena em que os personagens de Clooney e Vera Farmiga exibem suas coleções de cartões magnéticos. E esse é o ponto de partida para que o filme chegue ao lado humano, por baixo do terno, daquelas pessoas.

    Reitman demonstra ter afeto por essa gente engravatada e engomada que, sob a aparência séria e cinzenta, são pessoas que pedem por momentos de digressão e falta de compromisso, seja mantendo uma relação sexual furtiva, seja entrando numa festa como penetras, seja andando descalços na praia à noite. Isso é o que há de melhor na relação entre personagem e espectador proposta, e fica fácil entender porque este é um filme tão querido, principalmente pelos americanos, que têm muito mais com que se identificar na tela que qualquer espectador fora dos EUA.

    Todo o elenco está ótimo e a trilha sonora é muito bem selecionada, como já ocorria em “Obrigado Por Fumar” e “Juno”. O filme se arrasta um pouco nos 20 minutos finais, quando Reitman parece querer amarrar todas as pontas soltas. Mas o texto é bom, tem falas e diálogos inspirados. É uma comédia dramática que, no maior dos elogios, diminui a distância que separa Reitman de um James L. Brooks. Mas ele ainda tem um longo caminho pela frente para conseguir chegar mais perto. Felizmente, parece que será prazeroso para nós acompanhá-lo.

    nota: 8/10 -- vale o ingresso

    Amor Sem Escalas (Up in the Air, 2009, EUA)
    direção: Jason Reitman; roteiro: Jason Reitman, Sheldon Turner (baseado no livro de Walter Kirn); fotografia: Eric Steelberg; montagem: Dana E. Glauberman; música: Rolfe Kent; produção: Jeffrey Clifford, Daniel Dubiecki, Ivan Reitman, Jason Reitman; com: George Clooney, Vera Farmiga, Anna Kendrick, Jason Bateman, Amy Morton, Melanie Lynskey, J.K. Simmons, Sam Elliott, Danny McBride, Zach Galifianakis; estúdio: Paramount Pictures, Cold Spring Pictures, DW Studios, The Montecito Picture Company, Rickshaw Productions, Right of Way Films; distribuição: Paramount Pictures. 109 min

    2 comentários:

    Anônimo disse...

    Filme horrível. Deviam pagar a gente pra ver um filme com qualidade técnica tão baixa e cenas apáticas.

    timewillcome disse...

    Bom filme, divertido, intrigante e inteligente.
    Diferente de filmes felizes e bobos, ele é um solitário por natureza, e assim o será até o fim, nao muda sua personalidade "aprendendo que a familia é algo insubstituivel", como 99% dos filmes hollywoodianos ensinam.
    A familia é algo maravilhoso, mas esse tipo de filme cansa.
    E "AMOR SEM ESCALAS" foge dessa linha.

    Bom filme, gostei.

     
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