Dúvida

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 06 julho 2009



  • Dizer que "Dúvida" é só um "filme de ator" (trocadilho com "filme de autor" que alguns colegas da crítica fizeram) é ignorar o trabalho bem feito na direção de John Patrick Shanley.

    Ele é o mesmo cineasta que, quase duas décadas atrás, realizou a comédia "Joe Contra o Vulcão", aquela mesma com Tom Hanks e Meg Ryan, e um pouco antes ganhou o Oscar pelo roteiro de "Feitiço da Lua". Se exilou atrás da máquina de escrever nos anos 90 e não conseguiu produzir nada que valha a pena lembrar, como "Os Dinossauros Voltaram" (1993) e "Congo" (1995). Salva-se apenas "Vivos" (1993).

    É de se admirar, portanto, este retorno ao comando da câmera, que resulta em um certo rigor na composição dos quadros. Muito, claro, vem da parceria com o diretor de fotografia Roger Deakins, que auxilia a execução de ideias como a cena em que o padre vivido por Philip Seymour Hoffman é confrontado pelas irmãs interpretadas por Meryl Streep e Amy Adams, e o "peso" do quadro vai todo sobre o sacertote.

    Por outro lado, Shanley comete alguns excessos na tentativa de ressaltar momentos dramáticos da narrativa, como a cena em que o brinquedo do menino é pisoteado ou a ocorrência de uma tempestade, clichê digno de um filme de horror.

    Apesar de "Dúvida" ter um visual bem cuidado, é perfeitamente compreensível que o elenco chame mais a atenção, já que os três atores principais são sinônimo inquestionável de qualidade. Meryl Streep está fantástica, como de hábito, mas seus colegas de cena não correspondem à expectativa.

    Philip Seymour Hoffman, apesar de excepcional ator, parece mal escalado, pois simplesmente não convence como padre. Ele não insere peculiaridades na composição do personagem e parece repetir trejeitos de papéis anteriores, sempre gritando e rindo alto.

    Mal semelhante acomete Amy Adams: já comprovou ser uma ótima atriz, mas começa a correr o risco de se desgastar se continuar intepretando sempre a ingênua da história.

    A melhor sacada de "Dúvida" é manter até o fim, justamente, a dúvida sobre as atitudes do padre, ainda que no subtexto deixe mais ou menos claro o que está acontecendo. Shanley e seu elenco fazem cinema de qualidade, em mais um injustiçado do Oscar que merecia estar entre os cinco indicados a Melhor Filme, muito mais do que os que acabaram selecionados.

    nota: 7/10 -- vale o ingresso

    Dúvida (Doubt, 2008, EUA)
    direção: John Patrick Shanley; roteiro: John Patrick Shanley; fotografia: Roger Deakins; montagem: Dylan Tichenor; música: Howard Shore; produção: Mark Roybal, Scott Rudin; com: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis, Joseph Foster, Lloyd Clay Brown, Alice Drummond, Audrie J. Neenan, Mike Roukis, Paulie Litt; estúdio: Goodspeed Productions, Scott Rudin Productions; distribuição: Buena Vista. 104 min

    3 comentários:

    O Cara da Locadora disse...

    Conheci o blog através de um selo, virei com mais frequencia...

    Sobre o filme, discordo um pouco sobre a análise das atuações... E tenho uma "dúvida" (rs), você ficou na dúvida até o fim? PQ eu achei o fim beem fechadinho, não?? Abraços...

    RENATO SILVEIRA disse...

    Dá para sacar, sim. Concordo que o roteiro seja fechado, mas a dúvida sobre o que o padre fez ou deixou de fazer nunca é revelada. Na verdade, essa dúvida fica como uma "certeza", seguindo o sermão que o próprio padre dá no início do filme.

    []s.

    Fred Burle disse...

    a questão do gosto é mesmo indiscutível. Boa parte da sua lista de melhores fará parte da minha também, mas numa ordem completamente diferente. Mas o grupo dos últimos 20 filmes é aterrorizante. Credo!

    Eu daria uma posição bem melhor para A Partida, Palavra (En)cantada e Slumdog Millionaire; e rebaixaria às últimas posições The Spirit, Che (chatíssimo), além de Bolt, que ficaria bem mais pro meio da lista. Mas a posição que mais gostei mesmo foi a de Transformers 2! Rsrs

    Renato, não tem problema nenhum não continuar a corrente. Indiquei porque gosto do seu blog e ponto. Eu também não gosto muito, mas como foi o primeiro selo, quis postar. Imagino que se vierem outros, não vou dar tanto espaço assim...

     
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