Todo ano, desde “Cidade de Deus”, temos ao menos dois lançamentos nos cinemas sobre a vida na periferia, a guerra do tráfico etc.etc.etc. Praticamente, criou-se um subgênero de filmes de favela. E o que começou sendo uma abordagem social relevante, hoje parece não ter mais o que render. Ainda que filmes como “Cidade dos Homens” e “Querô” sejam bem feitos, convenhamos: eles não dizem nada que já não sabemos. Apenas cumprem a função de nos lembrar dos problemas sociais que nos cercam.
Quando surge uma oportunidade como essa de “Maré, Nossa História de Amor”, era de se esperar que a idéia rendesse algo muito mais criativo. Um musical na favela é um conceito muito bom. Imagine se, ao invés de tiroteios ou cenas de tortura, tivéssemos traficantes numa coreografia, cantando sobre a vida no morro? Seria genial, mas nas mãos certas. E o dono dessas mãos certamente não é Lúcia Murat.
Ainda que a diretora do irregular “Quase Dois Irmãos” crie dois ou três momentos que explorem o potencial escondido do filme (um deles com a música “Minha Alma”, do Rappa), na maior parte do tempo ela se concentra em criar números musicais que mais parecem videoclipes inseridos numa história que poderia gerar algum debate sobre preconceito e racismo – que é, aliás, o cerne de “Romeu e Julieta”, a peça de Shakespeare na qual o filme é livremente inspirado. Acaba que Murat chega mais perto de algo como “Ela Dança, Eu Danço” do que de um (superestimado) clássico como “Amor, Sublime Amor” – ambos, também, versões livres de “Romeu e Julieta”.
Mas a parte musical não é o que estraga “Maré” (ainda que ver e ouvir Marisa Orth cantando “Ciranda, Cirandinha” em ritmo de hip hop colabore para isso). A direção de Murat, feita às canhas, leva tudo por terra no terceiro ato, quando até mesmo a música é deixada de lado e uma série de situações forçadas parecem surgir do nada, apenas para chegar a um desfecho semelhante ao de Shakespeare. Personagens trocam de lado sem mais nem menos, outros são abandonados no meio do caminho, tudo quando o roteiro (co-escrito por Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, o livro) pede.
Infelizmente, ao assistirmos a “Maré”, nos vemos diante daquele velho paradoxo de uma boa idéia mal desenvolvida.
Quando surge uma oportunidade como essa de “Maré, Nossa História de Amor”, era de se esperar que a idéia rendesse algo muito mais criativo. Um musical na favela é um conceito muito bom. Imagine se, ao invés de tiroteios ou cenas de tortura, tivéssemos traficantes numa coreografia, cantando sobre a vida no morro? Seria genial, mas nas mãos certas. E o dono dessas mãos certamente não é Lúcia Murat.
Ainda que a diretora do irregular “Quase Dois Irmãos” crie dois ou três momentos que explorem o potencial escondido do filme (um deles com a música “Minha Alma”, do Rappa), na maior parte do tempo ela se concentra em criar números musicais que mais parecem videoclipes inseridos numa história que poderia gerar algum debate sobre preconceito e racismo – que é, aliás, o cerne de “Romeu e Julieta”, a peça de Shakespeare na qual o filme é livremente inspirado. Acaba que Murat chega mais perto de algo como “Ela Dança, Eu Danço” do que de um (superestimado) clássico como “Amor, Sublime Amor” – ambos, também, versões livres de “Romeu e Julieta”.
Mas a parte musical não é o que estraga “Maré” (ainda que ver e ouvir Marisa Orth cantando “Ciranda, Cirandinha” em ritmo de hip hop colabore para isso). A direção de Murat, feita às canhas, leva tudo por terra no terceiro ato, quando até mesmo a música é deixada de lado e uma série de situações forçadas parecem surgir do nada, apenas para chegar a um desfecho semelhante ao de Shakespeare. Personagens trocam de lado sem mais nem menos, outros são abandonados no meio do caminho, tudo quando o roteiro (co-escrito por Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, o livro) pede.
Infelizmente, ao assistirmos a “Maré”, nos vemos diante daquele velho paradoxo de uma boa idéia mal desenvolvida.
nota: 3/10 -- veja sem pressa
Maré, Nossa História de Amor (2008, Brasil/França/Uruguai)
direção: Lúcia Murat; com: Cristina Lago, Vinícius D'Black, Marisa Orth, Babu Santana, Jefchander Lucas, Anjo Lopes, Elisa Lucinda, Malu Galli, Flavio Bauraqui; roteiro: Lúcia Murat, Paulo Lins; produção: Lúcia Murat; fotografia: Lúcio Kodato; montagem: Julia Murat, Mair Tavares; música: Fernando Moura, Marcos Suzano; estúdio: Taiga Filmes; distribuição: Filmes do Estação. 104 min
direção: Lúcia Murat; com: Cristina Lago, Vinícius D'Black, Marisa Orth, Babu Santana, Jefchander Lucas, Anjo Lopes, Elisa Lucinda, Malu Galli, Flavio Bauraqui; roteiro: Lúcia Murat, Paulo Lins; produção: Lúcia Murat; fotografia: Lúcio Kodato; montagem: Julia Murat, Mair Tavares; música: Fernando Moura, Marcos Suzano; estúdio: Taiga Filmes; distribuição: Filmes do Estação. 104 min
3 comentários:
Assino embaixo dessa crítica.
De fato... Os meninos são até bons atores, mas como faz falta uma boa direção de elenco!
Filme ridículo, o Renato foi até generoso, eu dava um 0 na hora. Não existe uma cena sequer que funciona, apenas mensagens mastigadas com cenas constrangedoras (o que é aquele tiroteio no final, meu Deus?!?!). Um nojo, o pior filme do ano até agora
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