A principal dúvida que pairava sobre a realização de “Jean Charles” era a influência que o filme teria do evento trágico que levou o protagonista à morte no metrô de Londres em 2005. Afinal, o diretor Henrique Goldman é brasileiro, mas é radicado na Inglaterra. Além disso, ao construir sua carreira como cineasta fora do Brasil, ele conseguiu o apoio de dois cineastas renomados: o alemão Wim Wenders, que co-produziu seu filme anterior, “Princesa”, de 2001, e o inglês Stephen Frears, que é um dos produtores executivos de “Jean Charles”.
Tendo trilhado esse caminho bem-sucedido, que por ironia do destino acabou o trazendo de volta ao Brasil, Goldman felizmente se mostra a pessoa certa para o projeto. Primeiro, por compartilhar com os personagens a experiência de trabalhar fora do país. E segundo, porque ele demonstra a sensibilidade necessária para não transformar “Jean Charles” em um filme-denúncia que poderia passar como uma espécie de vingança pessoal em nome dos brasileiros no exterior.
É interessante observar na tela como se apresentam as visões dos personagens e do diretor sobre o sonho de uma vida melhor fora do Brasil. O recorte feito por Goldman é nos olhares de Jean Charles (bem interpretado por um Selton Mello surpreendentemente fora do estereótipo) e de sua prima Vivian (papel de Vanessa Giácomo, também em boa atuação). O rapaz, que saiu da pequena cidade mineira de Gonzaga, curte uma certa fama que conquistou entre os compatriotas que trabalham em Londres. Sempre prestando serviços e quebrando galhos, usando o famoso jeitinho brasileiro, Jean Charles também não dispensa a malandragem para crescer, desde mentir com a cara lavada para agentes imigratórios a entrar num esquema de passaportes ilegais. Já Vivian se mantém íntegra, e até mesmo fiel ao namorado que deixou na cidade-natal, enquanto aprende aos poucos a se virar na capital britânica, aonde chega sem ao menos saber falar inglês.
Os imigrantes retratados no filme parecem enxergar Londres com um misto de admiração turística, ansiedade e esperança e, ao mesmo tempo, uma insatisfação evidente. Mesmo vivendo ali há tanto tempo, Jean Charles e seus primos Alex (Luís Miranda) e Patrícia (Patrícia Armani, que interpreta ela mesma) ainda sentem a necessidade de fazer passeios e tirar fotos pela cidade – momentos de lazer que surgem em meio a tanto trabalho, saudades e preocupações. Na maior parte do tempo, vemos que eles demonstram aquele olhar apreensivo, por estarem longe da família, trabalhando ilegalmente e fazendo bicos em bares ou obras, além de terem que enfrentar o preconceito.
Dessa forma, na cena em que Jean Charles vai a um show do cantor Sidney Magal, a emoção coletiva que o Goldman retrata é sinal claro da carência que aquelas pessoas sentem. Não só aquele é um momento de elas extravasarem, mas também de estarem junto do povo e da cultura de seu lugar de origem – por mais que essa cultura, ali, esteja representada por um ícone da música brega, que faz todos cantarem juntos o sucesso “Meu Sangue Ferve Por Você”.
Sem excessos na direção, Goldman (pouco conhecido até então, mas já autor de dois longas, “Ixcan”, de 1997, além de “Princesa”) consegue conduzir a história até o desfecho trágico de uma forma natural, filmando com câmera na mão sem desviar a atenção para artifícios estéticos. Ele compõe os planos de maneira simples e objetiva, e valoriza o trabalho de seus atores com tomadas únicas, sem recorrer à dinâmica do campo/contracampo na maior parte dos diálogos.
Além disso, o que torna “Jean Charles” um filme bastante digno é a maneira com que Goldman consegue narrar o drama daquelas pessoas sem fazer com que o incidente no metrô se torne o tema principal – aliás, propósito parecido com o de Breno Silveira em “2 Filhos de Francisco”, onde o suposto primeiro plano, a dupla sertaneja per si, é na verdade o pano de fundo. Ao lado do co-roteirista Marcelo Starobinas (também um brasileiro radicado em Londres), Goldman evita vilipendiar os ingleses de forma generalizada, sem com isso deixar de compartilhar da dor da família de Jean Charles (e de todos nós, brasileiros) frente ao crime que se cometeu contra ele. Também ao não privar aquele jovem de suas imperfeições e das infrações cometidas – sem também penalizá-lo por isso – o filme consegue estabelecer uma imparcialidade importante no retrato que constrói. As cenas finais com Vivian exemplificam bem o sentimento que o cineasta quer evocar.
Tendo trilhado esse caminho bem-sucedido, que por ironia do destino acabou o trazendo de volta ao Brasil, Goldman felizmente se mostra a pessoa certa para o projeto. Primeiro, por compartilhar com os personagens a experiência de trabalhar fora do país. E segundo, porque ele demonstra a sensibilidade necessária para não transformar “Jean Charles” em um filme-denúncia que poderia passar como uma espécie de vingança pessoal em nome dos brasileiros no exterior.
É interessante observar na tela como se apresentam as visões dos personagens e do diretor sobre o sonho de uma vida melhor fora do Brasil. O recorte feito por Goldman é nos olhares de Jean Charles (bem interpretado por um Selton Mello surpreendentemente fora do estereótipo) e de sua prima Vivian (papel de Vanessa Giácomo, também em boa atuação). O rapaz, que saiu da pequena cidade mineira de Gonzaga, curte uma certa fama que conquistou entre os compatriotas que trabalham em Londres. Sempre prestando serviços e quebrando galhos, usando o famoso jeitinho brasileiro, Jean Charles também não dispensa a malandragem para crescer, desde mentir com a cara lavada para agentes imigratórios a entrar num esquema de passaportes ilegais. Já Vivian se mantém íntegra, e até mesmo fiel ao namorado que deixou na cidade-natal, enquanto aprende aos poucos a se virar na capital britânica, aonde chega sem ao menos saber falar inglês.
Os imigrantes retratados no filme parecem enxergar Londres com um misto de admiração turística, ansiedade e esperança e, ao mesmo tempo, uma insatisfação evidente. Mesmo vivendo ali há tanto tempo, Jean Charles e seus primos Alex (Luís Miranda) e Patrícia (Patrícia Armani, que interpreta ela mesma) ainda sentem a necessidade de fazer passeios e tirar fotos pela cidade – momentos de lazer que surgem em meio a tanto trabalho, saudades e preocupações. Na maior parte do tempo, vemos que eles demonstram aquele olhar apreensivo, por estarem longe da família, trabalhando ilegalmente e fazendo bicos em bares ou obras, além de terem que enfrentar o preconceito.
Dessa forma, na cena em que Jean Charles vai a um show do cantor Sidney Magal, a emoção coletiva que o Goldman retrata é sinal claro da carência que aquelas pessoas sentem. Não só aquele é um momento de elas extravasarem, mas também de estarem junto do povo e da cultura de seu lugar de origem – por mais que essa cultura, ali, esteja representada por um ícone da música brega, que faz todos cantarem juntos o sucesso “Meu Sangue Ferve Por Você”.
Sem excessos na direção, Goldman (pouco conhecido até então, mas já autor de dois longas, “Ixcan”, de 1997, além de “Princesa”) consegue conduzir a história até o desfecho trágico de uma forma natural, filmando com câmera na mão sem desviar a atenção para artifícios estéticos. Ele compõe os planos de maneira simples e objetiva, e valoriza o trabalho de seus atores com tomadas únicas, sem recorrer à dinâmica do campo/contracampo na maior parte dos diálogos.
Além disso, o que torna “Jean Charles” um filme bastante digno é a maneira com que Goldman consegue narrar o drama daquelas pessoas sem fazer com que o incidente no metrô se torne o tema principal – aliás, propósito parecido com o de Breno Silveira em “2 Filhos de Francisco”, onde o suposto primeiro plano, a dupla sertaneja per si, é na verdade o pano de fundo. Ao lado do co-roteirista Marcelo Starobinas (também um brasileiro radicado em Londres), Goldman evita vilipendiar os ingleses de forma generalizada, sem com isso deixar de compartilhar da dor da família de Jean Charles (e de todos nós, brasileiros) frente ao crime que se cometeu contra ele. Também ao não privar aquele jovem de suas imperfeições e das infrações cometidas – sem também penalizá-lo por isso – o filme consegue estabelecer uma imparcialidade importante no retrato que constrói. As cenas finais com Vivian exemplificam bem o sentimento que o cineasta quer evocar.
nota: 7/10 -- vale o ingresso
Jean Charles (2009, Brasil/Reino Unido)
direção: Henrique Goldman; roteiro: Henrique Goldman, Marcelo Starobinas; fotografia: Guillermo Escalón; montagem: Kerry Kohler; música: Nitin Sawhney; produção: Carlos Nader, Henrique Goldman, Luke Schiller; com: Selton Mello, Vanessa Giácomo, Luis Miranda, Patricia Armani, Sidney Magal, Daniel de Oliveira; estúdio: Já Filmes, Mango Films, Telecine Productions, UKFC; distribuição: Imagem Filmes. 90 min
direção: Henrique Goldman; roteiro: Henrique Goldman, Marcelo Starobinas; fotografia: Guillermo Escalón; montagem: Kerry Kohler; música: Nitin Sawhney; produção: Carlos Nader, Henrique Goldman, Luke Schiller; com: Selton Mello, Vanessa Giácomo, Luis Miranda, Patricia Armani, Sidney Magal, Daniel de Oliveira; estúdio: Já Filmes, Mango Films, Telecine Productions, UKFC; distribuição: Imagem Filmes. 90 min
1 comentários:
Renato, desculpe o comentario totalmente fora do topico, mas é que achei muito legal esse site:
http://www.eternalmoonwalk.com/
Qualquer um pode inserir o seu moonwalk.
Vou ver se gravo e insiro o meu moonwalk, também Smile
Fica identificado o nome e a pais das pessoas que inserem o seu video (já tem gente do mundo todo, inclusive Brasil. Michael Jackson realmente era amado e/ou odiado, no mundo todo. Era considerado o homem vivo mais famoso do mundo)
xlucas
http://womni.blogspot.com
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