Não dá para imaginar outra pessoa dirigindo este filme que não o próprio Charlie Kaufman. Um roteiro tão complexo, confuso, repleto de simbolismos e abstrações, dificilmente seria filmado como pretendido pelo roteirista, que agora se afirma definitivamente como autor.
Por mais que você saia do cinema sem “entender” o filme (assumo que eu ainda não o processei por completo), as chances são boas de se ter uma experiência muito agradável para os olhos, senão (se não) para a mente. É como acontece, por exemplo, com os filmes de David Lynch. A princípio, você pode não sacar nada do que se passa em “Eraserhead”, “Cidade dos Sonhos” ou “Império dos Sonhos”. Mas as imagens, os diálogos, a música, o conjunto de tudo que está na tela é muito bom de se ver.
Como em seus roteiros anteriores, em “Sinédoque, Nova York”, Kaufman trata basicamente de dois temas: o processo criativo (“Adaptação”, “Quero Ser John Malkovich”) e o enigmático universo que cada pessoa tem em sua mente (“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” e, novamente, “Malkovich”). Na medida em que o diretor de teatro Caden Cotard (o soberbo Philip Seymour Hoffman) envelhece, e enlouquece, mistura-se o que é real, imaginário, sonho, representação, devaneio. Só mesmo vendo e revendo para interpretar o que certas cenas significam dentro da narrativa.
É um filme quebra-cabeça, sem dúvidas. E dos difíceis. Mas acaba que a grande peça teatral montada por Caden nada mais é do que uma grande metáfora de sua vida (e isso é uma interpretação imediata que faço, não necessariamente uma que julgo ser “a correta”). Quer dizer, ele passa o tempo todo encenando, encenando, encenando, mas não cria nada. Ele quer encenar coisas que vivenciou até ali e também outras que está vivenciando durante a montagem da peça. Atores são escalados para interpretar pessoas com quem ele convive e, inevitavelmente, realidade e ficção se misturam (tema também trabalhado por Kaufman em “Adaptação”).
A peça/vida se transforma num círculo vicioso, num labirinto. E a saída que Caden encontra, guiado por uma autora de livros de auto-ajuda (Hope Davis), surge numa das seqüências finais mais bonitas que o cinema recente já produziu – ainda mais acompanhada pela bela e introspectiva trilha sonora de Jon Brion (que também fez a música de “Brilho Eterno”), encerrada com a melancólica canção “I’m Just a Little Person”, escrita pelo compositor em parceria com Kaufman.
“Sinédoque, Nova York” pode ser várias coisas, mas gosto de vê-lo como uma fábula da falta de criatividade – e narrada por um dos caras mais criativos do cinema americano contemporâneo. Mal posso esperar para revisitá-la.
Por mais que você saia do cinema sem “entender” o filme (assumo que eu ainda não o processei por completo), as chances são boas de se ter uma experiência muito agradável para os olhos, senão (se não) para a mente. É como acontece, por exemplo, com os filmes de David Lynch. A princípio, você pode não sacar nada do que se passa em “Eraserhead”, “Cidade dos Sonhos” ou “Império dos Sonhos”. Mas as imagens, os diálogos, a música, o conjunto de tudo que está na tela é muito bom de se ver.
Como em seus roteiros anteriores, em “Sinédoque, Nova York”, Kaufman trata basicamente de dois temas: o processo criativo (“Adaptação”, “Quero Ser John Malkovich”) e o enigmático universo que cada pessoa tem em sua mente (“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” e, novamente, “Malkovich”). Na medida em que o diretor de teatro Caden Cotard (o soberbo Philip Seymour Hoffman) envelhece, e enlouquece, mistura-se o que é real, imaginário, sonho, representação, devaneio. Só mesmo vendo e revendo para interpretar o que certas cenas significam dentro da narrativa.
É um filme quebra-cabeça, sem dúvidas. E dos difíceis. Mas acaba que a grande peça teatral montada por Caden nada mais é do que uma grande metáfora de sua vida (e isso é uma interpretação imediata que faço, não necessariamente uma que julgo ser “a correta”). Quer dizer, ele passa o tempo todo encenando, encenando, encenando, mas não cria nada. Ele quer encenar coisas que vivenciou até ali e também outras que está vivenciando durante a montagem da peça. Atores são escalados para interpretar pessoas com quem ele convive e, inevitavelmente, realidade e ficção se misturam (tema também trabalhado por Kaufman em “Adaptação”).
A peça/vida se transforma num círculo vicioso, num labirinto. E a saída que Caden encontra, guiado por uma autora de livros de auto-ajuda (Hope Davis), surge numa das seqüências finais mais bonitas que o cinema recente já produziu – ainda mais acompanhada pela bela e introspectiva trilha sonora de Jon Brion (que também fez a música de “Brilho Eterno”), encerrada com a melancólica canção “I’m Just a Little Person”, escrita pelo compositor em parceria com Kaufman.
“Sinédoque, Nova York” pode ser várias coisas, mas gosto de vê-lo como uma fábula da falta de criatividade – e narrada por um dos caras mais criativos do cinema americano contemporâneo. Mal posso esperar para revisitá-la.
nota: 8/10 -- veja no cinema e compre o DVD
Sinédoque, Nova York (Synecdoche, New York, 2008, EUA)
direção: Charlie Kaufman; com: Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Michelle Williams, Catherine Keener, Emily Watson, Dianne Wiest, Jennifer Jason Leigh, Hope Davis, Tom Noonan, Sadie Goldstein, Robin Weigert; roteiro: Charlie Kaufman; produção: Anthony Bregman, Spike Jonze, Charlie Kaufman, Sidney Kimmel; fotografia: Frederick Elmes; montagem: Robert Frazen; música: Jon Brion; estúdio: Likely Story, Sidney Kimmel Entertainment; distribuição: Imagem Filmes. 124 min
direção: Charlie Kaufman; com: Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Michelle Williams, Catherine Keener, Emily Watson, Dianne Wiest, Jennifer Jason Leigh, Hope Davis, Tom Noonan, Sadie Goldstein, Robin Weigert; roteiro: Charlie Kaufman; produção: Anthony Bregman, Spike Jonze, Charlie Kaufman, Sidney Kimmel; fotografia: Frederick Elmes; montagem: Robert Frazen; música: Jon Brion; estúdio: Likely Story, Sidney Kimmel Entertainment; distribuição: Imagem Filmes. 124 min
16 comentários:
Este eu vou assistir na próxima semana. Valeu por avisar, já vou preparado para a loucura!
Já está em cartaz nos cinemas? Estou louco para vez, Brilho Eterno é clássico! Esse com certeza não decepciona.
Renato,postei um texto (não ouso chama-lo de crítica :>)) em meu blog sobre a "A_Ética".
Caso se interesse:
http://womni.blogspot.com
xlucas
Rafael, ainda não estreiou, eu vi no Festival do Rio. Pelo que pesquisei, ainda não tem data de lançamento no Brasil. A distribuidora é a Imagem... Vamos ver se não dão nenhuma mancada.
[]s!
Renato, vc bem que podia publicar uma crítica sobre a "A_Ética", hein!?
Adoraria saber sua opinião sobre o curta do Pablo.
Vc já não trabalha lá mesmo... então não corre o risco de perder o emprego. :>) :>)
:>)
xlucas
http://womni.blogspot.com
Caramba! Não perco por nada!
vi o filme, provalvemente, na mesma sessão q vc ...
bom, fiquei com muitas duvidas do tipo: O q era a fezes da menina verde ?! e qual o sentido das doenças de pele do personagem e da terapeuta ?!
Achei algumas situações bastante forçadas ... a ida da esposa para Berlin e a amiga da esposa, as atitudes da filha deixando-se acreditar por mentiras faceis de se verificar ...
Bom, acho q é isso ... no mais vou precisar ver umas 3 vezes pra entender 10%
Louca pra ver!
Pois é Renato,gostei bastante do filme, acho que foi o melhor que vi ese ano no cinema.
Você fez uma comparação interessante com os filmes do David Lynch, mas eu acho que tem uma diferença: enquanto os filmes do Lynch levam a gente a quebrar a cabeça para entende-los, além do seu teor crítico, os filmes do Kaufman, apesar de tb terem essses elementos, me parecem muito "experienciais", se é que vc me entende.
É uma opinião minha, claro, mas é como se durante o filme eu me sentissse totalmente engendrada no enredo, envolvida, quase sem ar. É uma proposta de mergulho na mente humana e sua relação com o exterior.
Claro que todos s filmes de certa forma são "experienciais", mas o dele parece q tem esse proposito de navegar pela mente humana.
Acho incrivel. Poderia ficar horas conversando sobre o filme.. hehe adorei
Ficou clara minha profunda admiração?!
abraços
tanto Lynch como Kaufman propõe "quebra-cabeças", mergulhos na mente humana,
mas o Kaufman parece mais existencialista.
Adorei o filme, aliás, adorei todos os outros com roteiro do Kaufman. Não compararia com as 'loucuras' e 'devaneios' de Lynch, nas quais não encontro sentido algum, porque nos filmes do Kaufman vejo as metáforas sempre muito ricas e cheias de sentido.
Vi o Trailer e estou louco para ver o filme......
Um filme díficil de digerir, mas depois disso acontecer, mostra-se consistente e bem reflexivo.
Um homem que ao invés de encarar a realidade, sempre inventa uma história, e quando fracassa, inventa outra por cima... e assim a trama segue, até que o tempo passa... ele nunca estréia a própria peça e morre.
Um relato de como é de fato, a vida vivida por várias pessoas.
Um filme díficil, mas muito denso e valioso.
Diretor genial!
Definitivamente achei o melhor filme do Kaufman. Também não o comparo, a não ser pela forma desordenada do roteiro, com David Lynch porque acho esse ultimo um mala adolescente.
Achei um filme riquissimo, que não fala do protagonista e sim de todos nós, de nossos próprios teatros e de nossa vida que nunca estréia. O título fez tanto sentido no final...abraça o filme inteiro. Sensacional!
Ontem tive a oportunidade de ver o filme.
É um filme extremamente inteligente e de profundo significado filosófico. É a visão de que Homem, algures na sua vida começa a ter contacto com a sua morte. E inicia um processo repetido dos mesmos acontecimentos, procurando dar ainda alguma beleza à vida que procura a tudo custo que dure. Muda aqui e acolá os actores, mas num processo sempre degenerativo. O actor tem como referência de vida a mulher e a filha. E mesmo isso o autor consegue, ou diria, vê-se impotente para que não acabe e acaba de forma bizarra, irreal que não faz sentido.
Quase no final, perto da morte, ele consegue fazer amor com a outra actriz e não chorou. Preso à vida, procurou aquilo que ainda não tinha feito. O filme também pode ser visto de outra forma. Quando o espectador tem a dúvida se o actor terá algum problema no cérebro, nessa altura (não é visto), mas ele entra em coma no hospital e tudo o que vemos são conjugação de memórias, desejos, ambições que vão evoluindo sem um resultado feliz, naquilo que é entendido por felicidade nos termos mortais.
Daria para fazer um tratado, mas espero ter conseguido transmitir um ideia diferente, pois este filme é muito diferente de todos os que tenho visto.
Ótima análise. Parábens.
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