Assim como tudo em Hollywood, as animações computadorizadas não escapam de sofrer do “mal das tendências”: em um curto espaço de tempo, sempre surgem dois ou três filmes protagonizados por insetos ou peixes ou bichos de zoológico ou ratos ou pingüins. A Sony Pictures Animation ainda não nos apresentou um projeto original sequer, já que estreou no ano passado com “O Bicho Vai Pegar”, lançado com uma diferença de meses dos similares “Selvagem”, da Disney, e “Os Sem-Floresta”, da DreamWorks. Agora, o estúdio traz “Tá Dando Onda”, que tira proveito do sucesso feito pelas nobres aves habitantes dos extremos de nosso planeta em filmes como “Madagascar” (DW) e “Happy Feet” (Warner).
Felizmente, os diretores Ash Brannon (“Toy Story 2”) e Chris Buck (“Tarzan”), juntamente com os roteiristas Christopher Jenkins e Don Rhymer, não se limitaram a fazer só mais um “desenho de pingüins”. “Tá Dando Onda” é uma grata surpresa, que consegue escapar de pé do tubo formado pela gigantesca onda de animações com bichos falantes que vem inundando nossos cinemas já há alguns anos (prometo não fazer mais trocadilhos com termos de surfe!).
Apesar de sua história não ser das mais originais (e de seu desfecho acabar se tornando previsível para o espectador mais assíduo às salas de cinema), “Tá Dando Onda” se destaca principalmente por seu trabalho de câmera – algo raro em animações – que durante o filme inteiro dá ao público a sensação de se estar assistindo a um documentário. Para quem gosta do gênero mockumentary (“This Is Spinal Tap”, de Rob Reiner, e “Poucas e Boas”, de Woody Allen, são ótimos exemplares), o estilo do filme não será estranho. Os diretores usam até mesmo filtro na imagem para deixá-la granulada na maior parte do longa (sendo mais visível nas cenas escuras), dando a impressão de que “filmaram” em 16mm. E para dar ainda mais veracidade ao “registro documental”, a iluminação é usada de maneira genial em determinadas ocasiões, como na cena em que um personagem é seguido pela equipe de filmagem em uma floresta à noite e o único foco de luz vem da lâmpada da câmera.
O único problema de “Tá Dando Onda” enquanto mockumentary é que o filme trai o próprio gênero em algumas ocasiões, nas quais a câmera não devia estar presente, já que seria improvável seu registro pela equipe (ex.: Maverick nadando para alcançar a baleia em alto mar; Z entrando em sua antiga barraca; Maverick inconsciente no fundo do mar). Não que isso atrapalhe muito, pois acontece em função do desenrolar dramático da história, mas foge um pouco da proposta, já que a idéia de um mockumentary é justamente fazer o espectador acreditar em uma mentira muito bem contada, algo que essas distrações não permitem, juntamente com o próprio fato de se tratar de uma animação que dispensa o fotorrealismo de “Happy Feet”.
Mesmo com seus problemas, “Tá Dando Onda” cativa com seus personagens carismáticos, especialmente João Frango e os pingüins filhotes. O vilão é um estereótipo que não se desenvolve e Z faz o papel do “Mestre Miyagi” da vez, mas nem por isso os dois incomodam.
A Sony apresenta melhoras significativas em seu segundo filme solo (“A Casa Monstro” é uma co-produção com a companhia de Robert Zemeckis, vale lembrar) e demonstra ter um futuro promissor. Ainda não chegou perto de ser uma Pixar, mas já pode ser comparada a uma DreamWorks sem constrangimentos.
nota: 7/10 -- vale o ingresso
Tá Dando Onda (Surf’s Up, 2007, EUA)
direção: Ash Brannon, Chris Buck; com vozes de: Shia LaBeouf, Jeff Bridges, Zooey Deschanel, Jon Heder, James Woods, Diedrich Bader, Mario Cantone; roteiro: Ash Brannon, Chris Buck, Don Rhymer, Christopher Jenkins; produção: Christopher Jenkins; música: Mychael Danna; fotografia: Andres Martinez; montagem: Ivan Bilancio, Nancy Frazen; estúdio: Sony Pictures. 85 min
3 comentários:
Gosto de ver filmes voltados para o público infantil. Alguns deles conseguem ser muito melhores que muitas produções hollywoodianas para os adultos. Enfim, assim que tiver tempo, verei.
Realmente, podemos notar uma certa tendência na concepção das histórias. Para o público em geral, isso acaba se tornando confuso, pois algumas referências são perdidas. Por exemplo:
"você assistiu aquele filme do pinguim?" ---
"Qual? o do dançarino? ---
"Não, aquele do surfe!"
Enfim, causa um certo conflito, consequentemente, o registro se perde em meio a "maré" de lançamentos...
Me pergunto se filmes com o estilo de A Nova Onda do Imperador seriam potenciais concorrentes a essa superprodução em larga escala de animações tridimensionais.
Daqui a pouco vão surgir animações de átomos, prótons....o mundo invisivel saco!? rsrsrsr
Mas é que se pensarmos, animações se tornaram diversão absoluta...
Não voltando muito tempo, mas O Rei Leão...é um filme cheio de simbolos, com toques técnicos adequados...roteiro, enfim!
Hoje em dia, basta personagens bem desenhados...que falam engraçado, fazem caras e bocas! É isso que está nos cinemas...
Se Ta dando onda já foi um pouco além da fórmula, realmente já vale o ingresso!
Abraço!
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