2012

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 16 novembro 2009



  • “Terremoto”. “Vulcano”. “Turbulência”. “Poseidon”. “Titanic”. “Guerra dos Mundos”. Todos são filmes-desastre e “2012” tem um pouco de cada um. Especialista no assunto, tendo dirigido tantos outros títulos do gênero, entre eles “Independence Day” e “O Dia Depois de Amanhã”, Roland Emmerich parece tentar fazer aqui o filme-desastre definitivo, quase que numa homenagem a todos eles e a si próprio. Afinal, uma das primeiras cenas – em que o cientista interpretado por Chiwetel Ejiofor toma conhecimento da catástrofe iminente – é idêntica, praticamente uma refilmagem com os mesmos diálogos da cena equivalente de “O Dia Depois de Amanhã”. Troque apenas os gases de efeito estufa por neutrinos solares.

    Emmerich nunca foi bom diretor, mas mantém uma obra coerente, o que lhe garante o status de autor. Ora, Michael Bay também é autor. Mas se, como Bay, Emmerich não tem um senso estético bem apurado, ao menos, ao contrário de Bay, ele não desvaloriza o próprio trabalho e opta por tomadas de duração moderada nas cenas de ação, que são a razão de sua carreira existir. Geralmente, ele usa planos abertos e aéreos, o que permite à platéia desfrutar o espetáculo visual maciço desse verdadeiro disaster-porn. E é curioso notar que essas sequências quase sempre acabam com a própria câmera sendo destruída, seja por uma nuvem de poeira, pelo fogo ou por uma enxurrada. Não há o pós-desastre.

    Enquanto Emmerich dá tapas nas próprias costas, criando terremotos e maremotos cada vez maiores, reconfigurando a cartografia do mundo ao seu gosto, ele não percebe que transforma “2012” em um filme cada vez mais maçante com o passar do tempo. Isto porque o cineasta se permite “criar” (entre aspas mesmo, porque tudo ali é estereótipo) personagens sobre os quais se debruça ao longo de cansativas duas horas e meia de dramas absurdamente superficiais. Se você viu o trailer, saiba que as cenas de destruição não vão muito além daquilo. Na verdade, é como se Emmerich tivesse pegado o trailer e inserido, entre cada tomada de CGI, mil clichês reciclados de outros filmes-desastre junto com profecias e teorias da conspiração coletadas no Google. Aliás, o papel de John Cusack, um lugar-comum ambulante, não deixa de ser engraçado por ser o de um escritor de ficção-científica que desconhece o mito do ano 2012. Não é à toa que é um fracassado (e eles estão em todos os filmes de Emmerich, não é mesmo?).

    “2012” se leva muito a sério, não quanto à concretização da profecia (tolice!), mas no sentido de ser puramente burocrático e seguir convenções de filmes de estúdio. Seria ótimo se fosse de fato um filme exploitation, como a versão alternativa e não-oficial do trailer, vista abaixo:



    Na verdade, “2012” é um filme exploitation (Emmerich não tem nem mesmo vergonha de repetir duas grandes sequências de ação uma atrás da outra), mas que se faz passar por superprodução. É onde o diretor erra. Ele quer Cecil B. DeMille, quando deveria ser Roger Corman. O que se salva (sem trocadilho), além dos efeitos especiais, são as observações políticas do cineasta, que sempre surgem de maneira pontual e nada sutil (como já vimos em “Independence Day”, “Godzilla” e “O Dia Depois de Amanhã”), e o senso de humor mórbido inserido numa história pretensamente trágica. São dois aspectos típicos de filmes exploitation, que são percebidos no meio de situações que deveriam ser de pura tensão. Os próprios alívios cômicos estão mal posicionados no texto, mas acabam funcionando por serem independentes de tudo o que ocorre ao redor deles.

    Fosse Emmerich dono de um poder de síntese melhor, “2012” poderia ter sido um filme divertido. Do jeito que saiu, causa tédio em sua maior parte.

    nota: 4/10 -- não se culpe por não ver

    2012 (2009, EUA/Canadá)
    direção: Roland Emmerich; roteiro: Roland Emmerich, Harald Kloser; fotografia: Dean Semler; montagem: David Brenner, Peter S. Elliot; música: Harald Kloser, Thomas Wanker; produção: Roland Emmerich, Larry J. Franco, Harald Kloser; com: John Cusack, Amanda Peet, Chiwetel Ejiofor, Thandie Newton, Oliver Platt, Thomas McCarthy, Woody Harrelson, Danny Glover, Liam James, Morgan Lily, Zlatko Buric, Beatrice Rosen, Alexandre Haussmann, Philippe Haussmann; estúdio: Columbia Pictures, Centropolis Entertainment, Farewell Productions, The Mark Gordon Company; distribuição: Columbia Pictures. 158 min

    7 comentários:

    Ivan Bender disse...

    Vou re-escrever aqui uma das frases que, para mim, melhor resume 2012: "Se você é fá de filmes-catástrofe, adora cenas de ação de tirar o fôlego, efeitos especiais de última geração e bem aplicados com doses generosas de improbabilidades, 2012 é um filme imperdível."
    Agora eu pergunto, o que atrai tantas pessoas a assistirem 2012? Tudo que foi escrito acima. E não são poucas as pessoas que perdem o tempo para isso. O que há de diferente em 2012 é que ele realmente diverte em suas cenas de ação, o que já basta para muitos. Algo que Transformes 2 passou longe de fazer. Ponto para 2012!

    Natália Ranhel disse...

    Sem dúvida ñ me culparei! Não faz meu gênero, apesar que gostei de "o dia depois de amanhã".
    Esses filmes apocalípticos me deixam ansiosa e nervosa.

    Liesl disse...

    Qdo vi o trailer de 2012, pensei: "ih, la vem uma bobagem a la Roland Emmerich que nao vou assistir". E nao eh que era dele? LOL

    Johnny, esse ai so vou se for de graca, nao pago ingresso nao...

    Thiago Lucio disse...

    Renato, concordo absolutamente com você. Acho que faltou ao Emmerich um pouco mais de senso crítico na decupagem do material ou simplesmente uma segunda opinião. Ele tentou colocar todos os ingrediente em uma receita só e tornou o filme chato e cansativo. A narrativa é rasa, maniqueísta e acaba valendo mais pelos efeitos especiais. Os esforços de Cusack, Ejiofor e Glover são praticamente em vão. Boa crítica, embora tenha concordado. Ou talvez justamente por isso. Grande abraço.

    Unknown disse...

    O que salva são os efeitos especiais.
    Assisti-lo ou não, simplesmente não faz a menor diferença.

    Fraco!

    Lucas disse...

    "2012" atingiu um ponto que Emmerich nunca tinha conseguido. Agora ele já pode nomear o pior filme de sua carreira.

    GLAUCE MONIQUE disse...

    Nossa, eu fui a única quem gostou do filme? acho que não. Para filme de ficção cientifica achei fraquinho, mas morri de rir o filme inteiro. Foi bem divertido. Vou mudar de profissão de Engenharia de Produção vou virar cientista e ir morar na China, ou então viro melhor amigo do Jackson, pois eita carinha sortudo hein...rssssss

     
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