É difícil ver um cineasta ser tão sincero e se abrir tanto para o público como João Moreira Salles em “Santiago”. Trata-se de um filme revelador, não só sobre a figura do mordomo Santiago, que trabalhou para a família Salles durante boa parte da vida do diretor e seus irmãos, mas ainda mais sobre o próprio documentarista, que faz aqui uma reflexão sobre a memória, a passagem do tempo e seu método de trabalho.
“Santiago” é um filme que se constrói e se desconstrói na montagem. Salles resgata cenas que filmou em 1992, quando o documentário seria outro, e recria o longa mais de uma década depois com o olhar de um cineasta mais maduro. Assim, ele acaba por fazer um estudo auto-crítico sobre a relação entre o documentarista e o personagem: o modo um tanto arrogante com que dirige Santiago, o personagem, cria uma nova relação entre ele e aquela figura que por anos fez parte de sua vida familiar.
Para mostrar o quanto sua postura prejudicou a finalização do filme na época, Salles nos revela o quanto foi rígido na composição dos enquadramentos (segundo ele, muito do filme pretendido foi inspirado no cinema de Yasujiro Ozu, e podemos ver isso na tela). Ele também não esconde como forçou a encenação dos depoimentos de Santiago, pedindo a ele para repetir inúmeras vezes vários takes, sem demonstrar qualquer consideração afetuosa por aquela pessoa outrora tão próxima.
“Santiago” também é um documentário-artístico, já que o inconfundível preto-e-branco da fotografia de Walter Carvalho trata de conferir às imagens uma textura fantasmagórica e um estilo distinto dentro do que se costuma fazer no gênero. Nesse sentido, também corroboram as inserções de cenas abstratas dos móveis da casa, das folhas na piscina ou ainda a dança das mãos de Santiago.
Na tentativa de reparar os erros cometidos no passado (não que precisasse, pois já provou que sabe muito bem o que está e o que não está na cartilha em “Notícias de uma Guerra Particular”, “Nelson Freire” e “Entreatos”), Salles cria algo novo e duplamente gratificante. Ele presta uma homenagem singular à memória de Santiago, eternizando sua peculiar personalidade em filme, e ainda oferece ao público uma instigante análise da linguagem documental e sua importância. Afinal, tal como o mordomo fazia com os personagens históricos presentes em suas inúmeras anotações colecionadas ao longo da vida, sem esse registro feito pelo diretor não saberíamos quem foi Santiago. O que move o interesse do espectador pelo filme é o interesse em conhecer o outro – justamente o que faltou a Salles em seu projeto original.
“Santiago” é um filme que se constrói e se desconstrói na montagem. Salles resgata cenas que filmou em 1992, quando o documentário seria outro, e recria o longa mais de uma década depois com o olhar de um cineasta mais maduro. Assim, ele acaba por fazer um estudo auto-crítico sobre a relação entre o documentarista e o personagem: o modo um tanto arrogante com que dirige Santiago, o personagem, cria uma nova relação entre ele e aquela figura que por anos fez parte de sua vida familiar.
Para mostrar o quanto sua postura prejudicou a finalização do filme na época, Salles nos revela o quanto foi rígido na composição dos enquadramentos (segundo ele, muito do filme pretendido foi inspirado no cinema de Yasujiro Ozu, e podemos ver isso na tela). Ele também não esconde como forçou a encenação dos depoimentos de Santiago, pedindo a ele para repetir inúmeras vezes vários takes, sem demonstrar qualquer consideração afetuosa por aquela pessoa outrora tão próxima.
“Santiago” também é um documentário-artístico, já que o inconfundível preto-e-branco da fotografia de Walter Carvalho trata de conferir às imagens uma textura fantasmagórica e um estilo distinto dentro do que se costuma fazer no gênero. Nesse sentido, também corroboram as inserções de cenas abstratas dos móveis da casa, das folhas na piscina ou ainda a dança das mãos de Santiago.
Na tentativa de reparar os erros cometidos no passado (não que precisasse, pois já provou que sabe muito bem o que está e o que não está na cartilha em “Notícias de uma Guerra Particular”, “Nelson Freire” e “Entreatos”), Salles cria algo novo e duplamente gratificante. Ele presta uma homenagem singular à memória de Santiago, eternizando sua peculiar personalidade em filme, e ainda oferece ao público uma instigante análise da linguagem documental e sua importância. Afinal, tal como o mordomo fazia com os personagens históricos presentes em suas inúmeras anotações colecionadas ao longo da vida, sem esse registro feito pelo diretor não saberíamos quem foi Santiago. O que move o interesse do espectador pelo filme é o interesse em conhecer o outro – justamente o que faltou a Salles em seu projeto original.
nota: 9/10 -- veja no cinema e compre o DVD
Santiago (2007, Brasil)
direção: João Moreira Salles; roteiro: João Moreira Salles; fotografia: Walter Carvalho; montagem: Eduardo Escorel, Lívia Serpa; estúdio: VideoFilmes; distribuição: VideoFilmes. 79 min
direção: João Moreira Salles; roteiro: João Moreira Salles; fotografia: Walter Carvalho; montagem: Eduardo Escorel, Lívia Serpa; estúdio: VideoFilmes; distribuição: VideoFilmes. 79 min
4 comentários:
Eu gosto muito do Salles, esse está na minha lista com absoluta certeza. Aliás, excelente texto. Abraço!
Também está na minha lista. O cara faz do documentário brasileiro um gênero em ascensão e busca sempre revigorá-lo.
não consegui ver este filme até agora, droga ¬¬
to vendo que eu vou ter que esperar sair em DVD mesmo
Eu adorei esse documentário. Achei de uma sensibilidade incrível.
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