Em meados de outubro do ano passado, Steven Soderbergh anunciou ter escalado a atriz pornô Sasha Grey, conhecida por estrelar cenas hardcore em seus filmes, para protagonizar “Confissões de uma Garota de Programa”, mais um exemplar das produções independentes do diretor. As expressões “atriz pornô”, “garota de programa” e “filme independente” em uma mesma frase já dariam um bom material para os pensamentos de qualquer um. No mínimo, se o longa fosse ruim, teríamos cenas de sexo corajosas, já que não existiria muita pressão sobre o filme, que não estava sob a tutela de uma grande produtora hollywoodiana à procura de censura mais baixa e bilheteria mais generosa.
Se é isso que você achava, pense novamente.
“Confissões de uma Garota de Programa” acompanha cinco dias na vida de Chelsea (Gray), uma mulher cujo trabalho é muito bem sintetizado pelo termo “girlfriend experience”, tirado do título original. Mais que uma garota de programa, ela é uma “namorada de programa”. Os 2 mil dólares por hora que ela cobra não são, normalmente, por uma hora de sexo apenas. São para uma ida ao cinema, depois a um restaurante para comentar sobre o filme. Daí, ela e o cliente entram em um carro, vão para um hotel, transam, acordam no outro dia, tomam café da manhã. No fim, ela vai embora e, se ele quiser, marcam um novo encontro. O trabalho de Chelsea não é apenas sexo. É, também, ouvir. Com o dinheiro que ganha, ela usa roupas de marca e mora em um loft em Nova York, onde vive com o namorado, um instrutor de academia que, aliás, não se incomoda com o trabalho da parceira. Mesmo porque deve ser por causa dela que ele tem uma vida boa.
É também importante em “Confissões de uma Garota de Programa” ressaltar o contexto em que se passa o filme. Trata-se das semanas anteriores à eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos e do início de um furacão chamado “crise financeira”. A economia e o dinheiro dão o tom de boa parte dos diálogos. Conversas frias ideais para se ter com alguém que é paga para ouvir, além de outras coisas. Assim como todos, Chelsea tenta não ser muito abalada pela economia e, como garota de programa, procura por métodos para aumentar sua visibilidade.
Soderbergh filma com uma frieza, aparentemente, pertinente, já que esse parece ser o melhor adjetivo para caracterizar uma sociedade em histeria devido à crise. Se as relações capitalistas sempre interferiram na vida privada de todos, agora o dinheiro virou o assunto preferido e recorrente. Ao mesmo tempo que homens reclamam sobre suas finanças e discutem como vão sair desse cenário pessimista, eles gastam 2 mil dólares a hora como uma garota de programa. Estranho, não é? O que se esconde por trás dessa atitude hipócrita de fazer lamúrias sobre a falta de dinheiro, mas não abrir mão de certos luxos? É a cultura do lucro, a cultura da acumulação de riqueza.
Mas "Confissões de uma Garota de Programa" é, sem dúvida, um programa chato. São apenas uma hora e dezessete minutos, mas elas passam com dificuldade. Discussões sobre a obra podem aparecer, mas, ela, na verdade, não provoca em muita coisa. Já vimos frieza no cinema antes, já vimos filmes parados, mas, em alguns deles, nos melhores deles, essas características suscitam um certo incômodo. "Confissões de uma Garota de Programa" é um filme plácido. Enquanto o espectador está sentado na poltrona do cinema, ele assiste ao filme como se estivesse vendo um canal pay-per-view exibindo algum reality show por 24 horas, sem edição. Só quando Chelsea demonstra que tem coração é que o longa começa a ficar interessante.
Não dá para chamar "Confissões de uma Garota de Programa" de vazio. Mas o problema é que o filme não é vazio devido ao que o diretor filma e, sim, à sua personagem principal e ao seu contexto. Porque é óbvio que, ao falar de efeitos da crise econômica através de uma garota de programa de luxo, Soderbergh quer dizer alguma coisa. Pena que, do jeito que o tema é tratado, o filme nunca chega a empolgar.
Se é isso que você achava, pense novamente.
“Confissões de uma Garota de Programa” acompanha cinco dias na vida de Chelsea (Gray), uma mulher cujo trabalho é muito bem sintetizado pelo termo “girlfriend experience”, tirado do título original. Mais que uma garota de programa, ela é uma “namorada de programa”. Os 2 mil dólares por hora que ela cobra não são, normalmente, por uma hora de sexo apenas. São para uma ida ao cinema, depois a um restaurante para comentar sobre o filme. Daí, ela e o cliente entram em um carro, vão para um hotel, transam, acordam no outro dia, tomam café da manhã. No fim, ela vai embora e, se ele quiser, marcam um novo encontro. O trabalho de Chelsea não é apenas sexo. É, também, ouvir. Com o dinheiro que ganha, ela usa roupas de marca e mora em um loft em Nova York, onde vive com o namorado, um instrutor de academia que, aliás, não se incomoda com o trabalho da parceira. Mesmo porque deve ser por causa dela que ele tem uma vida boa.
É também importante em “Confissões de uma Garota de Programa” ressaltar o contexto em que se passa o filme. Trata-se das semanas anteriores à eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos e do início de um furacão chamado “crise financeira”. A economia e o dinheiro dão o tom de boa parte dos diálogos. Conversas frias ideais para se ter com alguém que é paga para ouvir, além de outras coisas. Assim como todos, Chelsea tenta não ser muito abalada pela economia e, como garota de programa, procura por métodos para aumentar sua visibilidade.
Soderbergh filma com uma frieza, aparentemente, pertinente, já que esse parece ser o melhor adjetivo para caracterizar uma sociedade em histeria devido à crise. Se as relações capitalistas sempre interferiram na vida privada de todos, agora o dinheiro virou o assunto preferido e recorrente. Ao mesmo tempo que homens reclamam sobre suas finanças e discutem como vão sair desse cenário pessimista, eles gastam 2 mil dólares a hora como uma garota de programa. Estranho, não é? O que se esconde por trás dessa atitude hipócrita de fazer lamúrias sobre a falta de dinheiro, mas não abrir mão de certos luxos? É a cultura do lucro, a cultura da acumulação de riqueza.
Mas "Confissões de uma Garota de Programa" é, sem dúvida, um programa chato. São apenas uma hora e dezessete minutos, mas elas passam com dificuldade. Discussões sobre a obra podem aparecer, mas, ela, na verdade, não provoca em muita coisa. Já vimos frieza no cinema antes, já vimos filmes parados, mas, em alguns deles, nos melhores deles, essas características suscitam um certo incômodo. "Confissões de uma Garota de Programa" é um filme plácido. Enquanto o espectador está sentado na poltrona do cinema, ele assiste ao filme como se estivesse vendo um canal pay-per-view exibindo algum reality show por 24 horas, sem edição. Só quando Chelsea demonstra que tem coração é que o longa começa a ficar interessante.
Não dá para chamar "Confissões de uma Garota de Programa" de vazio. Mas o problema é que o filme não é vazio devido ao que o diretor filma e, sim, à sua personagem principal e ao seu contexto. Porque é óbvio que, ao falar de efeitos da crise econômica através de uma garota de programa de luxo, Soderbergh quer dizer alguma coisa. Pena que, do jeito que o tema é tratado, o filme nunca chega a empolgar.
nota: 5/10 -- veja sem pressa
Confissões de uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience, 2009, EUA)
direção: Steven Soderbergh; roteiro: David Levien, Brian Koppelman; fotografia: Steven Soderbergh (como Peter Andrews); montagem: Steven Soderbergh; música: Ross Godfrey; produção: Mark Cuban, Gregory Jacobs, Todd Wagner; com: Sasha Grey, Chris Santos, Philip Eytan, T. Colby Trane, Peter Zizzo; estúdio: 2929 Productions, Extension 765, HDNet Films; distribuição: Paris Filmes. 77 min
direção: Steven Soderbergh; roteiro: David Levien, Brian Koppelman; fotografia: Steven Soderbergh (como Peter Andrews); montagem: Steven Soderbergh; música: Ross Godfrey; produção: Mark Cuban, Gregory Jacobs, Todd Wagner; com: Sasha Grey, Chris Santos, Philip Eytan, T. Colby Trane, Peter Zizzo; estúdio: 2929 Productions, Extension 765, HDNet Films; distribuição: Paris Filmes. 77 min
4 comentários:
já sou leitor do blog a algum tempo. sei que é só a segunda crítica do rapaz, mas tenho que comentar. as críticas do Vitor Drumond é que não chegam a empolgar. Metódicas, sem muita expontaneidade, presas.
Que seja encarado como crítica construtiva. Ou então já me acostumei com o estilo do Renato, que tem sido o meu favorito ultimamente.
Já eu tenho gostado bastante das críticas do Vitor. E achei o filme um porre também!
Valeu pelo toque, Pedro. Vou tentar ser mais espontâneo.
Valeu pelo elogio, Fábio.
Ainda estou esquentando, hehe
Gosto muito das críticas do Vitor. Acompanho as críticas dele já tem um tempo. Ele tem futuro...
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