Kung Fu Panda

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 15 julho 2008


  • por RENATO SILVEIRA

    “Kung Fu Panda” carrega uma semelhança inegável com “Shrek”: o protagonista é um bicho desajeitado e obeso que, de repente, é eleito para salvar o dia. A diferença na fórmula fácil, que rendeu milhões de dólares a DreamWorks, é que a mais recente animação do estúdio pende mais para o lado do gênero ação do que para a comédia. O humor está presente, mas em menor escala: os momentos cômicos ficam a cargo do personagem principal na maior parte do tempo e sente-se, também, a ausência das incontáveis citações a outras produções.

    O tipo de intertextualidade que se encontra aqui é mais elegante. Nesse sentido, os diretores estreantes em longa, Mark Osborne e John Stevenson, conseguem se sair melhor quando deixam de lado os diálogos e se concentram nas cenas de ação (a mais eficaz envolve o urso Po e o mestre Shifu disputando um bolinho). Além disso, a dupla se sai bem nas opções visuais como um todo, claramente buscando inspiração no cinema chinês, especificamente nos filmes wuxia (isto é, aqueles que misturam fantasia e artes marciais) produzidos não apenas em décadas passadas, mas também nos últimos anos. Eis o parâmetro para o espectador casual, que só conheceu esse subgênero por meio de “O Tigre e o Dragão”, “Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras”.

    O público vai identificar facilmente planos característicos desse tipo de filme, como aqueles que mostram os personagens cruzando o céu em um quase vôo, ou quando é construída uma atmosfera mais espiritual, com direito a um balé de centenas de pétalas dançando pela tela. Os diretores também incorporam bem a estética das cenas de luta, com movimentos de câmera rápidos, os chamados chicotes, e pequenos zooms nos rostos dos personagens. Felizmente, nessas seqüências, eles não abusam dos cortes e priorizam o enquadramento para que a coreografia do duelo possa ser apreciada tranqüilamente.

    O maior problema de “Kung Fu Panda” é que o filme demora muito a chegar no treinamento de Po e sua conversão no guerreiro que (não) esperam que ele seja. Isso só acontece na segunda metade da história, sendo que a primeira consiste basicamente das tentativas frustradas do personagem em ser aceito pelos demais lutadores do templo. Poderia ser uma questão de desenvolvimento do personagem, mas a verdade é que acaba soando como uma desculpa dos roteiristas para fazer piadas, que perdem a graça devido à repetição.

    Aliás, nenhum dos bichos coadjuvantes chega a ter uma participação convincente na trama. Eles acabam relegados a uma função equivalente a dos personagens secundários da floresta de Shrek, como o Pinóquio ou os Três Porquinhos. Não há um Burro ou uma Princesa Fiona aqui. O mais frustrante é que os personagens de “Kung Fu Panda” são bacanas, cada um representando uma modalidade do kung fu (tigre, louva-Deus, macaco etc.). E se pensarmos no elenco estelar que foi contratado para dublá-los, é ainda mais inacreditável que esses personagens tenham sido tão subaproveitados (Jackie Chan, por exemplo, tem duas ou três falas, e nenhuma é marcante). A impressão é que uma eventual batalha conjunta com todos eles ficou guardada para uma continuação (se não me engano, há planos para uma série de TV).

    Apesar de não conseguir conferir a DreamWorks o mesmo prestígio que a Pixar ou a Aardman conquistaram ao longo dos anos, "Kung Fu Panda" certamente é superior aos esforços anteriores do estúdio pós-"Shrek 2" (até agora, talvez o seu melhor filme). Se a história não ajuda muito, ao menos é um longa muito bonito de se ver, com um design de produção belíssimo, e que faz jus ao uso da tela larga.

    nota: 6/10 -- vale o ingresso

    Kung Fu Panda (2008, EUA)
    direção: Mark Osborne e John Stevenson; com vozes de: Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Ian McShane, Jackie Chan, Jackie Chan, Lucy Liu, David Cross, Randall Duk Kim, James Hong, Dan Fogler, Michael Clarke Duncan; roteiro: Jonathan Aibel, Glenn Berger; produção: Melissa Cobb; fotografia: Yong Duk Jhun; montagem: Clare De Chenu; música: John Powell, Hans Zimmer; estúdio: DreamWorks Animation, Pacific Data Images; distribuição: Paramount Pictures. 92 min

    4 comentários:

    Anônimo disse...

    o filme é apenas corretinho, bem parecido com A Era do Gelo, sem uma história muito bem desenvolvida, mas que rende bons frutos. Aliás, isso parece ser constante na Dreamworks, que, exceto por Shrek, pretere a história por um visual mais arrebatador e situações cômicas bem pontuadas... Eles aprendem com a Pixar um dia!

    Anônimo disse...

    Eu gostei do filme, mas não achei a oitava maravilha em animação. Vale deixar registrado que eu não gosto do Shrek. Então...
    Mas eu achei Kung Fu Panda, como vc disse, esteticamente legal, de bom gosto. Me agradaram as cenas de ação com o mestre - que foi o personagem que gostei mais. Mas realmente deu pra sentir falta dos outros personagens que apareceram muito, muito pouco. Uma pena.
    Enfim... acho que a garotada gostou e no fim, o "cunho filosófico" do filme é até bacana: vc é quem vc é e se acreditar, vc é o escolhido. Se o pandinha tomasse a pílula azul - ou vermelha - de Matrix, seria divertidíssimo!
    Beijos!

    Anônimo disse...

    Mas, você não tinha gostado de Os Sem-Floresta?

    Anônimo disse...

    Acabei de ver, Renato.
    E... gostei... achei visualmente belissimo... e tem um tom de deboche, de não levar a sério toda a sisuda tradição dos mestres e sua cerimonia com as tradições, sapiencia incontestável, etc...

    Enfim achei bem gostoso de ver, embora não tenham evitado o velho clixezão do inexperiente e improvavel heroi que "surpreendentemente", acaba realizando o feito para o qual era destinado (isso já ta meio cansativo, mas... Romeu e Julieta vem há anos sendo filmado e refilmado sob inúmeras "mascaras" mas mesmo assim ainda emociona, as vzs :>) ).

    É isso... até...

    xlucas

     
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