Meia-Noite em Paris

por
  • RENATO SILVEIRA em
  • 11 julho 2011



  • Woody Allen pode ter revelado em "Meia-Noite em Paris" o segredo de sua intensa e aparentemente infidável produtividade. Com um filme novo do cineasta chegando às telas a cada ano, grande parte de boa qualidade e nenhum realmente ruim, o espectador pode se perguntar: "Mas como ele faz para manter esse ritmo?" Suponha que, como o personagem de Owen Wilson, Allen busque inspiração nos grandes artistas que o influenciam. Uma busca que parte não apenas da revisão, do estudo e da reflexão sobre as obras desses mestres, mas do convívio prosaico com essas referências.

    Como em todo filme de Allen, mesmo aqueles em que ele não atua, em "Meia-Noite em Paris" podemos enxergar claramente o cineasta. Não apenas nos trejeitos físicos e na inflexão ansiosa da fala de Allen, que Owen Wilson naturalmente incorpora como todo ator principal dos filmes do diretor, mas também, e principalmente, nos temas que ele aborda.

    A premissa básica é a de um roteirista de cinema prestes a se casar, cuja crise criativa evolui para uma crise existencial e conjugal. A noiva nervosa é interpretada por Rachel McAdams e ela está claramente mais interessada no "especialismo generalista" do ex-pretendente (Michael Sheen) do que no drama vivido por seu atual companheiro. E é novamente visitando a fábula, tal como fez em filmes como "A Rosa Púrpura do Cairo", "Desconstruindo Harry" e "O Escorpião de Jade", que Allen se inscreve em "Meia-Noite em Paris", levando seu protagonista a uma realidade fantástica que é a alegoria perfeita para todos aqueles que têm a arte ou a criatividade como profissão.

    O diálogo do artista com suas influências sempre existe e é fundamental para o progresso de seu trabalho. E o segredo de Allen pode muito bem ser esse: ele enxerga seus mestres não no topo de uma montanha acima das nuvens, mas na mesa de um restaurante onde ele pode se sentar e trocar ideias com eles.

    Ao embarcar nessa ingênua e, ainda assim, perspicaz fantasia (que nos anos 70 e 80 já foi natural à hoje automatizada Hollywood, salvo raras exceções), Allen e o público se deliciam numa comédia inteligente (e não "intelectual", como muitos gostam de rotular a obra do cineasta), que ainda dá de presente à Cidade das Luzes uma divertida lenda que potencializa ainda mais seu ar mítico de ágora cultural.

    Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011, Espanha/EUA)
    direção: Woody Allen; roteiro: Woody Allen; fotografia: Darius Khondji, Johanne Debas; montagem: Alisa Lepselter; produção: Letty Aronson, Jaume Roures, Stephen Tenenbaum; com: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Mimi Kennedy, Michael Sheen, Nina Arianda, Carla Bruni, Yves Heck, Alison Pill, Corey Stoll, Tom Hiddleston, Sonia Rolland, Kathy Bates, Marion Cotillard, Léa Seydoux, Adrien Brody, Adrien de Van, David Lowe; estúdio: Gravier Productions, Mediapro, TV3, Versátil Cinema; distribuição: Paris Filmes. 94 min

    2 comentários:

    Raquel disse...

    Adorei sua crítica e estou curiosa para assistir logo o filme! Suas palavras aguçaram minha curiosidade! :)

    Alini Farias disse...

    filme inteligente (como dito na crítica) não precisa ser explicado em diálogos

     
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