É sabido que, numa família, é dos pais a função de manter o elo entre seus filhos. Quando os responsáveis por essa ligação se vão, cabe a cada um decidir que rumo seguir. Em “Horas de Verão”, a morte da matriarca se estende por um longo período além do funeral, já que cada filho trabalha em um país diferente e eles precisam decidir o que fazer com a casa de campo onde a mãe vivia na França e com o acervo de obras de arte pertencente à família.
Olivier Assayas se debruça sobre o peso que os três irmãos dão a cada objeto herdado. Frédéric é o mais apegado, enquanto Adrienne e Jérémie são mais pragmáticos e querem resolver logo o assunto para seguirem com suas vidas. O trio é interpretado por Charles Berling, Juliette Binoche e Jérémie Renier, que fornecem atuações naturais, buscadas pela delicadeza e a fluidez da câmera de Assayas (que em vários momentos lembra Robert Altman). O diretor permite ao elenco encontrar seus personagens, e ao espectador presenciar cada plano-sequência.
Dos diálogos que surgem das reuniões ocasionais entre os irmãos, vemos transcorrer um incômodo processo de dissecação da casa onde a mãe (Edith Scob) queria manter vivas as memórias. A avaliação do valor histórico e artístico de cada pintura, móvel e xícara parece se impor sobre o valor sentimental. Mesmo Frédéric, que tem sua própria família para cuidar, parece muito mais idealizar a importância que os pertences da família têm do que realmente se importar com tudo aquilo.
A cada vez que os filhos visitam a casa para discutir o futuro, Assayas imbui as cenas de uma atmosfera espiritual que faz a presença da mãe ser sentida em cada aposento. Essa sensação contrasta com a frieza da verdadeira autópsia que se vê ser executada por peritos em arte que irão colocar preço na escrivaninha ou no vaso de vidro que, antes úteis, logo se tornarão peças de museu. Será estranho vê-los em ambientes tão distintos e Assayas torna essa visão decerto fantasmagórica.
Repousa nas mãos da cozinheira da família o receptáculo onde a alma da mãe se sentirá mais confortável. E a cada filho, sobra a memória que mais lhes convém. É a tragédia da nostalgia, a que todos nós estamos destinados.
Olivier Assayas se debruça sobre o peso que os três irmãos dão a cada objeto herdado. Frédéric é o mais apegado, enquanto Adrienne e Jérémie são mais pragmáticos e querem resolver logo o assunto para seguirem com suas vidas. O trio é interpretado por Charles Berling, Juliette Binoche e Jérémie Renier, que fornecem atuações naturais, buscadas pela delicadeza e a fluidez da câmera de Assayas (que em vários momentos lembra Robert Altman). O diretor permite ao elenco encontrar seus personagens, e ao espectador presenciar cada plano-sequência.
Dos diálogos que surgem das reuniões ocasionais entre os irmãos, vemos transcorrer um incômodo processo de dissecação da casa onde a mãe (Edith Scob) queria manter vivas as memórias. A avaliação do valor histórico e artístico de cada pintura, móvel e xícara parece se impor sobre o valor sentimental. Mesmo Frédéric, que tem sua própria família para cuidar, parece muito mais idealizar a importância que os pertences da família têm do que realmente se importar com tudo aquilo.
A cada vez que os filhos visitam a casa para discutir o futuro, Assayas imbui as cenas de uma atmosfera espiritual que faz a presença da mãe ser sentida em cada aposento. Essa sensação contrasta com a frieza da verdadeira autópsia que se vê ser executada por peritos em arte que irão colocar preço na escrivaninha ou no vaso de vidro que, antes úteis, logo se tornarão peças de museu. Será estranho vê-los em ambientes tão distintos e Assayas torna essa visão decerto fantasmagórica.
Repousa nas mãos da cozinheira da família o receptáculo onde a alma da mãe se sentirá mais confortável. E a cada filho, sobra a memória que mais lhes convém. É a tragédia da nostalgia, a que todos nós estamos destinados.
nota: 8/10 -- vale o ingresso
Horas de Verão (L'heure d'été, 2008, França)
direção: Olivier Assayas; roteiro: Olivier Assayas; fotografia: Eric Gautier; montagem: Luc Barnier; produção: Charles Gillibert, Marin Karmitz, Nathanaël Karmitz; com: Charles Berling, Juliette Binoche, Jérémie Renier, Edith Scob, Dominique Reymond, Valérie Bonneton, Isabelle Sadoyan, Kyle Eastwood; estúdio: MK2 Productions, Canal+, Région Ile-de-France; distribuição: Filmes da Mostra. 103 min
direção: Olivier Assayas; roteiro: Olivier Assayas; fotografia: Eric Gautier; montagem: Luc Barnier; produção: Charles Gillibert, Marin Karmitz, Nathanaël Karmitz; com: Charles Berling, Juliette Binoche, Jérémie Renier, Edith Scob, Dominique Reymond, Valérie Bonneton, Isabelle Sadoyan, Kyle Eastwood; estúdio: MK2 Productions, Canal+, Région Ile-de-France; distribuição: Filmes da Mostra. 103 min
1 comentários:
Sei que já faz algum tempo esse post... mas somente agora pude me atualizar das críticas do último mês. Achei sua forma de escrever e criticar esse filme tão delicada, que tive vontade de assistir logo. :)
Raquel
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