E Scorsese criou Nova York...
Ouvi um comentário sobre “Gangues de Nova York” esses dias que, tenho certeza, ouvirei várias vezes até o dia 23 de março: “Esse filme vai ser o papa-tudo do Oscar, só porque fala sobre a criação de Nova York e dos Estados Unidos”. De fato, o novo trabalho de Martin Scorsese é um tratado histórico sobre a construção social de uma das cidades em maior evidência no mundo. E, sim, é também um filme nacionalista.
Antes, porém, de condenar a produção por esse último aspecto, é preciso dizer que o nacionalismo presente no filme é necessário e, acima de tudo, é honesto (ao contrário do que acontece em "Falcão Negro em Perigo", para citar um exemplo recente). Scorsese é um diretor conhecido por ter filmado Nova York várias vezes durante sua carreira, entregando, com isso, obras memoráveis como "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros". Por várias vezes sua visão crítica denuncia a podridão da Big Apple. Mas, ora, Scorsese também é um cidadão e, nesta posição, quer que seus filmes apresentem algo construtivo para a formação de sua cidade e de seu país (não me sai da cabeça a cena em que uma bandeira americana é enquadrada e se pode ler “Cuidado com a influência estrangeira”. Irônico, não?).
"Gangues" é um sonho antigo do cineasta. Dizer que o filme foi feito em função do orgulho ferido do povo norte-americano é uma injustiça (certamente, se realizado anos antes, o filme não seria vítima desse tipo de ataque). De qualquer forma, devido a motivos políticos, acredito, foi inevitável que estilhaços dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 não atingissem o filme. E o último plano de "Gangues de Nova York" é a prova inconteste disso.
Mesmo intencionando abordar a História (os episódios narrados no filme nunca haviam sido enfocados dessa forma), Scorsese se viu limitado às regras de marketing do produtor Harvey Weinstein e da Miramax Films para ter seu filme finalmente lançado. Parece que se perdeu muito no processo de montagem e, assim, como espectador brasileiro, assistir a "Gangues" pode acabar sendo um aprendizado mais cinematográfico, graças ao talento do diretor, do que histórico.
Acho que podemos dividir o filme em três temas principais: a história dos Estados Unidos; a história das gangues; e a história da vingança de Amsterdam (Leonardo DiCaprio). O longa tem cerca de 2 horas e 40 minutos de duração. Alguns podem achar muito, mas a verdade é que pelo menos umas quatro horas seriam necessárias para desdobrar esses três temas de forma satisfatória. Sente-se um pouco de confusão no filme quando ocorre a mudança de um tema para outro. Num momento estamos vendo cidadãos sendo obrigados a se alistarem para a Guerra Civil e, de repente, Amsterdam descobre que sua recente paixão (Cameron Diaz) possui um passado com o assassino de seu pai, o nativista Bill “Açougueiro” (Daniel Day-Lewis). Teoricamente, utilizar um pano de fundo histórico funcionaria para narrar a vingança de Amsterdam, mas o problema é que esse fundo histórico acaba se demonstrando mais interessante do que os propósitos pessoais do protagonista. Isso sem falar na própria história das gangues, que, particularmente, chamou-me muito mais a atenção.
Aqueles que acompanharam o processo de pós-produção de "Gangues de Nova York" afirmam que a “versão do diretor” é infinitamente superior à versão que foi para os cinemas. Pode ser que Scorsese lance uma nova versão em DVD no futuro, embora ele mesmo tenha dito que o filme do cinema é sua versão definitiva. Bom, mas se temos que nos contentar com o que está nas telas hoje, então o que posso dizer é que se trata de um ótimo filme, muito bem fotografado e dirigido (as marcas de Scorsese, que inclusive faz uma ponta, podem ser percebidas durante toda a projeção). De quebra, traz ainda uma atuação soberba de Daniel Day-Lewis – o que era de se esperar, já que Scorsese também é um exímio diretor de atores. Uma pena que a demasiada ênfase no personagem de Leonardo DiCaprio ofusque o potencial brilhantismo da obra. Mesmo assim, o novo trabalho do cineasta ainda merece muitos elogios.
Antes, porém, de condenar a produção por esse último aspecto, é preciso dizer que o nacionalismo presente no filme é necessário e, acima de tudo, é honesto (ao contrário do que acontece em "Falcão Negro em Perigo", para citar um exemplo recente). Scorsese é um diretor conhecido por ter filmado Nova York várias vezes durante sua carreira, entregando, com isso, obras memoráveis como "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros". Por várias vezes sua visão crítica denuncia a podridão da Big Apple. Mas, ora, Scorsese também é um cidadão e, nesta posição, quer que seus filmes apresentem algo construtivo para a formação de sua cidade e de seu país (não me sai da cabeça a cena em que uma bandeira americana é enquadrada e se pode ler “Cuidado com a influência estrangeira”. Irônico, não?).
"Gangues" é um sonho antigo do cineasta. Dizer que o filme foi feito em função do orgulho ferido do povo norte-americano é uma injustiça (certamente, se realizado anos antes, o filme não seria vítima desse tipo de ataque). De qualquer forma, devido a motivos políticos, acredito, foi inevitável que estilhaços dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 não atingissem o filme. E o último plano de "Gangues de Nova York" é a prova inconteste disso.
Mesmo intencionando abordar a História (os episódios narrados no filme nunca haviam sido enfocados dessa forma), Scorsese se viu limitado às regras de marketing do produtor Harvey Weinstein e da Miramax Films para ter seu filme finalmente lançado. Parece que se perdeu muito no processo de montagem e, assim, como espectador brasileiro, assistir a "Gangues" pode acabar sendo um aprendizado mais cinematográfico, graças ao talento do diretor, do que histórico.
Acho que podemos dividir o filme em três temas principais: a história dos Estados Unidos; a história das gangues; e a história da vingança de Amsterdam (Leonardo DiCaprio). O longa tem cerca de 2 horas e 40 minutos de duração. Alguns podem achar muito, mas a verdade é que pelo menos umas quatro horas seriam necessárias para desdobrar esses três temas de forma satisfatória. Sente-se um pouco de confusão no filme quando ocorre a mudança de um tema para outro. Num momento estamos vendo cidadãos sendo obrigados a se alistarem para a Guerra Civil e, de repente, Amsterdam descobre que sua recente paixão (Cameron Diaz) possui um passado com o assassino de seu pai, o nativista Bill “Açougueiro” (Daniel Day-Lewis). Teoricamente, utilizar um pano de fundo histórico funcionaria para narrar a vingança de Amsterdam, mas o problema é que esse fundo histórico acaba se demonstrando mais interessante do que os propósitos pessoais do protagonista. Isso sem falar na própria história das gangues, que, particularmente, chamou-me muito mais a atenção.
Aqueles que acompanharam o processo de pós-produção de "Gangues de Nova York" afirmam que a “versão do diretor” é infinitamente superior à versão que foi para os cinemas. Pode ser que Scorsese lance uma nova versão em DVD no futuro, embora ele mesmo tenha dito que o filme do cinema é sua versão definitiva. Bom, mas se temos que nos contentar com o que está nas telas hoje, então o que posso dizer é que se trata de um ótimo filme, muito bem fotografado e dirigido (as marcas de Scorsese, que inclusive faz uma ponta, podem ser percebidas durante toda a projeção). De quebra, traz ainda uma atuação soberba de Daniel Day-Lewis – o que era de se esperar, já que Scorsese também é um exímio diretor de atores. Uma pena que a demasiada ênfase no personagem de Leonardo DiCaprio ofusque o potencial brilhantismo da obra. Mesmo assim, o novo trabalho do cineasta ainda merece muitos elogios.
nota: 7/10 -- vale o ingresso
Gangues de Nova York (Gangs of New York, 2002, EUA)
direção: Martin Scorsese; roteiro: Jay Cocks, Steven Zaillian, Kenneth Lonergan; fotografia: Michael Ballhaus; montagem: Thelma Schoonmaker; música: Howard Shore; produção: Alberto Grimaldi, Harvey Weinstein; com: Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewis, Cameron Diaz, Jim Broadbent, John C. Reilly, Henry Thomas, Liam Neeson, Brendan Gleeson, Gary Lewis; estúdio: Miramax Films, Initial Entertainment Group; distribuição: Sony Pictures. 167 min
direção: Martin Scorsese; roteiro: Jay Cocks, Steven Zaillian, Kenneth Lonergan; fotografia: Michael Ballhaus; montagem: Thelma Schoonmaker; música: Howard Shore; produção: Alberto Grimaldi, Harvey Weinstein; com: Leonardo DiCaprio, Daniel Day-Lewis, Cameron Diaz, Jim Broadbent, John C. Reilly, Henry Thomas, Liam Neeson, Brendan Gleeson, Gary Lewis; estúdio: Miramax Films, Initial Entertainment Group; distribuição: Sony Pictures. 167 min
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